Eu nunca entendi muito bem essa coisa de comédia dramática. Como isso seria possível?! Daí surge um filme, de comédia dramática, com a Kate Winslet e o Jim Carrey… Aí eu entendi tudo! A Kate Winslet me faria chorar, e o Jim Carrey me faria rir, certo? E ainda tem a Kirsten Dunst, o Elijah Wood e o Mark Ruffalo (cujas referências pra mim eram O Homem Aranha, Senhor dos Anéis e De Repente Trinta, respectivamente) pra ajudar, né? Pois é. Aí eu fui ver o filme. A proposta do filme é a seguinte: tem uma empresa que apaga da mente das pessoas as memórias indesejadas, de pessoas ou de coisas que elas precisam se desapegar. Parece bom, mas como isso vai me fazer rir? Com o decorrer do filme, eu fui ficando cada vez mais impressionada com ele, e cada vez mais sem entender qual é a dessa “comédia dramática”. No final do filme é que tudo fez sentido: é tudo questão de empatia! Vai dizer que você nunca passou por nenhuma das situações desses filmes de comédia dramática? É aprender a rir com a desgraça dos outros, que poderia muito bem ter sido a sua! Ou vai dizer que você nunca quis apagar ninguém da sua vida? Só que o passado não é tão passado assim, as coisas não simplesmente acontecem e podem “desacontecer”.
A história é simples, o enredo pode parecer bobo, mas o resultado final é surpreendente. A grande questão do filme, brilhantemente escrito por Charlie Kaufman (Quero Ser John Malkovitch) e Michel Gondry (e também brilhantemente dirigido por ele), é se isso vale à pena. O filme mostra a vida de um casal na perspectiva de um homem que resolve apagar sua mulher porque ela o apagou. Impulsividade e vingança, coisas da vida. Principalmente de um casal. Joel Barish (Jim Carrey) e Clementine Kruczynski (Kate Winslet) não formam um casal desses de comercial de margarina. Ele, caladão, sério e com uma vidinha muito mais ou menos; ela, porra-louca e faladeira. Personalidades pode-se dizer até opostas, mas num relacionamento. Mais uma vez, coisas da vida. São mostrados o percurso e os percalços do casal até o momento do término, ou do início. As coisas boas e as coisas ruins que fazem o relacionamento valer à pena. Ou não. Ou seja, o filme mostra a vida como ela é, ou como ela poderia ser, e não como ela deveria ser. Sem idealismos e fantasias, o filme é real, cru, porém sensível. E não se espante! Se você chorar é só um dos efeitos da empatia, e o grande mal dessas comédias dramáticas.
Não vou entrar no mérito de falar sobre Kaufman e Gondry, até mesmo porque eu tornaria o post pessoal demais. Mas certas características de ambos, e, diga-se de passagem, eles funcionam muitíssimo bem juntos (vide também A Natureza Quase Humana), como os diálogos bem elaborados e com frases marcantes, as temáticas no mínimo curiosas, e as cenas cheias de detalhes lúdicos (que passariam despercebidos por pessoas que não viram o filme mais de 5 vezes) não podem deixar de ser citadas.
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças é o típico filme que todo mundo já viu, mesmo não tendo visto. A empatia que ele consegue provocar é tão grande que a maioria das pessoas de apaixona pelo filme. Vai dizer que você nunca viu nenhuma menina num desses sites de relacionamento com a frase “I’m just a fucked-up girl who’s lookin’ for my own peace of mind; don’t assign me yours” na descrição pessoal? Ou então a clássica foto do casal deitado no Charles congelado olhando as estrelas? Ah, e tem também a foto deles na cama no meio da praia no inverno. Isso só reafirma o que eu disse acima sobre as frases marcantes e as cenas lúdicas, mas enfim… Se você realmente acha que já viu o filme porque já viu essas coisas, você está errado. Assista ao filme, identifique-se.
Pra finalizar, a citação do Alexander Pope dita pela Mary (Kirsten Dunst):
“How happy is the blameless vestal’s lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray’r accepted, and each wish resign’d”
E pra quem ficou curioso, segue o link com o poema inteiro.
Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças
Dirigido por Michel Gondry
Roteiro por Charlie Kaufman
Elenco:
Jim Carrey (Joel Barish)
Kate Winslet (Clementine Kruczynski)
Kirsten Dunst (Mary Svevo)
Mark Ruffalo (Stan Fink)
Elijah Wood (Patrick)
Tom Wilkinson (Dr. Howard Mierzwiak)
Jane Adams (Carrie)
David Cross (Rob)
Deirdre O’Connell(Hollis)
Post by Ju Lugarinho! Estudante de Psicologia, fã do cinema alternativo, fotografia, Clarice Lispector, Silverchair, Muse, Incubus, amiga do 2T e namorada do Wendel Wonka!