Crítica: A Mãe (2022)

Todos os anos, alguns filmes são pré-selecionados para representar o Brasil no Oscar e sempre nos deparamos com histórias emocionantes, cada uma à sua própria maneira. Para a edição de 2023 da premiação, tivemos seis histórias marcantes e potentes. Além do escolhido Marte Um, de Gabriel Martins, a pré-seleção contou ainda com Carvão, de Carolina Markowicz, A Viagem de Pedro, de Laís Bodansky, Pacificado, de Paxton Winters, e os dois últimos a chegarem aos cinemas, Paloma, de Marcelo Gomes, e A Mãe, de Cristiano Burlan.

Com interpretação de Marcélia Cartaxo e direção premiados no Festival de Gramado, A Mãe mostra a jornada de Maria, mãe solo de um adolescente e vendedora ambulante que conhece as dificuldades de uma vida pobre, mas que se mantém como pode. Ela se desespera depois de notar o sumiço inexplicado do filho. Negligenciada pela polícia e pelos moradores da periferia onde vive, ela se vê sozinha em busca por respostas e diante de uma realidade que não favorece a sua classe social. De um lado, a polícia não dá voz a ela e do outro, os moradores da periferia querem silenciá-la e, ao mesmo tempo, todas as partes se negam a dar pistas ou respostas.

Maria aceita a sua jornada solitária por respostas e parte em busca do filho, ciente da violência que cerca a sua região e da probabilidade de não encontrar exatamente o que gostaria. Apesar dos perigos que encontra, a fúria de uma mãe sedenta de respostas é implacável e Maria encara a população e a polícia militar sem abaixar a cabeça e deixando claro o que quer.

Cada vez que a realidade distante daquela mostrada nas novelas do Manoel Carlos é exposta nas telas, o choque por parte do público centrado nos dramas da população de classe média ou alta fica evidente. A vida de Maria é pautada pela precariedade e pelo esforço não somente físico, mas também o de criar sozinha um filho estando tão perto dos perigos oferecidos todos os dias pelo tráfico de drogas e pela violência policial.

O cineasta Cristiano Burlan, já acostumado a retratar a dor do luto nas telas, vide a sua Trilogia do Luto (Construção, de 2007, sobre a morte de seu pai; Mataram Meu Irmão, de 2013; Elegia de um Crime, de 2018, sobre o assassinato de sua mãe), consegue entregar uma direção firme que flerta com o suspense, mas que não perde a essência do drama maternal. Prestando um serviço à sociedade, o filme de Burlan mostra também o movimento Mães de Maio e sua atuação nas periferias.

Marcélia Cartaxo (de A Hora da Estrela) mostra por que é um dos grandes nomes do cinema nacional e entrega um trabalho primoroso. Ela entrega toda a dor de Maria nas telas e consegue transitar pelos sentimentos da personagem com tranquilidade. Ansiedade, preocupação, raiva e desconfiança passam pelo seu olhar. O jovem Dunstin Farias, no papel de Valdo, atinge também a ambiguidade necessária para a apresentação do personagem e se torna um retrato do jovem branco da periferia que não quer levar desaforo para casa, mas que, ao mesmo tempo, se nega a perceber a dura realidade das ruas.

Imagem: Cup Filmes

A Mãe será lançado no Brasil pela Cup Filmes, e codistribuído pela Spcine, Secretaria Municipal de Cultura São Paulo. A estreia é nesta quinta-feira, dia 10 de novembro, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Brasília, Belo Horizonte, João Pessoa, Florianópolis, Aracaju, Palmas, Vitória, Recife, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Santos e Niterói. Outros filmes de Cristiano Burlan estão disponíveis para locação na plataforma Embaúba Play.