Eles não saírão do prédio, até que as discussões se acabem…
Sempre me pergunto como, mas como o Polanski não consegue dar uma fora? Pois é, dessa vez ele se uniu à Yasmina Reza e sua reconhecida peça God of Carnage, juntos eles deram uma ajeitadinha daqui uma mexidinha dali, trataram de conseguir para o seu casting quatro dos melhores atores hollywoodianos e pronto estava vingado. Carnage em questão de direção é muito simples, o filme se passa todo dentro do apartamento, porém é o seu roteiro e suas atuações que se destacam e fazem do filme sem dúvidas um dos melhores do ano.
O longa se baseia todo em cima de uma briga que duas crianças tiveram e à partir disso os pais da “vítima” (vejo o personagem do Christoph Waltz rindo enquanto escrevo essa palavra) convidam os pais do agressor à sua casa para conversarem sobre o assunto. E eis que entre 3 idas e voltas do apartamento, algumas xícaras de café compartilhadas, algumas sessões de vômito e uma garrafa inteira de whisky detonada, de tudo se fala: sobre empego, sobre arte, sobre o sistema corretivo de menores, sobre a fome na áfrica, etc. Entre um assunto e outro os ânimos se exaltam, as discordâncias aparecem e as discussões são infindáveis.
A dinâmica começa com Penélope e Michael defendendo o seu filho e a punição do agressor, e Nancy e Alan concordando civilizadamente com eles, até que Penélope que quase sempre tende ao exagero insiste em acusar Zach de grande transgressor social e Alan resolve sair em defesa de seu filho. Neste ponto em que eles retornam para dentro da casa para rediscutir o assunto já percebemos que será um looping sem fim, que eles nunca chegarão a um acordo e que a diversão será garantida. O que não previa é que me escangalharia de rir com os diálogos e as interpretações.
Começamos por Penélope e sua grande tendência ao extremismo e histerismo. Interpretada com veemência por Jodie Foster, a personagem é politicamente correta, falastrona e que quer dar lição de moral em todos… A famosa chata de galocha. Ela faz um contraponto inteligentíssimo com Alan que tem toda aquela atitude “don’t give a fuck” e só quer terminar aquilo tudo ali o mais rápido possível para voltar aos negócios. Aliás o grande destaque do filme é realmente Christoph Waltz e todas as suas caras e bocas, os deboches que seu personagem faz o tempo todo, a forma raza como faz questão de tratar todo o assunto, as zombarias que faz de Penélope e as incontáveis vezes que para atender o celular (me mijava de rir toda vez que isso acontecia).
No plano de fundo temos um ótimo John C. Reilly na pele do comedido Michael, porém que dá todo o tom do filme. Começa civilizado tentando discutir tudo pacificamente até uma hora finalmente explodir, dizer que não se importava com nada do que estava sendo discutido ali e abrir um belo de um Whisky. Ah o Whisky… Não há civilidade que sobreviva a mais de duas doses dele… E é esse o andamento do filme, começam discutindo pacificamente, as opiniões divergem, começam a se irritar uns com o outros e entre um vômito e outro de Nancy os ânimos se exaltam e as coisas começam a esquentar.
Ah! Tem a Nancy também. No meio de tantas atuações brilhantes Kate Winslet, que sem dúvidas é a mais fraca de todo o elenco, fica super apagada salvo os momentos em que sua personagem vomita, surta, chora ou fica bêbada. Apesar disso tudo acho que ela será o carro chefe na campanha do filme e mais uma vez John C. Reilly será a peça no jogo de xadrez que ficará de fora, já que é sempre desprezado e subestimado pela academia.
Enfim, sempre achei que as mentes mais brilhantes dos cinemas estiveram as margens da sociedade, e este ano mais do que nunca isso vem a se confirmar. Não esperem ver os três melhores filmes do ano concorrendo na principal categoria do Oscar, porque eles provavelmente não estarão. Devido aos seus diretores não puxarem o saco da academia e não serem politicamente corretos Melancholia, Árvore da Vida e Carnage não aparecerão muito na lista da suposta maior premiação do cinema, o que não apaga em nada o brilhantismo das obras, e esta última então, me conquistou e me fez dar risadas do jeito que nenhum Woody Allen jamais irá fazer.
Direção: Roman Polanski
Roteiro:
Yasmina Reza
Roman Polanski
Elenco:
Jodie Foster
Kate Winslet
Christoph Waltz
John C. Reilly
Lançamento: 2011
Nota: