O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A Crítica de Anos 90 possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação
SOU FÃ DO TRABALHO DE JONAH HILL DESDE QUE ELE ERA UM GORDINHO DESBOCADO TENTANDO SE DAR BEM COM A EMMA STONE EM SUPERBAD. Acompanhei empolgado sua trajetória, principalmente quando demonstrou ir além da comédia tradicional e começou a investir em produções mais “adultas” em O Homem que Mudou o Jogo ou O Lobo de Wall Street, por exemplo.
Ainda assim, nada poderia me fazer imaginar que Hill seria capaz de demonstrar uma sensibilidade tão aguçada para apresentar Anos 90, seu primeiro trabalho atrás das câmeras assumindo o papel de diretor. Com referências claras a Kids (Larry Clarke, 1995), sua estreia fala sobre a transição da infância para adolescência de um jovem que vive num lar meio desajustado.
Recentemente assistimos histórias estreladas por atores mirins como Oitava Série (Eight Grade, 2018) e Projeto Florida (Florida Project, 2017), mas Anos 90 tem um “lance” diferente. Primeiro porque o estilo da narrativa não aprofunda nos personagens e sentimos como se fossem vários recortes de momentos da vida do nosso protagonista Stevie. Segundo porque é uma visão saudosista do que foi crescer nos anos 90.
Stevie é interpretado por um moleque muito carismático chamado Sunny Suljic, cujo trabalho mais interessante até então era a dublagem de Atreus, filho de Kratos, no game God of War. Ele vive fugindo das surras do irmão mais velho e conversando com a mãe, que antigamente tinha um comportamento promíscuo que afetou o desenvolvimento psicológico do seu primogênito.
Aos poucos começa a se interessar por skate e andar com uns garotos mais velhos. É sutil a transformação do menino inocente que chegava em casa e dava um jeito de trocar de roupa ou passar perfume para a mãe não perceber que estivera fumando, para o pequeno delinquente destrutivo que começa a ligar o foda-se e chegar em casa trêbado. Stevie é a encarnação da vontade de deixar de ser criança, fazer amizades com as pessoas mais incríveis do mundo e encarar os problemas familiares.
Detalhe para a forma como Hill ainda encontra tempo para dar uma camada profunda para a relação de amor-ódio entre os amigos Ray (Na-kel Smith numa atuação sublime) e Fuckshit (Olan Prenatt). Enquanto o primeiro se dedica a tentar ter uma carreira de skatista profissional e precisa vencer o preconceito (e o racismo, como na primeira vez em que encontra a mãe de Stevie), o segundo sente ciúmes e inveja do amigo, que ao cortar os excessos passou a se aperfeiçoar muito ao skate.
Anos 90 é uma das produções mais interessantes de 2019 e se certamente não será lembrada pela maioria das pessoas que votarem nas listas de melhores filmes de 2019, pode ter certeza que vou fazer um esforço para incluir a dica na seleção de comédias dramáticas mais deliciosamente nostálgicas que tive o prazer de assistir durante os últimos doze meses.
Veja também a crítica de Anos 90 ao vivo no clube de cinema 365 Filmes em um Ano. Confira a análise ao vivo: