Em Homens de Preto temos um grupo de agentes secretos, destinados a proteger o planeta Terra de toda e qualquer tipo de invasão alienígena. A existência do MIB é preservada e sempre que alguém descobre algo sobre a organização ou presencia algum evento extraterrestre, tem a sua memória apagada instantaneamente por um dispositivo. Em Cidade dos Anjos existe um grupo de seres destinados a nos proteger e inspirar, trabalhando sob o olhar atento do Todo Poderoso (não, não é o Jim Carrey ou o Morgan Freeman). Além da roupa preta, os dois grupos de personagens tem em comum o fato de serem os filmes mais próximos do que Agentes do Destino se propõe.
O roteiro é baseado em um conto de Phillip K. Dick, que era um maluco que vivia chapado de LSD e escrevia algumas histórias em menos de duas semanas, se aproveitando dos efeitos alucinógenos das drogas. Dentre os livros e histórias que Dick escreveu, destacam-se: Blade Runner, Vingador do Futuro e Minority Report, obras que renderam filmes bem interessantes. E que compartilham a mesma visão pessimista sobre o quanto o futuro pode ser uma merda tão grande que nos fará ter saudades do presente. Ou do passado, sei lá. (estou numa vibe De Volta Para o Futuro, me desculpe). Agentes do Destino acaba fugindo um pouco da regra e não tem nenhuma grande viagem envolvendo carros futuristas, marcianos deformados ou videntes controlando a segurança da população. Talvez a história tenha sido escrita durante um período clean de Dick, numa dessas “viagens” de parar com as drogas e toda a loucura. Vai saber…
Agentes do Destino dá a impressão de ser um filme sci-fi, mas então percebemos que ele é um (bom) filme de romance disfarçado de ficção-científica. Explico o motivo: existem histórias de amor que são proibidas, como Romeu e Julieta, por exemplo. No caso do filme estrelado por Matt Damon e a (deliciosamente deliciosa) Emily Blunt, não existe nenhuma briga entre as famílias, mas existe uma coisa que podemos chamar de “roteiro do destino” e os “guardas” ou agentes do Destino (qualquer impressão com a polícia do Karma é mera coincidência) que tem a missão de preservar a ordem.
Quando David Norris (Damon) se encontra por acaso com Elise Sellas (Blunt), o destino dos dois fica em perigo e os tais agentes do Destino precisam dar um jeito de separar o casal e recuperar o plano original. O problema é que a química intensa da dupla é forte demais para ser quebrada…
Com o foco no romance, o texto acaba pecando por não explorar o conto de Dick da forma desejada. Provavelmente seria um filme (ainda) melhor se houvesse preocupação em demonstrar Norris ficando paranóico com a ideia de ter a sua vida completamente observada e descobrir que o livre arbítrio é apenas uma ilusão, que ele está vivendo na Matrix… Faltou um pouco de coragem do diretor e roteirista George Nolfi em não entregar os pontos e optar pelo caminho mais fácil de agradar ao público. Como é que um político inteligente e correto como Norris poderia se deixar conformar tão facilmente depois de descobrir tantas coisas sobre a vida? Longe de dizer que a opção pelo (lindo) romance do casal não tenha sido acertada, mas incluir um pouco de mistério não teria feito mal algum.
Optando por um humor sutil e com sequências dignas de deixar o espectador sem ar (como na parte final, onde Damon e Blunt começam a passear pela cidade através das portas utilizadas pelos agentes), Nolfi consegue tirar o melhor de seus atores. Se os agentes vivem em cima do muro e incapazes de esboçarem emoções ou serem classificados como heróis ou vilões (mesmo assim o ator Terence Stamp dá um show), é o casal que salva a barca. Damon nem tanto, mas a atuação de Blunt é apaixonante. Qualquer um se derreteria por ela, numa mistura de tesão animal e romantismo poético. Descrever a personagem dela seria como falar de quando se conhece e se apaixona por alguém. Elise é uma personagem irresistível e é de longe o melhor motivo para se assistir ao filme. De preferência se você for homem e estiver solteiro.
Agentes do Destino é uma história de amor para quem acredita que certas pessoas nasceram para ficar juntas. Independente das dificuldades e dos obstáculos que o destino coloca no meio do caminho, nada será forte o suficiente para superar o sentimento real. É (quase) emocionante (de dar lágrimas) refletir sobre a sensação que preenche o vazio no coração de Norris e como ele arrisca tudo (leia-se: sua potencial carreira política) por conta desse amor. No cinema ainda existem pessoas dispostas a acreditar no que ouvem do coração. Infelizmente na vida real não é assim e qualquer pessoa com o mínimo de bom senso, prefere escolher a si mesmo do que uma vida com outra pessoa… Difícil saber quem tem mais razão: a vida ou a ficção…