Faz décadas que a sociedade entende o que é o preconceito e como ele é prejudicial para a evolução da humanidade, no entanto, só recentemente uma parcela começou a observar melhor e descobrir que ele está muito enraizado na nossa educação, e à partir disso, começou-se uma análise sobre privilégios.
Essa autoanálise ocorreu com alguns diretores e foi transformada em cinema, como Alfonso Cuarón em “Roma”, e agora James Gray em “Armageddon Time”.
O diretor decidiu fazer um recorte de sua infância, onde ele relembra seu cotidiano com a família judaica, um pequeno período na escola pública, e principalmente a amizade com um garoto negro.
Já deu pra perceber que trata-se de uma abordagem nova na filmografia de Gray, responsável por obras maravilhosas como “Amantes”, “Era Uma Vez em Nova York” e “Ad Astra”. Esse é talvez seu filme mais previsível e simples.
É ele literalmente analisando seus privilégios e culpas, e sim, esse tema já está ficando bem batido, especialmente quando o diretor não traz nada de novo na narrativa.
No entanto, ainda assim o filme oferece momentos bonitos, novelescos, porém bonitos, como nas cenas de conflito entre pai e filho, mãe e filho, conselhos de um avô amoroso, e boas gargalhadas que só a primeira maconha pode oferecer.
Ambientado em Nova York nos anos 80, a história também conversa com a atualidade, brasileira e provavelmente mundial. Na trama, os pais do protagonista (Gray) se consideram progressistas, e temem a possibilidade que Ronald Reagan seja eleito presidente dos Estados Unidos, um conservador que defende oração nas escolas e combate ao comunismo. Em um dos momentos, é possível ouvir uma entrevista onde Reagan diz que aquela pode ser a geração que veja o Armagedom. E cá estamos nós vivenciando o Armagedom na era de Trumps e Bolsonaros.
Filme faz parte da programação da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo