O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica de Cães de Aluguel tá cheia de spoilers sim!
O DEBUT DE UM DIRETOR É SEMPRE ATRATIVO PARA OS CINÉFILOS. Independente da qualidade da obra, nós temos uma imensa curiosidade em conhecer o primeiro passo de um cineasta que aprendemos a admirar ao longo dos anos. Por exemplo, em 1992, época do lançamento de Cães de Aluguel (Reservoir Dogs), quem poderia imaginar que Quentin Tarantino logo se tornaria um dos principais autores da indústria?
Um autêntico filme de roubo (ou heist movie) como O Plano Perfeito, de Spike Lee, ou o recente Em Ritmo de Fuga, de Edgar Wright, a grande estreia de Tarantino possui um diferencial especial: é um filme de roubo em que não assistimos ao roubo em si, apenas temos acesso às consequências (sangrentas) do fato.
Se foi ousadia ou inteligência (para contornar a falta de orçamento disponível) pouco importa. A verdade é que Cães de Aluguel logo nos minutos iniciais já mostra para o público o cartão de visitas do cineasta com longos diálogos cheios de sarcasmo e piadas engraçadinhas com referências à cultura pop. E Tarantino consegue combinar seu estilo (ou fetiches) com uma bela introdução de seus personagens.
Numa mesa com vários homens vestindo ternos, e parecendo gangsteres em horário de descanso, começamos a ouvir uma curiosa análise de “Like a Virgin”, da Madonna. A inusitada teoria (sobre a canção falar de uma garota que transa com o sósia do Kid Bengala e se sente virgem a cada nova relação por causa do tamanho da piroca do sujeito) faz a gente rir e se perguntar que diabos o roteirista tem na cabeça. Aos pouquinhos, Tarantino roda a câmera mostrando seus personagens e deixando o espectador na maior expectativa em descobrir o que esses caras vão aprontar.
A quebra da expectativa começa aqui, pois na cena seguinte já assistimos ao personagem de Tim Roth sujo de sangue berrando que vai morrer. O restante do filme desenvolve as consequências desse assalto e tudo acontece numa narrativa não linear, em que o espectador precisa de atenção para montar a história na sua cabeça.
Além de Roth, o elenco principal conta com Steve Buscemi, Michael Madsen e Harvey Keitel como os únicos sobreviventes do assalto – que várias vezes é mencionado de uma maneira que o público até acredita ter assistido como aconteceu. Tarantino consegue repetir o mesmo feito de Roman Polanski em O Bebê de Rosemary, que em momento algum mostra o rosto da criança endemoniada, apesar de muitas pessoas terem uma certa lembrança de como era o filhote do capeta.
Enquanto Keitel se mostra como um bandido humano que tenta entender o que deu errado e ajudar o companheiro Roth, o personagem de Madsen (Vic Vega, irmão de Vincent Vega de Pulp Fiction) mostra ser um psicopata desequilibrado ao arrancar a orelha de um policial levado como refém para o ponto de encontro dos bandidos. É uma delícia ver o vilão em ação e imaginar como diabos ele perdeu o controle durante o assalto.
Cães de Aluguel é uma bela estreia e conta com a maioria dos traços que fizeram Quentin Tarantino se tornar o que é hoje: o roteiro, a narrativa não linear, personagens complexos, trilha sonora inspirada,e, claro, MUITO SANGUE jorrando pela tela. Filmaço!
Caso seja do seu interesse mais dicas de filmes de roubo e busque por sugestões MELHORES que Cães de Aluguel, a minha recomendação é o épico Fogo Contra Fogo, de Michael Mann, com Robert De Niro contracenando com Al Pacino pela primeira vez (em O Poderoso Chefão – Parte II eles não dividem cena).
Assista a crítica de Cães de Aluguel ao vivo no projeto 365 Filmes em um Ano no nosso canal do YouTube. Todos os dias, 21h, temos uma transmissão diferente discutindo vários filmes.