O Solteirão

(Greenberg) De Noah Baumbach. Com Ben Stiller, Greta Gerwig, Rhys Ifans, Jennifer Jason-Leigh

Sou fã de Noah Baumbach. O diretor underground americano com cara de festival de Sundance, ficou famoso com a indicação ao Oscar de melhor roteiro original com o fantástico (um dos meus top 10 eternos) A Lula e a Baleia – quando perdeu para o fraco Crash – No Limite. Em seguida veio outra delícia/sensível/dramática chamada Margot e o Casamento: Noah dava a Nicole Kidman um papel digno pós Oscar, e explorava interpretações menos humorísticas de Jack Black. E dirigia pela primeira vez sua esposa, a linda e talentosa Jeniffer Jason-Leigh, que junto com ele concebeu o argumento para o recente O Solteirão partindo do mesmo pressuposto de seus longas anteriores: personagens paranóicos, quase sociopatas, que na tentativa de se relacionar, perdem-se em seus próprios erros que no fim das contas são nada mais que reflexos de suas personalidades marcadas por um histórico ou por vivências que os deixaram calejados, ou que lhes fizeram perder a vontade de viver com o outro.

Baumbach é uma mistura de Jim Jarmusch (tem dele aquele niilismo, só que menos radical) com Sofia Coppola (a temática centrada em pessoas que tentam se encontrar num ambiente hostil para aqueles que sequer conhecem a si mesmos), e se seus filmes não transmitem o que se pode chamar de “lição de vida”, ou “moral da história” (ponto em comum com Jarmusch) não há também necessariamente uma redenção: só a vida que segue (ponto em comum com Sofia).

O título original do filme (o nacional é uma tristeza) se refere a Roger Greenberg de Ben Stiller, que está de volta à Los Angeles depois de anos recluso, para cuidar da casa do irmão, que fica poucos minutos em cena, o suficiente para demonstrar a diferença entre ambos: um é bem sucedido na carreira (viaja a trabalho com a família para o Vietnã), o outro do alto de seus 41 anos de idade trabalha como carpinteiro e vive de passado, como se tentasse se reencontrar, o que é impossível, quando não consegue reunir seus antigos companheiros de banda ou reatar com sua antiga namorada (uma participação de Leigh).

Em alguns momentos o filme tenta justificar o comportamento difícil de Roger quando toca em assuntos que teoricamente teriam deixado traumas em sua vida, como o falecimento de sua mãe, que mesmo no leito de morte não teve o apoio de seu irmão Phillip, ou a culpa pelo término da banda, que levou por não ter aceitado os termos de um contrato promissor. Nada disso é aprofundado, já que o que interessa aqui não são as causas, mas sim as conseqüências de tal comportamento. Principalmente quando conhece Florence (Greta Gerwig), que trabalha na casa do irmão de Roger. Uma estranha cena de sexo entre os dois vai pautar o que vai ser visto pelo espectador desta relação: algo desajeitado, meio agressivo e em algumas vezes doloroso.

Não dá pra negar que os personagens de Baumbach guardam certa maldade no caráter. Que dizem palavras que ferem o outro sem o mínimo de peso na consciência. Roger não percebe que Florence o ama, e que a ama também porque está cego. Não consegue ver, por detrás de uma cortina de insucessos, fracassos e perdas que pode ser feliz. Tenta afastar qualquer promessa de felicidade fazendo a única coisa que sabe: sendo arisco, ríspido e até mesmo desumano.

Mas não veremos como já dito no começo deste texto, nenhuma redenção dos personagens. Se existe algum aprendizado com aquelas experiências vistas não cabe ao espectador percebê-las. Fica no âmbito da psiquê dos personagens. E talvez este seja o único problema de O Solteirão: um casal de protagonistas mais carismático resolveria este problema (há notícias que o filme seria estrelado por Mark Ruffalo e Amy Adams), mas não é algo que comprometa totalmente o resultado final. Noah Baumbach continua sendo um diretor a ser mais conhecido. Recomendo.