EU SOU UMA DESSAS PESSOAS QUE ESCUTA “DISORDER” E NÃO SOSSEGA. Sacudo a cabeça, bato os pés, faço uma dancinha (de leve). Eu gosto de Joy Division. Eu não sabia nada sobre a história da banda e sempre achei que tinha que comprar “o resto dos discos deles”, já que eu só tinha dois de estúdio e o resto eram shows ao vivo ou EPs. Me chame de doida, mas é que eu não sabia que só existiam esses discos. Eu gostava da música, era só o que importava. Eu nem sequer sabia que os integrantes restantes da banda formaram o New Order, outra banda que eu também gosto! Perdão, eu não sabia o que fazia… ou em que mundo estava.
Pois bem, eis que há uns três anos eu comecei a acompanhar a novela da produção de On The Road (filme que estou aguardando nervosamente) e vi que quem interpretaria Sal Paradise seria Sam Riley. Quem? Fui pesquisar, lógico, como doente por pesquisas que sou. E descobri que ele era relativamente novato e que explodiu na Europa com Control, lançado em 2007 e protagonizado por ele e Samantha Morton, de quem nunca gostei. Resolvi assistir, só agora em 2012, já que queria saber se o rapaz teria calibre para interpretar o alterego de Jack Kerouac. Assisti e fiquei simplesmente boquiaberta. Como é que não vi esse filme antes? Como é que NUNCA atinei para Ian Curtis? ONDE ESTAVA MINHA CABEÇA? Nem os Pixies saberiam me dizer.
Anton Corbijn, o diretor desta beleza, é fotógrafo e cineasta queridinho da indústria musical, autor de vários documentários, ensaios e clipes de bandas como Nirvana, R.E.M., Depeche Mode, Metallica, e U2. Então ele é um holandês doido com Joy Division e que por eles quis se mudar para a Inglaterra para trabalhar como fotógrafo? SIM! O cara TRABALHOU com a banda. Quem melhor que um fã para fazer o filme?
E eis o que percebi da obra de Corbijn: o roqueiro era um rapaz muito jovem que desde o colégio escrevia poemas (na minha opinião, muito bonitos), um pouco taciturno, sensível e amável e que se casou cedo demais, foi pai cedo demais e percebeu isso tarde demais. Curtis sofria de epilepsia e tomava remédios com efeitos colaterais perigosíssimos, já que na década de 80 a medicina não era muito evoluída nessa área. Passava mal e sofria de depressão por conta da medicação e mesmo o álcool sendo contra-indicado, não deixava de encher a cara. Infeliz no casamento, confuso com a paternidade e apaixonado por outra, deu cabo à própria vida quando a banda estava prestes a viajar para os Estados Unidos. Ao acordar após um ataque epilético, enforcou-se com a corda do varal na cozinha, em 1980. Tinha SÓ 23 anos.
A fotografia é obviamente linda. Todo filmado em preto e branco, estilizado, uma obra de arte. A trilha sonora tem David Bowie, Iggy Pop, The Velvet Underground, The Killers e mais um monte de bandas. O roteiro é assinado por Matt Greenhalgh e baseado no livro Touching From a Distance, escrito por Deborah Curtis, viúva do roqueiro e co-produtora. Apesar de Corbijn ter conhecido Curtis e companhia, a obra que baseou o filme é contada do ponto de vista de Deborah. O diretor disse em entrevistas que tentou coletar o máximo possível de informações porque ele queria contar a história de Ian Curtis, não do Joy Division, e foi atrás de todo mundo – inclusive da amante dele, Annik Honoré (que no filme é interpretada por Alexandra Maria Lara).
Todas as performances são ótimas neste filme, especialmente Toby Kebbell como o hilário empresário gente boa e boca-suja Rob Gretton e Sam Riley, que superou minhas expectativas. O cara tem, naturalmente, uma voz rouca e bem peculiar que dá um tom a mais ao personagem. Riley não tem os olhos azuis que Curtis tinha, mas isso é só um detalhe. Ele imita perfeitamente os maneirismos, a voz (sim, ele canta aqui) e até a dança do roqueiro, conhecidíssima por ter sido inspirada nos próprios ataques epiléticos e denominada “eppy dance”. Ian Curtis, através de Sam Riley, se torna todos nós: sentimos as frustrações, a confusão, o sofrimento, a tristeza e a inocência. Mesmo quando ele magoa a esposa por tudo o que faz (é revoltante ver a enrolação que ele aprontou com ela), senti raiva misturada com uma pena terrível. A impressão que fica é a de que ele estava sempre rodeado por pessoas e ao mesmo tempo não tinha ninguém. Terminei o filme com o coração pesado, p*** por mais um gênio da música perdido para o suicídio e para si mesmo. Ele era melancólico porque era doente ou a tristeza era inerente ao seu ser? Difícil saber.
Vivencie a falta de controle. Eu garanto que, se você não gostar, vai ao menos tentar imitar a dança louca no chuveiro.
Título original: Control
Direção: Anton Corbijn
Roteiro: Matt Greenhalgh
Elenco: Sam Riley, Samantha Morton, Alexandra Maria Lara, Joe Anderson, James Anthony Pearson, Harry Treadaway, Craig Parkinson e Toby Kebbell
Lançamento: 2007
Nota: