Eu Queria Ter a Sua Vida



IMAGINEM QUE VOCÊ ESTÁ NUM DAQUELES DIAS ONDE TUDO DÁ ERRADO e sua única chance de se dar bem está no cinema. Claro que quando eu digo “se dar bem”, é no sentido de escapar dos problemas e não de…ahnm, você sabe o que. Você escolhe assistir uma comédia estrelada por Jason Bateman, do sem graça Quero Matar o Meu Chefe, e Ryan Reynolds, do criticado Lanterna Verde. O programa corre o sério risco de fazer você entrar em depressão, mas até mesmo os urubus resolvem dar uma pausa na sua missão de atirar bombas com mira-laser em nossas cabeças, o que permite aproveitar o máximo de Eu Queria Ter a Sua Vida.

Bem superior (leia-se engraçada) que seus “concorrentes” da temporada, a trama é uma comédia romântica disfarçada com o tema clichê (e que ninguém aguenta mais, tanto que virou até tema de filme estrelado pelo Tony Ramos), o que torna ainda mais surpreendente a possibilidade de se divertir durante o filme. Cinema é uma coisa bem relativa, confesso, mas todas as risadas que faltaram em Missão Madrinha de Casamento e Professora Sem Classe sobram aqui. E acreditem, esse não foi um final de semana que incentivasse as risadas. 

O filme conta a história de dois amigos que acidentalmente trocam de identidade. Dave (Bateman) é casado com Jamie (Leslie Mann) e tem três crianças. Mitch (Reynolds) é um homem irresponsável, sem namorada e sem emprego. Após começarem a viver a vida um do outro, Mitch é obrigado a amadurecer na pele de Dave, que consegue uma boa oportunidade para conhecer melhor Sabrina (Olivia Wilde). 

Contar a melhor piada do filme seria sacanagem, mas eu tenho um fraco por humor físico, especialmente quando é politicamente incorreto e envolve o risco de alguém se machucar. Gargalhei litros de lágrimas, embora o começo do filme imite uma das piadas de Passe Livre, o restante não desagrada, mesmo com toda a história chata de superação de Mitch, que tenta provar desesperadamente que não é um delinquente que desiste de tudo que faz na vida. 

Como fã do Reynolds, preciso dizer que o melhor do filme é a presença selvagem de Wilde. Se em Cowboys & Aliens ela já tinha conseguido deixar o público sem ar, aqui a situação não é muito diferente. Ela esbanja sensualidade enquanto vai tirando parte por parte de seu figurino, incluindo as botas. No cinema as coisas são bem engraçadas, porque se isso acontecesse na vida real, o cara provavelmente desmaiaria com os flashs do que estaria prestes a acontecer. Pelo menos, sei que eu cairia duro no chão. 

Eu Queria Ter a Sua Vida é uma comédia gostosa para se assistir sem pressão e para ignorar um pouco as coisas que dão errado do outro lado do fantástico mundo imaginário da tela. Se houvesse a chance, será que alguém realmente trocaria de lugar com outra pessoa para viver outros problemas e outra vida? Esse tema é fascinante, mas não me seduz de forma alguma. Na verdade, ele funciona mais como algo para nos sentir inferiores. “Nossa, a vida dele é tão boa. Vou trocar com a minha”. Isso não funciona. Sempre terei essa curiosidade para entender como é que esses filmes conseguem tanta atenção do público assim.