No Brasil, o cenário político é recheado por acordos nos bastidores que, em sua maioria, tem por objetivo manter os status quo e a população votante ‘comportada’. Dessa forma, temos a percepção de que o contexto político brasileiro é caótico, intrincado e até mesmo incompreensível. Contudo, essa complexidade não é uma exclusividade do nosso país, como é expressado no filme Belas Promessas, dirigido por Thomas Kruithof (Mecânica das Sombras, 2016) e que traz Isabelle Huppert (Frankie, 2019) e Reda Kateb (Mais Que Especiais, 2019) como protagonistas.
Ambientado na França, Belas Promessas (2023), segue a prefeita Clémence Collombet, interpretada por Huppert, que pensa em deixar a política ao final do seu mandato. Ela é sempre assessorada pelo seu chefe de gabinete e braço direito, Yazid Jabbi (Reda Kateb), porém, após receber um convite do presidente para integrar um ministério, os dois começam a ter conflitos relacionados ao seus valores, ambições e, principalmente, às promessas de campanhas feitas por Clémence.
Uma dessas promessas está relacionada aos moradores do distrito de Bernardins, cidade marcada pela insalubridade e pelos locatários abusivos. Dessa forma, Yazid quer que Clémence use essa oportunidade de ocupar um ministério para conseguir os milhões necessários para o projeto de melhorias de Bernardins, local em que a prefeita possui seu maior eleitorado e aliados. Desse modo, Belas Promessas (2023) destrincha os bastidores dessas negociações e evidencia uma característica da política francesa que também se assemelha à política brasileira: a boa e velha burocracia. É interessante como o longa é categórico em mostrar que os interesses dos governantes estão acima dos interesses da população. As negociações e debates que as figuras políticas realizam estão sempre pautadas em manter suas posições partidárias e ideológicas em segurança.
O diretor Thomas Kruithof afirmou em entrevistas que o foco de seu filme não são, na realidade, as ideologias, mas o cotidiano das figuras políticas e suas ações concretas. Assim, ele queria que o espectador fosse levado a compreender um melhor os contrastes e nuances do fazer política no dia-a-dia e, buscou retratar os impactos que a população de Bernardins sofreria se apenas deixasse nas mãos dos estadistas o destino de sua cidade
Além disso, Belas Promessas também pincela acerca do relacionamento entre o político e seus aliados. No momento em que Clémence negocia sua nova candidatura e precisa buscar apoio de seus companheiros de partido político, ela percebe que os planos do líder partidário são bem diferentes. Dessa maneira, Isabelle Huppert entrega uma excelente performance, bem como seus parceiros de elenco. Belas Promessas é um filme interessante, com uma temática relevante e atual que nos faz refletir. Pode ser conferido nos cinemas brasileiros a partir de dois de março.