O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica de Star Wars: Os Últimos Jedi possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
É IRÔNICO QUE STAR WARS: EPISÓDIO VIII – OS ÚLTIMOS JEDI (Star Wars: Episode VIII – The Last Jedi, Rian Johnson, 2017) chegue aos cinemas do mundo na mesma semana em que a Disney confirma a compra de praticamente todo o conteúdo da Fox e transforma o executivo Rupert Murdoch em um dos maiores acionistas da empresa do Mickey Mouse. A saga sempre apresentou um viés político de ver os Rebeldes tentando vencer o Império, mas The Last Jedi dedica um espaço considerável para explicar que o sistema sempre vai favorecer o lado mais forte. Ou o lado de quem paga mais, como é o caso do verdadeiro império que a Disney tenta construir.
Ao contrário de todos os outros sete exemplares da saga, The Last Jedi não dá saltos temporais e começa exatamente de onde paramos em O Despertar da Força. Rey partiu em busca de Luke num planeta abandonado enquanto seus amigos são perseguidos brutalmente pelo misterioso Snoke numa imensa batalha espacial.
(Nota importante: não usarei o título original de forma esnobe de quem prefere ignorar os títulos traduzidos, mas porque “Os Últimos Jedi” é um grande problema que deixa claro que os responsáveis pelo serviço porco nunca viram nenhum filme da saga – algo que já suspeitava desde o lançamento do episódio VI com o 1º erro – “Retorno de Jedi”, bicho? É do fucking Jedi. Retorno DO Jedi)
Crítica: Star Wars Os Últimos Jedi
Star Wars: The Last Jedi é um verdadeiro banquete para apaixonados pela saga e por histórias de aventura com boas doses de humor. Apreciei o trabalho, ainda que menos evidente, sonoro de John Williams; assim como a sensação de que temos um diretor talentoso contando uma nova história da saga mais importante do cinema. Tecnicamente, talvez não seja exagero afirmar que The Last Jedi se destaca com louvor, mas uma boa produção precisa ter um feeling apurado para a narrativa e envolver o público entregando o que é prometido. Entre erros e acertos, The Last Jedi se apresenta como uma produção acima da média da saga, mas abaixo dos grandes momentos vividos em O Império Contra-Ataca e The Return of the Jedi.
Johnson, cujo trabalho mais notório é Looper, aquele filme de viagem no tempo com o Bruce Willis e o Joseph Gordon-Levitt, mas que comandou episódios famosos em Breaking Bad (“The Fly” e o épico “Ozymandias” – aquele do deserto quando a casa de todo mundo caiu), assina também o roteiro de The Last Jedi. Com ousadia, ele tenta resolver algumas questões levantadas no longa-metragem anterior e apresenta caminhos corajosos no desenvolvimento da sua narrativa, sem deixar de prestar as devidas homenagens para a saga. Isso sem falar no romance inesperado entre Rey e Kylo, que já conseguiram superar a tensão sexual de Han e Leia na trilogia clássica – dispenso comparações de Ani e Padmé, ok? Mas existem algumas coisas que me incomodaram.
Problemas em Star Wars: Os Últimos Jedi
Por exemplo, o vilão Snoke (Andy Serkis) surgiu como uma grande ameaça e assumindo o “papel” de Palpatine da vez. Havia uma grande expectativa de como esse personagem seria trabalhado na nova trilogia, mas Johnson descarta o vilão com um descaso que beira a displicência e a falta de noção.
O que acontece em The Last Jedi é exatamente o que Darth Vader propôs para Luke Skywalker em The Return of the Jedi: juntos derrubaram Palpatine e criarem um novo Império. Pela 3ª vez na saga temos um protagonista tentando convencer o outro de que podem dominar o mundo. Esses ecos não incomodam, de forma alguma, mas Snoke se tornou no maior idiota das galáxias quando foi enganado pelo seu aprendiz temperamental e inexperiente. Será que existe uma mensagem por trás disso? Um mundo sob a perspectiva de um líder impulsivo e capaz de qualquer coisa para beneficiar seus interesses? Legal. Mas ainda assim, esperava mais de Snoke.
Também preciso reclamar das partes excessivamente bobas. Será que precisava mesmo incluir um sem número de momentos de humor bobo parecido com o que acontece nos filmes da Marvel? Existem várias piadas dignas de um besteirol completo e isso comprometeu muito o General Hux (Domhnall Gleeson), que se tornou um mequetrefe galáctico saco de pancadas. Fizeram um personagem muito interessante perder o respeito diante o público e talvez esse seja um dos pontos mais negativos de The Last Jedi. Nada contra o Chewie virando vegetariano por peso na consciência e tal, mas o roteiro desceu o nível muitas vezes…
Por último, para encerrar a fase “bate” e entrar na parte de “assopra” da crítica, outro ponto incômodo foi o enfraquecimento de Rey comparado com O Despertar da Força. A personagem evolui no seu treinamento com Luke, claro, mas a impressão que fica é que não existiu uma curva de crescimento elevada que a distanciasse da Rey do final do episódio anterior. Mais decepcionante ainda é a revelação sobre a sua família. Como é que você introduz a personagem com todas aquelas semelhanças com Anakin Skywalker e depois joga na nossa cara que foi apenas uma coincidência, Disney? Tá errado!!!!
Tensão sexual em Star Wars?
No entanto, apreciei ver Rey se mostrando instável emocionalmente e mostrando suas inclinações para o Lado Negro, o que deixa Luke alarmado. É Star Wars mostrando que o mundo não é preto e nem branco, ele é cinza e todos estamos em constante mutação. Isso tudo fez parte do arco de desenvolvimento da personagem para criar um clima inesperado de tensão sexual na saga. Como todo relacionamento intenso que se preze, o romance começa com a negação e o ódio como elementos mais fortes. Aos poucos, tanto Rey quanto Kylo começam a ser devorados por uma atração mútua movida pela curiosidade em decifrar o que está acontecendo. Não é assim que acontece geralmente? O envolvimento entre os dois é natural, é sexy pra caralho, o clímax está naquela sequência de luta que começa em slow-motion após a morte de Snoke.
Li uma reportagem que aponta essa cena como o mais próximo que teremos de ver sexo em Star Wars. A sincronia dos movimentos corporais dos protagonistas, um autêntico balé da morte com instrumentos fálicos de luz, a fotografia vermelha para aumentar o clima de luxúria naquele confronto pela vida, tudo isso é realmente uma transa épica entre a versão de Romeu e Julieta de uma galáxia muito, muito distante. Existem outros pontos na produção que para uma mente criativa podem (ou não) representar conotações sexuais sutis (a Millennium Falcon escapando de uma fenda e deixando uma sujeira pra trás; Rey mergulhando num buraco escuro… enfim, tirem suas próprias conclusões…), mas a luta do casal é a única que está bem na cara do espectador.
Mas vamos falar das coisas boas de Star Wars: Os Últimos Jedi
A melhor coisa de The Last Jedi está no retorno de Luke Skywalker. Desde a primeira cena, quando ele arremessa seu antigo sabre de luz longe e deixa Rey incrédula, é impossível disfarçar o sorriso no nosso rosto por reencontrar um velho amigo.
Finalmente é revelado seu papel na transformação de Kylo Ren, e aqui temos uma demonstração prática dos truques que o Lado Negro para manipular e enganar com a intenção de criar mentiras para alimentar o medo e o ódio. Luke falhou como mestre e se afastou por toda a culpa que sentia pelas consequências dessa fraqueza. Por isso que ele resiste tanto quando Rey pede para ser treinada.
O medo de falhar mais uma vez reaparece quando ele empata a foda de Rey e Ren, e expulsa a garota. Mas graças à inesperada visita do espírito do Mestre Yoda (e essa foi a única vez que fiquei remotamente emocionado), Luke toma a sua decisão de entrar em combate para defender os Rebeldes da opressão da Primeira Ordem. Detalhe especial é que o Yoda surge dispensando o CGI e como uma das poucas homenagens diretas de The Last Jedi a O Império Contra-Ataca. Para os fanáticos por Star Wars, provavelmente, não existiu momento mais especial. Existiu?
Durante o ato final, Luke surge na base rebelde e tem um momento emocionante de reencontro com a irmã. Na sequência, ele parte sozinho para confrontar todo o exército liderado por Kylo Ren, que inicialmente é covarde ao ponto de ordenar seus “escravos” a concentrarem todos os esforços em derrubar Luke. Quando nota que Luke se incomodou apenas com a poeira, ele é obrigado a descer do seu salto para um confronto selvagem contra seu antigo mestre. A luta dos dois é selvagem no estilo do que foi ver Anakin e Obi-Wan duelando em A Vingança do Sith, mas possui semelhanças narrativas com o duelo que encerra Uma Nova Esperança. Luke se recusa a combater Ren com todo o seu vigor e aceita sacrificar a própria vida para dar tempo para os rebeldes fugirem.
Johnson pode não ter optado por repetir os feitos de J.J. Abrams (que fez um remake de Uma Nova Esperança em O Despertar da Força), mas não poupou esforços com homenagens maravilhosas. A morte de Luke, por exemplo, mostra os dois sóis de Tatooine; R2-D2 mostrando aquela famosa mensagem da Princesa Leia que deu origem a tudo lá em Uma Nova Esperança; o retorno do Mestre Yoda; mas a maior de todas as homenagens ficou dedicada para a nossa imortal Carrie Fisher.
Muita gente estranhou a parte em que a Princesa Leia sai voando no espaço e esquivando dos destroços de uma espaçonave. A minha interpretação foi que Johnson e os executivos da Disney decidiram mostrar que a princesa é realmente uma Jedi muito poderosa, mas que aquilo era também uma maneira de dizer para o público que a nossa Leia é eterna e sobreviverá em nossos corações para sempre.
Star Wars: Os Últimos Jedi é bom?
Para encerrar a nossa crítica sobre The Last Jedi com chave ouro, e para alegrar quem teve preguiça de ler o texto todo e perdeu a parte que falei Rian Johnson escreveu uma ópera espacial pornô, quero afirmar que gostei muito do que vi.
É um belo exemplar, provavelmente o melhor se tratando de direção, e que deixará fãs histéricos com todas as suas surpresas e sequências de ação. The Last Jedi eleva o nível para preparar o terreno para o encerramento da nova trilogia.
Que a Força esteja com você!