Ah… os Coen… Se todos os diretores e roteiristas fossem como eles, hollywood estaria cheio de obras primas. Sem mais delongas Bravura indômita é mais uma das raridades da minha dupla de diretores favoritos. Apesar de achar que eles estão sim perdendo a mão no roteiro e ficando pop e soft demais o nível deles ainda é muito, muito superior aos outros diretores de sua geração, principalmente em 2010 que a safra de filmes no geral deixou bastante a desejar , principalmente no quesito roteiro.
Bravura indômita conta a história da menina Mattie Ross vivida com muito brilho pela novata Hailee Steinfeld que teve seu pai morto pelo vilão Tom Chaney (Josh Brolin em mais uma parceria com os Coen). A ousada menina decide ir em busca do US Marshall Rooster Cogburn, conhecido pela sua falta de piedade com os bandidos e por sempre cumprir seu trabalho (Jeff Bridges). No meio de sua jornada a menina se depara com LaBoeuf (Matt Damon), Texas Ranger que está atrás do mesmo bandido que a menina procura. Pronto, está formada a base da história. O que parte daí são méritos dos Coen que dizem ter rodado a história de uma maneira completamente diferente da primeira versão de 69.
Não cabe aqui fazer nenhum tipo de comparação com a primeira versão do filme já que não assisti (tá na lista!), nem tampouco comparar John Wayne com Jeff Bridges ambos grandes atores cada qual com seus méritos. O fato é, os Coen fizeram sim um filme muito acima da média do ano, revitalizaram um estilo que já estava morto no cinema americano (faroeste), não sei se por interesse ou por pura vaidade, mas ao que tudo indica saudoso por parte dos americanos, que renderam nas primeiras semanas, apenas, 110 milhões de bilheteria ao filme.
Depois do circo montado os três justiceiros partem em busca do alvo, mas para alcança-lo terão que primeiro acertar suas diferenças e aprenderem a conviver. É aí que eu acho que os Coen deixam a desejar, o filme na realidade não tem muito de faroeste, particularmente esperava mais: perseguições, tiroteios, olhares penetrantes (do tipo vou matar você), esperava algo muito similar à “No Country for A Old Men” o que não aconteceu. Mas o filme apesar de soft tem diálogos muito afiados, se não melhores no mesmo nível que “Rede Social”, sacadas e reviravoltas inteligentes e uma escolha de elenco impecável.
Em se tratando de personagens (é aí minha decepção), parece que os Coen tem criado umas figurinhas bonitinhas em seus últimos filmes sabe… coisa pra público se identificar… Acho totalmente desnecessário, saudades de “Fargo”… Nesse âmbito Jeff Bridges sem dúvidas é o ponto mais alto do filme com sua incrível interpretação para Cogburn, dando um ar de beberrão e canastrão ao personagem que é impagável. E arrisco dizer que está melhor que em “Crazy Heart” e novamente dando de 10 à 0 no premiado Colin Firth…
O que falar então da química entre o ator e a menina Hailee Steinfeld, é de cair o queixo, tanto nos momentos em que ela, ousada do jeito que é, desafia o velho, ou nos momentos em que Cogburn fala igual no ratimbum: “senta que lá vem a história”. As histórias de Cogburn são um espetáculo à parte, atirar com duas pistolas segurando as rédeas do cavalo com os dentes, ter matado mais de 12 pessoas… Enfim, tem coisa melhor que Jeff Bridges contando histórias de faroeste, ou melhor, tem como não acreditar? Mas se ele se destaca, Hailee Steinfeld também não fica atrás e pra mim teve a melhor performance mirim do ano (ainda não entendi a indicação como coadjuvante pro oscar…).
Agora, os méritos do elenco ficam por aí. Encontramos na sequencia um Matt Damon completamente dessituado (até agora não entendi o porque da escolha do ator), e totalmente perdido no meio de tantas boas atuações, que ao invés de fazer um personagem à altura de Cogburn para fazer a balança não, fez um submisso LaBoeuf que depois de duas trocas de palavras já abaixava a cabeça e ficava quieto… Enfim, o personagem ficou sem vida. Coube à Hailee fazer o papel de enfrentar o velhote beberrão. Josh Brolin, apesar de estar bem, fez um personagem que os Coen erraram na mão. Não teve nada de arque vilão, personagem odiado, não. A firula que Mattie pinta dele dá muito mais medo que o submisso Tom Chaney que encontramos pela frente. Destaque também para Barry Pepper, que apesar de ponta, fez um muito bem caracterizado e estereotipado Lucky Ned Pepper, que se tivesse mais espaço se tornaria o grande vilão da história.
Ponderando, Bravura indômita é uma mescla de erros e acertos (mais acertos claro), sendo que, o erro dos Coen consegue ainda estar acima dos acertos dos outros. O filme que vai andando o tempo todo na brincadeira, com uma interessante narrativa de Hailee, guarda seus grandes momentos para o final. Vale muito apena chegar nas duas agonizantes cenas finais que são incríveis e de roer as unhas (mais que isso é spoiler)… Ahh Little Blackie… Enfim, apesar de não estarem em uma de suas melhores performances ainda são os Coen e por isso merecem 5 caipirinhas.