Amor, Sublime Amor: o ambicioso trabalho de Spielberg

Falar que Steven Spielberg é um diretor ambicioso é redundância, haja vista  que gigantes do cinema como Tubarão (1975), Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981) e  Parque dos Dinossauros (1993) só poderiam ter se tornado o sucesso que são, se Spielberg não tivesse medo de desafios, e certamente ele não tem. Por isso ele escolheu, como seu primeiro musical, refilmar o clássico de 1961: Amor, Sublime, Amor. 

Tanto o filme de 1961 quanto o de 2021 são uma releitura da trágica fábula escrita por William Shakespeare, Romeu e Julieta. Na trama, a moça Maria, interpretada por Rachel Zagler, se apaixona pelo jovem Tony, interpretado por Ansel Elgort, porém, a rivalidade entre as gangues dos Jets, brancos descendentes de europeus, e os Jarks, imigrantes porto-riquenhos, acaba por dificultar o romance entre eles. 

Embora a versão de Steven Spielberg demonstra que ele tem muito carinho pelo original e, em muitos momentos, o diretor consegue elevar as coreografias de algumas canções tornando-as mais vibrantes em suas cores e ritmos, de uma maneira geral, algumas escolhas não trouxeram profundidade às histórias e personagens. 

Dessa forma, os dois filmes tentam promover discussões sociais que infelizmente continuam muito atuais. Os conflitos raciais nos Estados Unidos, os imigrantes sendo tratados como invasores que não deveriam estar ali e a violência policial são expostas aqui. Mas são apenas exposições vazias, alguns personagens estão jogados e outros tomam decisões que não combinam com suas personalidades. 

Outro ponto fraco da versão de 2021 está na falta de química entre o casal protagonista. Veja bem, parte da premissa da história, requer que a audiência torça pelo casal loucamente apaixonado, que precisa enfrentar suas origens, suas famílias e todo o preconceito de um bairro inteiro em guerra por território. Na minha visão, o diretor de elenco que conseguiu enxergar atração entre os dois atores, precisa consultar um oftalmologista. Há duas cenas em especial, que deveriam ser momentos lindos de amor e ternura entre eles, mas me deixaram constrangida. 

De maneira geral, o elenco trazido por Spielberg é mais diversificado e respeitoso com as origens dos atores, em sua maioria, são latino-americanos. Destaque para a atuação de Rita Moreno, que, ainda bem, teve um papel escrito para ela e não apenas uma mera figuração de luxo. Contudo, a ambição do diretor de A Lista de Schindler (1993) não foi capaz de deixar esta versão mais mágica, mais apaixonada ou mais imaginativa. Talvez minha decepção seja com minhas próprias expectativas, inevitavelmente, de Steven Spielberg, eu esperava mais.