O diretor James Gray (de Ad Astra, 2019) se inspirou em sua infância no bairro do Queens, em Nova York durante os anos 80 para escrever, produzir e dirigir seu mais recente filme: Armageddon Time. O longa é distribuído pela Universal, chega aos cinemas brasileiros no dia 10 de novembro e conta com um elenco de estrelas como Anne Hathaway, Anthony Hopkins e Jeremy Strong.
A história segue o personagem Paul Graff, interpretado pelo jovem Banks Repeta (O Telefone Preto,2022), ao longo de sua pré-adolescência. Durante o 6º ano, Paul inicia uma amizade com Johnny (Jaylin Webb de Anos Incríveis), um menino afro-americano com problemas em casa. Essa conexão entre os dois estimula Paul a pensar nas diferenças entre suas vidas, sua identidade artística e seu futuro profissional.
Dessa maneira, a dinâmica da família de Paul é usada para evidenciar o impacto de privilégio racial naquele período. Sua mãe, Esther Graf,vivida por Anne Hathaway (We Crashed,2022), é uma dona de casa dedicada à família e à educação acadêmica dos filhos. E seu pai, o engenheiro Irving Graff, interpretado por Jeremy Strong (Succession, 2022), é um homem fechado e sério, mas que demonstra certa mudança no decorrer da história.
Além deles, o filme percorre boa parte do tempo explorando o relacionamento entre Paula e seu avô Aaron, com Anthony Hopkins (Meu Pai, 2021) no papel. Os diálogos entre os dois trazem momentos de ternura e afeto para compensar a rigidez de algumas outras cenas. Nesse sentido, Armageddon Time toca em assuntos como racismo estrutural e sistemático, desigualdade social, antisemitismo e cenário político da época.
Por outro lado, essas discussões nunca são muito aprofundadas e, embora sejam afetadas pelas situações, as personagens não aprendem muita coisa. Um exemplo disso, é o personagem Johnny, o roteiro dedica pouco tempo para o arco dele. O filme se divide entre fazer uma análise dos acontecimentos externos e o drama de amadurecimento. Dessa forma, as performances são muito decentes, todos no elenco fazem um bom trabalho, porém, não são excepcionalmente marcantes.
Em entrevistas para a promoção de Armageddon Time, o diretor James Gray relatou que buscou transmitir as memórias de sua infância. Para mais, ele disse entender quem critica o filme por ser simples e pela ausência de mais nuances, porém, Gray discorda que sua história não consegue examinar e criticar o privilégio branco.
Assim, Armageddon Time transita entre as lembranças da infância do diretor, sua visão de mundo quando era criança e os fatos políticos e pessoais que marcaram sua família. Para acompanhar James Gray nessa jornada tão pessoal, é preciso entender que, nem sempre, ele vai responder ou explicar suas memórias da maneira que esperamos. Sobretudo, podemos compreender que o diretor deseja nos contar ao seu modo, e no seu ritmo.