Bela - Amanhecer - Parte 2

A Saga Crepúsculo: Amanhecer – O Final

O Cinema de Buteco adverte: o texto a seguir possui spoilers e deverá ser apreciado com moderação.

A Saga Crepúsculo: Amanhecer - O Final Familia
APÓS O FIM DOS CRÉDITOS DE A SAGA CREPÚSCULO: AMANHECER – O FINAL, fiquei me perguntando o que poderia ter sido da franquia se Bill Condon tivesse assumido a direção desde o primeiro filme, que foi comandado por Catherine Hardwicke. Ainda que esteja distante de ser considerado um cineasta bom, Condon conseguiu sucesso no que seus três antecessores fracassaram miseravelmente: transformar uma adaptação da série de livros Crepúsculo em um produto atraente além do público adolescente feminino.

Sim, é duro admitir. Confesso que refleti muito durante os créditos. Estava incrédulo. Pensei até que havia dormido durante o filme e que a qualidade era apenas produto de minha (às vezes) fértil imaginação. Ou então é apenas mais um sinal de que eu estou precisando fazer exames neurológicos urgentemente. A verdade é que Bill Camisinha atendeu o pedido que fiz no final da minha (longa) crítica de Amanhecer – Parte 1 e conseguiu fazer mais do que apenas conciliar entretenimento imbecil com guilty pleasures: ele fez um bom filme – mas nada incrível ou genial, vale ressaltar. Os haters irão se debater, perderei seguidores no Twitter, receberei menos cutucadas no Facebook, mas é isso aí. A Saga Crepúsculo: Amanhecer – O Final me surpreendeu positivamente e mesmo depois de desabafar para a minha namorada (e ter que lidar com esta resposta aqui), me sinto na obrigação de tentar defender o derradeiro final da saga criada por Stephenie Meyer.

A trama se passa imediatamente após a transformação de Bella (Kristen Stewart) no filme anterior. Agora ela é uma vampira e pode retribuir os carinhos do seu marido, a fada Edward (Robert Pattinson). Ao mesmo tempo em que descobre seus novos poderes de vampira/Sininho, Bella tem que lidar com o crescimento acelerado de sua filha, e também com a ameaça do clã de vampiros badass Volturi, cujos objetivos são exterminar com os Cullens e a pequena Renesmee.

A Saga Crepúsculo: Amanhecer - O Final - Lee pace
Ainda durante o primeiro ato, enquanto Bella e Edward conversam sobre os rumos de suas vidas, parecia que o longa-metragem seria uma verdadeira comédia involuntária e que superaria A Saga Crepúsculo: Eclipse, de David Slade, o terceiro da série (e que justamente pelo seu humor era o meu favorito até então). Bella diz que agora tem a mesma temperatura do corpo do amado. Sério. Tive que me segurar para não gritar: “Sabia que você era uma frígida!”, e tive que me contentar com um comentário no ouvido da minha companheira crespuculete, também conhecida como a senhora minha mãe. Aliás, o humor foi muito bem dosado desta vez. A cena em que Jacob (Taylor Lautner) revela seu segredo para Charlie (Billy Burke) é hilária por conta de sua ambiguidade dupla: fora o óbvio, também é possível interpretar o momento em que o lobisomem depilado tira suas roupas como a parte da alegria das ninfomaníacas adolescentes e como uma espécie de paródia do próprio personagem, já que esses momentos de “calor intenso” são obrigatórios desde Lua Nova, de Chris Weitz. Claro que é tudo uma questão de interpretação. Há quem diga que Lautner e Condon não teriam consciência disso e que é apenas mais uma exibição dos músculos do ator, mas cinema não é e nunca será uma equação exata. Vale dizer que Lautner permanece vestido por praticamente o filme inteiro.

Parte do sucesso do filme reside justamente na introdução de novos (e interessantes) personagens. O romance de Edward e Bella já foi consumado loucamente e acabou aquela enrolação chata dela ficar na dúvida entre o vampiro que brilha e o lobisomem depilado. Inclusive, até mesmo Jacob aparece menos. Depois de levar uma surra por ter tido um imprinting com a pequena Nessie (acredito que tenha sido uma bela piada sobre a lenda do lobo mau), o personagem fica quase como um figurante. O carisma de Lautner é ofuscado por Lee Pace, que interpreta o vampiro mulambento Garrett. Benjamin (Rami Malek) é outro personagem curioso, especialmente com a ajuda dos efeitos visuais. A apresentação destes novos “heróis” desvia o foco do triângulo amoroso, e o espectador pode se sentir atraído a mergulhar de vez na trama. Uma pena que Amanhecer – O Final não funcione 100% sem os conhecimentos prévios, mas arrisco dizer que vale uma experiência.

O terceiro ato reserva o melhor momento da franquia (é mérito mesmo?), superando até mesmo a perseguição da vampira ruiva ao som de “Hearing Damage”, em Lua Nova. Curioso dizer que, apesar de ser o melhor momento, ele utiliza uma técnica que, particularmente, tenho verdadeira ojeriza. O espectador é levado a acreditar em algo fodástico, para logo depois descobrir que não era bem assim. Em uma comparação um pouco grosseira, posso dizer que recurso semelhante foi usado recentemente em Homens de Preto III, que deu novo significado para tudo que havia sido apresentado no primeiro filme. Apesar deste detalhe incômodo, toda a sequência é emocionante. É incrível sentir pena do destino de algum dos personagens principais durante o confronto, que apresenta o melhor momento de Aros (Michael Sheen, um ator excelente) na franquia.

A Saga Crepúsculo: Amanhecer - O Final - Aro - Michael Sheen
O roteiro preenche algumas das pontas deixadas nos filmes anteriores. Finalmente é explicado o motivo que protege Bella dos poderes de outros vampiros. O problema é aceitar que ela tinha esse poder desde quando era uma mera humana com cara de bunda. A explicação parece forçada, mas não incomoda tanto quanto a falta da resposta para a cena final de Lua Nova, quando Aros diz que tem muitos planos para o clã dos Cullen. Deixar a solução (ou a ausência dela) para o espectador é um exemplo dos motivos que deixaram tanta gente com raiva da história de amor de uma menina maluca com um vampiro que brilha.

O Green Day recebeu a missão de cuidar da música tema da trilha sonora, que pela segunda vez consecutiva não incluiu nenhuma faixa dos britânicos do Muse (banda favorita de Meyer e que emplacou “Supermassive Black Hole”, em Crepúsculo; “I Belong to You”, em Lua Nova; e “Neutron Star Collision (Love is Forever)”, em Eclipse). A música “The Forgotten” é uma balada xarope e que em nada se parece com o som punk rock de garagem da época dourada do Green Day. Talvez seja o peso da idade, enfim. Pelo menos é melhor que a música “It Will Rain”, de Bruno Mars, que foi trilha do filme anterior. Se você ficou interessado em saber mais sobre os videoclipes da Saga Crepúsculo, clique aqui para ler a edição especial que fiz para a coluna Cineclipado, no Cinema em Cena.

Queimei a língua de uma maneira inesperada, porém nem de longe fiquei chateado por ter perdido a oportunidade de fazer meu terceiro texto escrachando a franquia. A grande questão é que até mesmo o cinema é capaz de nos surpreender aos 49 minutos do segundo tempo. A Saga Crepúsculo: Amanhecer – O Final dá um pouco de dignidade para seus quatro antecessores (só um pouco, ok?) e apresenta um desfecho eficiente para a história dos seus personagens. Que venha um Transformers 4 revelando as qualidades desconhecidas de Michael Bay. Ok, acho que forcei a barra agora e serei queimado vivo enquanto as pessoas gritam: “seu herege! seu herege! Ainda por cima não gosta de Beatles! Seu herege!”

A Saga Crepúsculo: Amanhecer - O Final - Poster

Dedicado especialmente para minha querida amiga Grace Clara, que um dia receberá um belo pôster de Crepúsculo. Ainda que ele esteja um tanto amassado.

Nota:[tresemeia]

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