Assumo que o que me atraiu inicialmente no filme foi o diretor, Alejandro González Iñárritu, e o Javier Bardem, mas não porque eu o acho bonito, mas porque eu o acho um ótimo ator! Eu sabia do que tratava o filme, mas se eu tivesse visto o trailer, certamente não teria escolhido uma linda tarde de domingo pra vê-lo.
O filme conta a história de Uxbal (Bardem), um sensitivo/médium, pai solteiro, que descobre que está com câncer e tem que “fazer a passagem”. O que inclui entrar em contato com sentimentos como culpa, compaixão, amor, e também com toda a podridão que o acompanha e o rodeia. Uxbal então tem como missão “corrigir” alguns erros e acertar algumas pendências em vida, uma delas ligada ao destino dos dois filhos pelo quais ele tem um amor cego, e que são criados por ele devido à instabilidade psicológica da mulher, Marambra (Maricel Álvarez), enquanto tenta aceitar a ideia da morte.
A história se passa em Barcelona, no gueto da cidade, num bairro pobre e sujo, cheio de imigrantes e ilegalidade. Uxbal trabalha agenciando imigrantes chineses numa fábrica de objetos “quase originales” e imigrantes africanos que vendem esses produtos nas ruas. Ele sabe que isso é errado e as consequências que isso tem para as famílias desses imigrantes, por isso tenta desfazer suas escolhas para tentar reverter essa situação e se livrar do sentimento de culpa no pouco tempo que o resta.
Mimimis de lado, vamos começar na sinceridade: de “biutiful” o filme não tem nada. Quédizê, o filme em si é bonito, lindo, mas se passa na sujeira, seja de caráter, seja de higiene. E fala sobre limites: os limites da razão, do aceitável, da sobrevivência, do amor, da humanidade, da compaixão e da honestidade. Lidar com os limites, os próprios e os do próximo. Até onde se deve confiar, acreditar, permitir e lutar. É um filme forte, pesado, sujo. Mas ao mesmo tempo em que você sente raiva do Uxbal, você sente sua angústia e sua dor. Melhor dizendo: é um filme intenso. Javier Barden está sensacional, o Iñárritu mais uma vez me surpreendeu, porque assim como 21 Gramas, Biutiful era aquele filme que eu não dava nada, mas saí do cinema boquiaberta. Biutiful é um filme que te dá um tapa na cara! Com luva de pelica, mas daqueles que te deixam com o olho roxo por alguns dias.
O Bardem está concorrendo ao Oscar de Melhor Ator, e até que mereceria, mas não acredito que ele vá ganhar do Colin Firth (até mesmo porque ele já ganhou em Cannes, deixa esse pro Firth, hehe!). E o filme concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e é minha aposta pelos mesmos motivos que me fizeram assisti-lo. Assistam, mas não assistam num dia bonito, assistam num dia cinza, chato e entediante. E que venha o Oscar!