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Finalmente estou de volta, depois de um (pequeno mas importante) tempo que estive fora. Nada melhor do que um filme nacional e polêmico, que acredito quase ninguém tenha visto.
Cão Sem Dono é uma história de amor nua e crua. Difícil de aceitar. Logo de cara temos uma cena de sexo, daqueles que acabaram de se conhecer. Uma conversa seca, uma falta de interesse, só. Marcela se expõe a Ciro. Corre atrás, pede telefone, demonstra sentimento. É uma sonhadora, quer viajar, conhecer o mundo, conhecer pessoas, se relacionar, ser modelo internacional. Ciro não. Acabou de se formar em Letras, é um anti-social e não sabe o que quer. Não encontrou seu lugar, e acha que sonhar é um erro tolo.
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O relacionamento, de tão real, incomoda. Quem nunca gostou de alguém mais do que foi correspondido? É horrível, mas Marcela parecia não se importar. Era seu jeito mesmo, ser transparente, se mostrar sem pedir. O começo vai se desenrolando sem amor, uma relação de sexo e tesão puro. Hoje eu quero, te ligo. Hoje eu não quero, não atendo o telefone. Até ela desaparecer. Quando Ciro começa a se abrir, bem lentamente, Marcela some. Aparece uma última vez, trata-o friamente, ele fica sem entender. Ela dá o beijo da despedida, e diz que tá com câncer e seus pais a esperam para começar a quimioterapia. Sem previsão de melhora, sem previsão de retorno.
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E o mundo dá voltas. Ciro só assim percebe a intensidade desse romance que estava vivendo. Sem Marcela, se transforma completamente. Começa a beber, passa dias sem comer nada, liga para hospitais à procura de notícias, fala sozinho, compõe poemas, entende que uma vida sem relacionamentos é uma vida difícil. Passa por um período complicado de amadurecimento. Mas começa a se encontrar e a ter um rumo na vida. Volta a morar com os pais, encontra emprego, sai pra balada, vive uma vida normal.
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Até hoje nunca vi uma cena de sexo tão explícita e real. É possível enxergar o desejo dos dois, o êxtase até o orgasmo e, porque não, se excitar assistindo.
A ausência de trilha-sonora incomoda algumas pessoas. Por ser um filme tão duro, talvez possa se dizer insensível, a falta de músicas serve para deixá-lo ainda mais forte, difícil de assistir e principalmente de gostar. O contraste entre os personagens, a beleza de Marcela e a estranheza de Ciro, é de uma perfeita harmonia. A angústia do personagem, remoendo antigas lembranças e pensando que poderia ter sido diferente se tivesse se mostrado mais. Somos ali seres reais, humanos que amam e sofrem. Muito bom, recomendo aos corações fortes.
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Ficha Técnica
Título Original: Cão Sem Dono
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 82 minutos
Ano de Lançamento (Brasil): 2007
Site Oficial: www.dramafilmes.com.br/caosemdono/
Direção: Beto Brant e Renato Ciasca
Roteiro: Marçal Aquino, Beto Brant e Renato Ciasca, baseado no livro “Até o Dia em que o Cão Morreu”, de Daniel Galera
Produção: Bianca Villar
Trailer:
“Um embrião cansado invade a escuridão da caverna procurando uma saída
Escuta o eco rebatido nas paredes da carne, refletindo no olho o desespero da solidão
A preguiça é o sono dos mortos.
Minha euforia necessita de calma, e minha calma de euforia
Que se foda o resto do resto da sobra do que resta
O restante é o que eu quero.
O amor do instante é o instante em que estamos perto da batida perfeita
Os olhos são o início do irreal
O meu cigarro tem um tempo de vida, a minha vida necessita de um cigarro
O que fazer, o que comer, será que minha mãe tá certa?
Definitivamente não.
Preciso de um coração que bata descompassado, sem ritmo, sem melodia; não quero a batida perfeita.
Quero o descompasso.
Me dê uma pista, uma lágrima; mas me dê algo.“