NÃO IMPORTA AONDE SE PASSA A HISTÓRIA DE UMA ANIMAÇÃO JAPONESA, você sempre acha que está em algum lugar do Japão. Colmar, a cidade francesa pela qual modelou-se o filme, dá certos ares de Europa na obra de Hayao Miyazaki. Este, porém, patriota escancarado, não deixa as marcas nipônicas de lado nem para contar a história muito inglesa baseada nos livros de Diane Wynne Jones.
Miyazaki já havia adaptado o primeiro livro da série Castelo Animado em O Castelo No Céu. Eu assisti a versão dublada em inglês, e muito lamentei apesar do ótimo trabalho da Disney em adaptar o texto original. Sei lá, não tem a mesma graça se não for na língua em que foi feito o filme. Queria que fosse em japonês, mas… É a vida. Não me diverti menos; esta é apenas a encheção de saco de uma cinéfila tarada.
Em O Castelo Animado acompanhamos a história de Sofî, uma chapeleira que é salva de oficiais abusadores por Hauru, um misterioso mágico loiro, alto e de olhos azuis. Atarantada (obviamente, que mulher ou colega colorido não ficaria?), vai para a casa e aí é que começam as bizarrices: uma bruxa vai visitá-la na loja de chapéus e a transforma numa velha. Sofî sai em busca de uma cura para o feitiço e acaba encontrando um espantalho vivo (sim, que sai saltando mundo afora. Coisa de louco), que a leva a um castelo peculiaríssimo – que mais tarde ela descobre ser de Hauru – e a um demônio do fogo, que a ajuda em troca de seus serviços domésticos (de limpeza, colegas. Calma lá, filme para crianças!). Em meio ao caos de uma guerra, amor, amizade, aventura e feitiços vão acontecendo, numa mistura bizarra de se explicar mas fabulosa de se ver.
É bater na mesma tecla dizer que o visual é lindo, mas não dá pra fugir: QUE VISUAL MARAVILHOSO! A cada filme do Miyazaki que assisto, fico mais louca com as imagens em escalas épicas – muita natureza, extrema dedicação aos detalhes, construções colossais… Os personagens possuem cores tão vivas, de uma fineza nos traços e uma fluidez de movimentos inovadores. A festa popular, o palácio, as casas, as ruas de pedra! Que beleza, que dedicação! É a disciplina japonesa, meus caros. Resultado de um trabalho primorosamente longo, com certeza. Mas nada vence o grande personagem, o mais interessante e mais bem feito: o próprio Castelo Animado. A estrutura de lata velha por fora, a caixinha de surpresas que é por dentro e o que transforma ao redor é uma premissa fantástica. Os livros de Wynne Jones dão a liberdade a Miyazaki de dar uma pirada na metafísica e fazer o que quiser. As cores sempre determinam o clima das cenas e a mistura de delicadeza e monstruosidade (algo tão presente na mitologia japonesa e, claro, nas obras de Miyazaki) é novamente pauta. Atenção para os animais – elementos símbolo da arte do diretor. O cachorro asmático e a metamorfose de Hauru em homem-pássaro são muito legais. Este último ser de Miyazaki já havia aparecido, repaginadamente com outro personagem, em A Viagem de Chihiro.
O Castelo Animado atraiu fãs como Christian Bale (que topou dublar qualquer personagem no filme após assistir A Viagem de Chihiro), Gore Verbinski (que usou o filme como referência para fazer Rango) e a própria autora Diane Wynne Jones. O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Filme de Animação. Apesar de ser a segunda adaptação dos livros, este filme corresponde ao primeiro livro da série. Tomara que Miyazaki resolva acabar com suas férias indeterminadas e volte para nos encantar com outra beleza da animação – quem sabe fechando a trilogia Castelo Animado com “A Casa dos Muitos Caminhos”, conclusão aguardada pelos fãs do diretor e da autora em todo o mundo.
Título original: Hauru no ugoku shiro
Direção: Hayao Miyazaki
Produção: Toshio Suzuki
Roteiro: Hayao Miyazaki (adaptado do romance de Diane Wynne Jones)
Elenco: Chieko Baishô, Takuya Kimura, Akihiro Miwa, Tatsuya Gashûin e Ryûnosuke Kamiki
Lançamento: 2004
Nota:[quatroemeia]