ERA UMA VEZ UMA MENINA QUE PRECISAVA DE DINHEIRO, e considerou que o que os olhos não viam, o corpo sentia, mas o coração não via. É bem assim, bizarra mesmo, a história de Beleza Adormecida, de Julia Leigh. Qualquer semelhança com o conto de fadas da bela adormecida não é mera coincidência, embora seja deixada no ar uma premissa curiosa sobre os riscos que aquela princesa corria.
Lucy (Browning) é uma adolescente que precisa pagar as suas contas, por isso realiza vários bicos para se sustentar, dentre eles transar com homens por dinheiro. Ela acaba sendo contratada por uma cafetina de luxo que oferece uma experiência digna dos casos de necrofilia que ouvimos por aí: as garotas ficam sedadas, dormindo profundamente, então os clientes têm total liberdade de realizar suas fantasias mais inocentes.
Esse fetiche de homens idosos é uma maneira deles tentarem manter sua masculinidade, já que com a velhice é complicado manter uma ereção. Ao se deitarem com um corpo tão novo, fica evidente o peso da idade, e como as coisas mudam. Possivelmente, a penetração seria algo improvável (ainda que fosse permitida, o que não é o caso no filme), e para aqueles homens seria uma grande realização. Já para Lucy seria apenas mais um dia de trabalho, do qual ela nada saberia.
A narrativa é quase tão entediante quanto seus personagens. Emily Browning é uma gracinha, mas, sinceramente, falta muito sal para convencer o público. Seu corpo é tratado de maneira banal, desprovido daquilo que transforma o feminino em algo quase sagrado. Ela é um objeto usado apenas para oferecer prazer para homens com fetiches inusitados. Como se não fosse o suficiente o porte físico de adolescente da personagem, ela ainda é dopada para saciar a “fome” dos seus clientes da terceira idade. Sou fã de Browning desde sempre, mas mesmo se tratando de um filme que pretende criticar a prostituição, o potencial da sensualidade da atriz é muito mal aproveitado.
Beleza Adormecida apresenta um lado luxuoso da prostituição, chegando a lembrar os bastidores do bacanal que acontece em De Olhos Bem Fechados, de Stanley Kubrick. A diferença é que o sexo é abordado de maneira eficiente por um gênio e de maneira mecânica por uma iniciante. Até podemos acreditar que a visão de Leigh sobre a prostituição cresça quando o filme for revisitado, e, assim, as longas tomadas possam significar alguma coisa, ao invés de serem apenas um remédio contra a insônia No entanto, de primeira, o filme é decepcionante.
Nota:[duas]