
O filme tem uma linha narrativa bastante ágil, onde os personagens parecem confrontar-se com seus próprios problemas e desejos, onde a linguagem da juventude ganha contornos tangíveis – é nítido como Bodanzky mantém um exercício de direção cuidadoso, um olhar profundo em seus personagens que figuram-se como representações reais de uma sociedade sexualizada, capaz de gritar as próprias verdades e em busca de sonhos, idealizações. São jovens expondo seus pontos de vistas, são pequenos contextos da realidade – obviamente, o roteiro de Luiz Bolognesi é consequente de inúmeras pesquisas realizadas com diversos adolescentes. Por isso, o trabalho consegue ser surpreendente. Interessante como aqui o foco foge dos habituais estereótipos tão temáticos dos filmes brasileiros (miséria, fome, criminalidade) – para discutir mais a sensibilidade da puberdade, da voz da juventude brasileira.

Como um manual exercitado – não só aos adolescentes retratados, mas para os pais em geral – é um filme que prioriza os conflitos mais evidentes dos contextos juvenis. Antes de tudo, um olhar sobre a sociedade que insiste em mascarar problemas dentro dos próprios lares, que parece não exercer a compreensão em relação a um jovem – afinal, nem todo adolescente é sinônimo de desajuste e deliquência. Há muitos jovens antenados, interessados em modificar uma estrutura social; pessoas que se preocupam com seus próprios anseios e com o que ocorre a sua volta. Há os alienados estruturais, também. E aqui há todo um panorama verbalizado: a sexualidade é pautada não só na experiência vivida pelo personagem principal, Mano. Não só ele condiciona o roteiro no teor sexual, visto que há um pulso pelo senso das questões intrínsecas ao sexo através de contorno de outros personagens. A primeira descoberta, contato sexual estabelecido, é contornado pelas experiências vivenciadas por Mano. Porém, os coadjuvantes interferem e crescem na narrativa junto com ele. Enquanto Mano vivencia os dilemas de seus primeiros contatos com o sexo, a problemática invade a esfera de seu universo – o garoto enfrenta a descoberta da sexualidade do pai, já que este sai de casa e revela que namora um homem.
O tema do cyberbullying ganha maior evidência, este tipo de violência que, cada vez mais, provoca maiores índices de crescimento diariamente – efetiva a discussão da invasão de privacidade e da falta de ética humana em agredir mais e mais pessoas. E Laís Bodanzky abarca e amplia seu olhar nestes jovens que também sofrem de amor, são sufocados pelos estímulos dos sintomas da depressão – como Pedro (Fiuk), o irmão de Mano, que é trocado por outro pela namorada. Ele representa um jovem inseguro, frágil, que não consegue mais viver sem a dependência de uma pessoa ao seu lado. Em função disso, utiliza um diário virtual (blog) para expor seus pontos de vistas e sofrimento diário. Pedro é a personificação de alguém que não quer mais viver, que prefere cortar a dor. É então que o mote do suicídio, tão doloroso e controverso na atualidade, ganha exemplificação no filme. Há ainda espaço para discussões sobre assédios sexuais de professores para alunos, Caio Blat é o professor que tem sua ética profissional diagnosticada (e também colocada em prova) ao ser acusado de aliciar e influenciar sexualmente a jovem Carol (Gabriela Rocha), amiga de Mano. Daí, a discussão da relação ética entre aluno e professor tem uma sequência de debate bem proposta – mostra que o roteiro preocupa-se em promover uma reflexão em cima dos acontecimentos, uma espécie de debate constante.
Com toda a sensibilidade, realismo e dedicação, Bodanzky mostra que o cinema nacional também serve de reflexão para problemáticas íntimas. A sociedade sofre de males que imergem dentro das próprias almas, dos âmagos de cada um. Sua câmera particular investe em closes e concentra suas lentes bem nas feridas da sociedade, retratando sem artifícios uma juventude em ebulição – e também em auto-afirmação, ainda que as contradições sejam persistentes. O simbolismo cinematográfico proposto por Bolognesi e Bodanzky (ora dosa drama, ora humor) torna-se verdade por ser reconhecido por qualquer um. A gama de situações vividas por Mano, desde amizades dúbias a frustrações amorosas, de preconceitos e transformações das relações entre familiares – é a maneira de tornar crível o argumento pertinente. É contraditório como jovens também se sente temerosos em abandonar a infância, ainda que ansiosos pela experiência que só a maturidade pode conferir. A trilha sonora com elementos de Beatles e contribuição de Arnaldo Antunes, o ritmo homogêneo e os diálogos críveis que abordam as expressões da juventude – são elementos que tornam a película mais saborosa. A cinematografia consegue ser mais luminosa aqui, inovadora, dotada de grande eficiência diante da fidelidade realística do roteiro. O cinema brasileiro nunca fora tão juvenil, tão importante.