A clássica obra de Antoine de Saint-Exupéry ganhou as telonas em uma animação em 3D e stop-motion. Como não ficar empolgado? As expectativas para o filme de Mark Osborne eram altíssimas e talvez seja por isso que fiquei tão decepcionada. Eu já havia achado um pouco estranho juntarem o conto do icônico Pequeno Príncipe (Le Petit Prince, França, 2015) a uma outra história, mas o resultado foi pior do que eu imaginava. A produção não é ruim, mas também não faz jus ao livro francês.
Por mais que o diretor de Kung Fu Panda tenha feito um longa impecável em termos técnicos e a garotinha principal (Larissa Manoela) seja simpática, eles não compensam o roteiro mal desenvolvido. Aqui, o piloto (Marcos Caruso), que conhece o príncipe no deserto após um acidente, envelhece e é vizinho da recém-chegada jovem. Enquanto ele tenta fazer seu antigo avião decolar no quintal de sua casa, ela estuda durante as férias de verão antes de entrar para a aclamada Werth Academy. Sua mãe, uma mulher independente e extremamente sistemática, planejou toda sua programação naquele período e até para o restante da sua vida, mas o encontro da menina com o piloto muda tudo.
Um dos problemas é o fato da conexão entre a história dela e o pequeno príncipe ser feita de maneira incompleta e um tanto quanto estranha. Entendemos que ela conhece o piloto e ele lhe apresenta – de maneira bem fofa, por sinal – o habitante do asteroide B 612 e conquista sua atenção. Ok. Assim como qualquer um que leu a história original, alguns acontecimentos que envolvem o garotinho deixam a garota confusa e irritada. Ok também. Mas, e aí? Essa relação dela com o piloto e o príncipe resulta em quê, serviu de quê? O terceiro ato da produção é ainda mais confuso e fãs do livro podem até achar bem bizarro, para ser sincera. Eu achei bem nada a ver e a ligação não ficou clara.
Outra questão é a obra de Saint-Exupéry em si. A discussão sobre o ser humano, o amor, a morte, o dinheiro, enfim, tudo que é levado à tona pelo escritor, jamais é abordada de maneira profunda e comovente. É tudo muito rápido e, como ainda temos a história da Filha, não dá para captar a essência do Pequeno Príncipe direito. Temos muita informação para 1h45 de filme, por isso acabamos tendo um resultado um pouco superficial.
Nessas horas que eu penso: por que inventaram a história da garotinha e não focaram apenas no livro? Por mais que eu tenha adorado o fato da animação ter usado computação gráfica nas partes do piloto e stop-motion nas da obra literária, por que não fizeram um filme totalmente em stop-motion para a clássica obra? Ou em 3D? Ou até misturar ambas as tecnologias de alguma maneira, mas com foco total no príncipe? A meu ver, perderam uma ótima oportunidade de produzir uma adaptação memorável do personagem.
Dói no coração ter que dar uma nota tão mediana para uma história tão bonita, mas Osborne não honrou O Pequeno Príncipe. A história da jovem e do piloto é até interessante, mas jamais fica clara a sua conexão com o livro, o fim é esquisito e o que era mais importante ficou de lado: o livro que dá nome ao filme. Não foi dessa vez Saint-Exupéry.