O CINEASTA PAUL GREENGRASS COSTUMA TER O HÁBITO DE FAZER O ESPECTADOR SUAR. Seu trabalho mais recente, Capitão Phillips (Captain Phillips) não foge à regra e consegue tirar o nosso fôlego em diversos momentos – independente de termos o conhecimento que tudo aquilo é uma ficção e que o tal capitão sobreviveu para contar a história depois. Parte do sucesso está na atuação arrebatadora de Tom Hanks, que faz valer o preço do ingresso em mais uma demonstração do seu talento como ator.
Capitão Phillips (Hanks) é um pai zeloso e muito preocupado com o futuro de seus filhos, como podemos ver logo nos minutos iniciais do longa-metragem. Pouco depois, ele embarca para a viagem mais perigosa de sua vida nos mares: ao se aproximar da costa da Somália, seu navio é atacado por um grupo de piratas dispostos a roubar o máximo possível. O filme retrata o drama do capitão e sua tripulação, mas também aproveita para tentar mostrar o outro lado da história ao justificar os motivos dos somalianos viverem daquela maneira.
Barkhad Abdi é o nome do rapaz responsável por quase roubar a atenção do espectador do astro Tom Hanks. Novato em Hollywood, Abdi, ou Muse para os iniciados em Capitão Phillips, transmite muita emoção para o público. Nós ficamos aterrorizados com a maneira que ele lida com a situação. Os seus olhares são desconfortáveis e nos fazem realmente acreditar que aquele cara é real e não tem absolutamente nada a perder. Ao mesmo tempo, Muse faz aquilo por não ter uma outra opção. É o seu instinto de sobrevivência falando mais alto que o certo e o errado.
Ninguém questiona a qualidade de Hanks como ator. Tudo bem que ele andou fazendo escolhas equivocadas recentemente (WTF foi Larry Crowne?), mas ele faz questão de espantar quaisquer dúvidas sobre o atual momento de sua carreira. Sem medo de parecer leviano, afirmo que a atuação de Hanks em “Capitão Filipe” é uma das melhores a que vi na temporada 2013 e uma nova indicação ao Oscar seria justa. Assim como Greengrass, que costuma alimentar o espectador com doses modestas de tensão enquanto nos prepara para o grande momento, Hanks começa sutil até uma explosão emocional nos estágios finais da obra, quando o sofrimento do personagem é tão real que corre o risco de arrancar lágrimas dos mais sensíveis.
Já que falamos da característica marcante do cinema de Greengrass (a tensão), vale reforçar que ele sabe usar bem a câmera com esse propósito. Ele aproveita vários momentos chave para dar closes fechados nos rostos dos protagonistas, evidenciando assim o desempenho brilhante do seu elenco. Quando não nos faz chegar desconfortavelmente perto de contar quantos dentes existem na boca dos atores, Greengrass nos brinda com cenas sensacionais, como o momento em que os piratas fazem a sua primeira tentativa de invadir o navio. De novo: nós já sabemos que os safados encontrarão uma maneira de entrar, mas é inevitável torcer para que tudo dê certo para Phillips e seus tribulantes escaparem ilesos. A sequência em que Phillips fica preso acompanhado apenas de seus raptores lembra um pouco o clima de Vôo United 93, do próprio diretor, mas sem repetir os mesmos níveis de emoção.
Capitão Phillips (ou Piratas da Somália, para os mais íntimos) é um dos grandes destaques do ano e certamente poderá abocanhar um ou outro prêmio na próxima edição do Oscar, especialmente na atuação de Hanks e no trabalho de montagem de Christopher Rouse. É curioso perceber que o filme possui uma semelhança com Gravidade, de Alfonso Cuarón, um potencial concorrente na disputa pelo careca dourado: ambos acontecem num espaço aberto e envolvem a questão da sobrevivência de uma maneira ou de outra.
Nota:[quatro]