Fui perguntar pra minha querida irmã, o que ela tinha achado de A Lula e a Baleia. Sua resposta: “é muito bom mas… não tem final!!”. É… O fato é que ela não está de todo errada. Mas o sentido desse, e de tantos outros filmes está justamente nisso. Não há fim, quando a história não acaba, e quando não há uma lição a ser tirada. Há apenas um episódio da vida daquelas pessoas a ser acompanhado por nós.
E no caso de A Lula… o episódio é dos mais corriqueiros: uma família, começa a ver suas estruturas se abalarem, quando os patriarcas Bernard (Jeff Daniels) e Joan (Laura Linney – como é talentosa essa mulher não?!) decidem se separar. O que acompanhamos na cena inicial é o que vai acontecer em (quase) todo o filme: o caçula Frank (Owen Kline) fica do lado da mãe, e o mais velho Walt (Jesse Eisenberg) , ao lado do pai, com que se identifica bastante.
Cada um dos componentes dessa família tem uma característica bem própria, e ao mesmo tempo bem peculiar, o que não faz com que nos identifiquemos com os personagens em si, mas com o momento que estão vivendo. O pai, está frustrado por não ter sido bem sucedido em sua carreira de escritor, se vira dando aulas de literatura e acaba se sentindo atraído por uma aluna. A mãe por sua vez se lança na carreira de escritora, incentivada pelo então marido, e passa a fazer sucesso, embora desconte suas frustrações do antigo casamento tendo casos com alguns homens da vizinhança (normais, nunca intelectuais, diz Bernard a seu filho, numa das várias falas muito bem escritas deste roteiro que concorreu ao Oscar). Frank, está descobrindo sua vida sexual agora, e se espelha muito em seu pai, tentando ser o intelectual que aquele homem representa para ele, plageando até uma música do Pink Floyd (Hey You, que das poucas coisas que conheço deles, é certamente a mais bonita) para impressioná-lo. E por último Walt, que no início da puberdade, experimenta todas as bebidas alcoólicas da mãe e tem manias digamos um pouco… estranhas. O fato é que, como não há uma história, apenas um episódio, eles não são assim; apenas estão assim.
Toda a atmosfera do filme, principalmente a fotografia, remete a um senso de realismo muito grande. A direção, repleta de cortes rápidos, nas cenas e na trilha (muito boa diga-se de passagem), é muito ágil, e é muito interessante a auto-referência a esse tipo de edição, quando Bernard cita Acossado de Godard. E não seria de se surpreender se o filme tivesse algo de auto-biográfico, tanto pelas especifidades das situações, tanto pela época em que é ambientado – na década de 80.
Pais tão fracos e infantis quanto os filhos, insegurança e novas descobertas, a necessidade de se manter um contato amigável apesar da dor que uma separação acarreta (a cena da conversa na porta da casa de Joan com Bernard é muito bonita), o momento em que os pais passam a ser figuras desmitificadas… Tudo isto está lá. Muito bem amarrado e filmado em um filme enxuto, que não apela para diálogos emocionantes para emocionar. O que está em jogo é a solidão daqueles personagens, que se mostra ainda mais presente dado o momento que vivem. E no caso dos filhos principalmente, como passam a viver com isto, agora que já não tem o amparo dos pais.
E voltando ao assunto do fim, ou melhor, do fim que não existe, uma referência ao tílulo: quando Walt volta ao Museu de História Natural, para visitar a estátua da Lula e da Baleia que costumava ver quando criança com sua mãe, e não sente o medo que costumava sentir. Não é só a estátua que consegue ver com seus próprios olhos, sem a descrição da mãe: é o mundo mesmo.
E talvez o filme seja sobre isso: sobre como aquelas pessoas passam a viver sem uma referência que tinham e que não existe ou não é mais a mesma (no caso a família). E não há um final feliz aqui. Agora é hora de continuar vivendo.
Totalmente recomendável (sem exageros…)
Vou dedicar esse post pra ela então… (ana rita, a propósito!!)