REVIEW A MENINA QUE MATOU OS PAIS A CONFISSÃO - carla diaz

Review A Menina que Matou os Pais – A Confissão: Desfecho mostra a burrice dos assassinos

O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A Crítica do filme A Menina que Matou os Pais – A Confissão possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação para todos que viveram em uma caverna e desconhecem a história real. 

 

poster a menina que matou os pais – a confissãoA DUPLA DE CINEBIOGRAFIAS DO CASO DA ASSASSINA SUZANE VON RICHTOFEN ESTREOU EM 2021. Na época, o trio criativo liderado pelo diretor Maurício Eça, e pelos roteiristas Raphael Montes e Ilana Casoy, surpreendeu os assinantes do streaming com dois filmes. Um para cada perspectiva dos assassinos condenados. A jogada deu certo. Foram duas obras competentes para saciar o desejo mórbido de ter intimidade com um crime chocante. Além, claro, de uma elogiada atuação de Carla Dias.

Com o lançamento do terceiro filme, A Menina que Matou os Pais – A Confissão, me pergunto qual a necessidade de levar para o cinema uma história que já tinha sido explorada com qualidade. Não questiono os méritos e qualidade dos envolvidos, de forma alguma, mas a necessidade de insistir nas repetições. Por outro lado, esse mesmo defeito, é uma grande qualidade. Hollywood vive de adaptações, continuações, refilmagens etc. Isso acontece porque é uma aposta mais “garantida”, do ponto de vista financeiro. Identificar isso no cinema nacional é uma conquista importante. 

Sinal que a dobradinha original superou expectativas e os caras que liberam a grana perceberam um potencial imenso de seguir lucrando com essa história. Lembrando de um passado não tão distante, em que seres obtusos e estúpidos cometiam atentados contra a cultura nacional, é um grande alívio confirmar essa retomada do nosso cinema, seguindo a tendência de comportamento dos usuários a consumirem conteúdos de “true crime”.Por isso, do ponto de vista de marketing e negócios, A Menina que Matou os Pais – A Confissão talvez seja o maior sucesso nacional de 2023. 

Dito isso, agora vou parar de falar de marketing e comentar a obra artística.  

Diaz continua, merecidamente, com o foco total e tem a atuação mais marcante. Afinal, viver uma psicopata desequilibrada é sempre um prato cheio para grandes artistas brilharem. Diaz está mais “confortável”, se é que podemos falar isso, na pele da personagem e seus momentos de explosão de ódio são um tanto assustadores. Uma pena que não deu para encaixar aquela época bizarra em que a assassina começou a agir como uma criança. (Mas isso não é uma ideia, tá, produtores? Não façam A Menina que Matou os Pais – O Julgamento lol) 

O reencontro com Allan Souza Lima após a série Cangaço Novo também é um ponto de destaque. Nos filmes anteriores, Cristian era apenas um coadjuvante que não recebia a devida atenção – seja da parte do roteiro focado no casal ou da nossa própria ignorância sobre a qualidade do seu trabalho. Agora é diferente. A gente sabe quem é esse cara e ele tem a nossa atenção. Quem também cresce muito no terceiro filme é Augusto Madeira, na pele dos pais dos irmãos Cravinhos. Ele faz a gente sentir toda a dor e frustração de um pai que se recusa a acreditar nos atos dos próprios filhos. 

O roteiro é sagaz na (des)construção do mito em torno dos assassinos. Ele deixa claro o quanto o casal se achava inteligente e acreditava realmente que escaparia do crime. É como se eles tivessem uma viseira para impedir de enxergar o quanto são (e foram) burros. O cinismo, a impulsividade e ganância são retratados de forma competente e fugindo do risco de cair no moralismo. É óbvio que são criminosos que deveriam ter permanecido atrás das grades por muito mais tempo, mas precisamos reconhecer as opções do roteiro em evitar transformar os assassinos em “artistas” ao mesmo tempo em que foge do caminho de ser apenas um panfleto de “o crime não compensa”. 

Pessoalmente, fiquei muito chocado com as sequências finais, essas mesmo que dão o título do filme. O pouco que sei de Direito se revelou como um completo nada. A confissão é arrancada dos assassinos em cenas de verdadeira tortura psicológica. Não estou dizendo se foi justo ou não, que os matadores mereciam um tratamento mais humano (talvez parecido com o que deram para as suas vítimas, quem sabe?), mas como uma confissão dessas foi sustentada? Não precisava ter um advogado presente? Até saí do filme, reclamando dos responsáveis, mas pelas minhas pesquisas, parece que realmente aconteceu desse jeito. Claramente, um outro sintoma claro de como nossa sociedade fracassou e deveria ser cancelada pelo tribunal do Xwitter. 

A Menina que Matou os Pais – A Confissão não precisava existir porque pouco acrescenta para a narrativa desses personagens. Por outro lado, com o interesse elevado em série de true crimes, seria um desperdício deixar apenas produções norte-americanas se beneficiarem disso. Mixed feelings, mas o saldo final está mais verde que vermelho. Como artista, eu preferiria ver Montes trabalhando em uma adaptação do seu romance Jantar Secreto do que considerando criar mais para esse “universo”. O mesmo pode ser dito sobre a especialista em serial killers Ilana Casoy, que tem um verdadeiro acervo de histórias que poderiam tirar o sono do público. Mas não podemos esquecer. Além de ter o nosso amor, o cinema é também uma indústria movida pelo dinheiro. E a grana segue a atenção das pessoas, no caso, em crimes chocantes… 

Veja a crítica de A Menina que Matou os Pais – A Confissão no Canal do Cinema de Buteco no YouTube