Crítica: A Queda (2022)

Às vezes, alguns filmes nos conquistam porque temos a impressão de que eles são muito ruins, mas nos surpreendemos com uma ideia razoavelmente bem-executada. A Queda, filme de baixo orçamento de Scott Mann (de Refém do Jogo, disponível na Netflix) é um exemplo. Eu pensei que se tratasse de um filme muito ruim, mas pode ser uma boa diversão para o fim de semana.

O filme começa com três alpinistas (um casal hetero e uma amiga) escalando uma montanha. As coisas saem do controle e uma tragédia acontece, o que causa um grande trauma. Lembra o início de Limite Vertical, filme de Martin Campbell lançado em 2000. Um ano depois do ocorrido, as duas amigas, Becky (Grace Caroline Currey, de Shazam!) e Hunter (Virginia Gardner, da série Runaways) decidem escalar uma torre de TV abandonada. Que bela ideia, não é mesmo?

A tensão começa com a subida das garotas, mas o problema aparece mesmo quando elas ficam isoladas no alto da torre sem a possibilidade de pedir ajuda. É algo que parece improvável, mas quando percebemos que se trata de uma região isolada e de 600 metros de torre, temos que admitir que faz sentido.

A vontade de sobreviver é grande e as alpinistas são colocadas à prova o tempo todo. Sempre que, aparentemente, elas vão conseguir pedir ajuda, surge um novo obstáculo. Além das limitações físicas e das adversidades da natureza, o isolamento com uma pessoa é algo capaz de trazer o pior lado do comportamento humano. Em situações de limite, é normal algumas confissões surgirem e a reação aos segredos de pessoas que amamos pode ser algo totalmente inesperado. 

Por ser um filme simples e que, durante a maior parte do tempo, conta com apenas dois personagens em tela, as atrizes carregam um grande peso nas costas para manter o ritmo da história. Tudo isso exige uma preparação de elenco competente e, mais do que isso, uma química entre as atrizes. Felizmente, elas dão conta do recado e entregam performances coerentes com a narrativa, apesar de passarem por alguns momentos com diálogos fora do lugar.

A experiência de ver A Queda no cinema pode ser algo além do esperado. Para quem tem medo de altura, angústia será um sentimento presente, mas para quem, assim como o Tom Cruise, não se sente intimidado nas alturas, a angústia dá lugar à diversão.

O pecado de A Queda é contar com alguns absurdos para contar a sua história. Considerando que a torre que as alpinistas escalam está abandonada e a sua composição pode estar comprometida, faria sentido a queda de parte da estrutura. Uma cena em especial deixa evidente a incoerência do recurso. É o momento em que a gente percebe que, para desfrutar do filme, é melhor abandonar a exigência de verossimilhança.

O nome de Jeffrey Dean Morgan, o John Winchester da série Supernatural, é uma ferramenta de divulgação do filme, mas o ator aparece em duas cenas, porém suas aparições dão sentido à história e são justificadas de maneira satisfatória.A Queda é distribuído pela Paris Filmes e uma das surpresas positivas do ano. Não vai marcar o espectador, mas vai diverti-lo e essa é uma das missões do cinema.