(A.I. – Artificial Intelligence) De Steven Spielberg. Com: Haley Joel Osment, William Hurt, Jude Law, Frances O’Connor, Meryl Streep, Chris Rock, Robin Williams, Ben Kingsley.
O fato é que gosto de Inteligência Artificial, embora ache que ele funcionaria muito mais nas mãos de Kubrick. Spielberg tem mania de amenizar histórias, de não aprofundá-las. Um adulto e uma criança poderiam assistir a este filme, ambos o entenderiam igualmente. Está é e sempre foi a intenção de Spielberg: fazer filmes para toda a família (com raras exceções).
Li o conto do qual o filme foi adaptado. Do autor Brian Aldiss (do também conhecido e adaptado pro cinema A Ilha do Dr. Moreau), Super Brinquedos Duram o Verão Todo é muito mais pessimista do que o quis mostrar Spielberg. É a história de um robô programado para amar incondicionalmente quem o possui. Quando o amor que foi programado para sentir não é correspondido por sua dona, cujo filho não está mais em coma como quando comprou o robozinho, ele sai em busca daquilo que julga ser a única solução para reverter a situação: se tornar um menino de verdade, com a ajuda da fada azul, como na história de Pinóquio, que tanto ouviu da sua “mãe”.
De onde vem o amor? Alguma vez nos damos conta do quão artificiais nossos sentimentos podem se tornar? Amar é procurar alguém para possuir e satisfazer certa falta, preencher alguma lacuna? O que diferencia o robozinho do filho de Mônica (a tal mãe amargurada) é sua constituição física apenas: isso dá o direito de descartá-lo como lixo? Qual o sentido da vida (exagerei agora…)?
Questões como esta, abordadas no conto (e que certamente o seriam também no filme, no caso de Kubrick como diretor) são deixadas de lado, em favor de um drama apenas. Drama bem construído e dirigido e principalmente bem interpretado: Haley Joel Osment como David é sensacional! Onde está esse garoto!?!?! Vindo de um sucesso como O Sexto Sentido ele rouba a cena, e as feições que confere ao robô tem ao mesmo tempo a artificialidade que demandam sem deixar de ser humanas. Lindo. Jude Law como o amigo improvável de David, e que nas horas vagas é um gigolô dá o tom trágico e engraçado a seu personagem. Não podemos deixar de falar o ursinho Teddy e sua rabugentisse crônica (coisinhas fofas de Spielberg). E Frances O’Connor como a mãe de David: sua repulsa quando presencia atos de amor do robozinho incomoda e ao mesmo tempo é real e possível, quando se trata dos sentimentos humanos.
No conto original a mãe alcoólatra passa a odiar mais ainda o robozinho David quando este, pensando em satisfazê-la lhe dá álcool para beber. No filme de Spielberg o máximo que ele faz é um cafezinho. Talvez esta seja a diferença. Mas se Spielberg quer emocionar, pode-se dizer que sua missão foi cumprida: a cena final é de cortar o coração…