QUANDO CRIANÇA, REPRISAVAM TANTO “AS MINAS DO REI SALOMÃO” na Sessão da Tarde que eu devo ter assistido mais às aventuras toscas de Richard Chamberlain e Sharon Stone do que ao clássico “Caçadores da Arca Perdida”. Foi só ano passado, quando comprei o DVD por um preço camarada nas Lojas Americanas e fui rever o filme após tantos anos, que vi o quanto ele era uma cópia mal-acabada de Indiana Jones. Tanto que parei no meio e só ontem criei coragem de ver tudo novamente.
Não dá nem pra acusar Allan Quatermain de ser plágio do Indiana, quando “As Minas do Rei Salomão”, o livro, foi publicado em 1885 (sim, mil oitocentos). Mas o filme de 1985, cem anos após o livro no qual foi baseado, vai sim na carona de “Caçadores” e “Indiana Jones e o Templo da Perdição”, respectivamente de 1981 e 1984. O macguffin da vez são as Minas do título, supostamente perdidas e repletas de jóias e diamantes. A loira que acompanha o aventureiro é Sharon Stone, no auge dos seus 27 anos, mas atuando mal pra cacete, tadinha. Richard Chamberlain, como Quatermain, não tem um terço do carisma de Harrison Ford e nem o personagem tem um passado bacana como Indiana, que era professor de História. Até John Rhys-Davies, o saudoso Sallah de “Caçadores” e “A Última Cruzada”, dá as caras aqui como o turcão do mal.
Mas “As Minas do Rei Salomão” não é um desperdício completo. Sei lá, não sei se é minha memória afetiva falando mais alto que o senso crítico, mas dá pra dar umas risadas com certas cenas: Chamberlain e Sharon Stone virando sopa num caldeirão gigante, o Sargento Pincel alemão comendo diamantes, a bruxa-velha que parece uma mistura do Mumm-Rá com a Regina Casé. E o tema marcante de Jerry Goldsmith (compositor de dezenas de trilhas bacanas, como Star Trek e Gremlins) é bom de verdade.
O filme tem uma seqüência ainda pior, “Allan Quatermain e a Cidade do Ouro Perdido” (mais uma chupada de Indiana Jones: o título do primeiro filme não fala o nome do protagonista, o segundo coloca o nome completo) e uma refilmagem em forma de mini-série feita em 2004, que não tive coragem de ver, com Patrick Swayze (!!) no papel principal. Como se não bastasse, na bomba que foi “A Liga Extraordinária” puseram Sean Connery pagando mico como Quatermain, no último (até agora) papel de sua carreira. Belo jeito de se aposentar, hein?
A melhor encarnação recente de Allan Quatermain continua sendo o velho bêbado da “Liga Extraordinária” original, nos quadrinhos de Alan Moore e Kevin O’Neill. Se topar com outro, melhor evitar.
King Solomon’s Mines, 1985
Direção de J. Lee Thompson