Crítica: A Felicidade das Pequenas Coisas (2019)

Em uma época em que o Oscar passa por questionamentos e, a cada edição, busca alternativas para manter (ou aumentar) a audiência, às vezes, nos perguntamos se o intuito ainda é premiar os melhores. Com isso em mente, a categoria Melhor Filme Estrangerio (ao lado de Melhor Documentário em curta e em longa-metragem) continua sendo a mais interessante, entre outros motivos, por trazer a cultura, os costumes e o olhar de diversos países. Em 2022, o Butão, país asiático considerado o mais feliz do mundo, passa, pela segunda vez, pela experiência de ter um filme representando o país na categoria. A Felicidade das Pequenas Coisas, do cineasta Pawo Choyning Dorji, está na shortlist do Oscar e emociona trazendo o que o título sugere.

Um jovem professor que tem a intenção de ser um cantor famoso na Austrália é transferido para uma região remota do país, Lunana, que fica no alto das montanhas. O acesso leva dias, tudo é muito escasso, e aos poucos, o docente percebe o quão privilegiada era a vida que levava até então. O que parecia ser o básico pra ele trabalhar (lousa, papel e giz, entre outras coisas) não estava disponível e fica evidente como as crianças e todos os habitantes da cidade precisam não somente de um professor, mas de alguém que se importe de verdade com eles, além de um amigo.

A simplicidade da população, os sonhos dos alunos e o esforço de cada um para fazer com que o jovem professor não apenas fique na região, mas que queira ficar e que seja feliz ao lado deles é tocante. Todo mundo ali tem as suas dificuldades e, a cada revelação, a vontade de abraçar os moradores de Lunana só aumenta.

Cabe também ao espectador questionar o que vale mais a pena: tentar ser mais um na multidão de cantores famosos ao redor do mundo, incluindo a Austrália, ou ser parte ativa e essencial em uma pequena região que é deixada de lado por tantos. Afinal, a felicidade estaria no que é grandioso ou nas pequenas coisas? Aliás, o que torna uma ação grandiosa? 

O roteiro não precisa de malabarismo para cumprir a proposta do filme. A sua simplicidade nos ajuda a captar a mensagem e a mergulhar na realidade pouco lembrada em grandes premiações.

É essa a diferença do filme de Dorji, ele se basta. A história simples e a precariedade da situação mostrada em tela são o suficiente para tocar o espectador e é justamente isso o que a categoria em que ele concorre no Oscar precisa trazer: a realidade e as características do país que ele representa. O longa vai disputar o prêmio com fortes candidatos pela frente Lamb (Islândia), A Mão de Deus (Itália) e Drive My Car (Japão), mas já faz parte da história cinematográfica de Butão, independente do que vier pela frente.

A Felicidade das Pequenas Coisas é um filme simples, mas que transmite com eficiência a sua mensagem e nos lembra que a simplicidade também pode ser grandiosa.

O filme A Copa (1999), de Khyentse Norbu Rimpoche, o primeiro longa a representar o Butão no Oscar, está disponível no streaming Belas Artes à La Carte.