Crítica: A Dama de Ferro

*Texto escrito antes do Oscar 2012.

 

O PROBLEMA DE A DAMA DE FERRO É O FATO DA PERFORMANCE DE MERYL STREEP SER FEITA SOB ENCOMENDA PARA INDICAÇÕES E POSSÍVEIS PRÊMIOS. Mesma coisa que aconteceu com o papel de Colin Firth e seu O Discurso do Rei, de Tom Hooper, no Oscar de 2011. O leitor pode perguntar de que maneira uma interpretação feita sob medida para obter reconhecimento e prêmios possa ser considerado algo negativo, mas a resposta é que soa como covardia.

Todo mundo que acompanha a carreira de Streep sabe o quanto a atriz é eficiente em suas atuações. Se já é complicado disputar um prêmio da Academia em uma atuação de uma personagem normal, imaginem como é que Glenn Close (Albert Nobbs), Rooney Mara (Millennium – Os Homens Que Não Amavam as Mulheres), Michelle Williams (Minha Semana Com Marilyn) e Viola Davis (Histórias Cruzadas) se sentiram ao descobrir que disputariam o Oscar de Melhor Atriz com Streep por sua participação na cinebiografia de Margareth Thatcher, Primeira-Ministra da Grã Bretanha? Da mesma forma que Firth era o candidato absoluto na disputa de Melhor Ator em 2011, a situação se repete em 2012, com a grande possibilidade de Streep vencer o Oscar novamente.

A Dama de Ferro peca por ser uma espécie de masturbação intelectual para o talento de Streep, que está em praticamente todas as cenas do longa-metragem dirigido por Phyllida Lloyd, de Mamma Mia!. Sem respeitar uma narrativa cronológica, a produção é fragmentada, numa alusão para os problemas que a Primeira-Ministra sofria. O caos do longa-metragem é reflexo da própria consciência de Tatcher, que sofria com alzheimer. A força do filme não está no roteiro e nem no aspecto político da história, já que tudo sempre gira em torno das atitudes e ações da personagem de Streep. É quase como se o filme tivesse apenas o objetivo de reunir momentos “importantes” da carreira de Thatcher e apresentar ao público como vestígios de sua lembrança distorcida e abalada.

Além de Streep, a única coisa que vale a pena ser elogiada na biografia é a excelente maquiagem criada para reforçar o avanço da idade da personagem. Deixa como uma lição para os responsáveis pelo setor em J.Edgar, de Clint Eastwood. Tudo bem que envelhecer Meryl Streep deve ser bem mais fácil do que Armie Hammer e Leonardo DiCaprio, mas é preciso talento e competência para realizar um trabalho convincente, que a equipe de A Dama de Ferro conseguiu cumprir.

Os fãs de Streep não terão dificuldades em apreciar o seu trabalho no filme, mas apenas os mais xiitas serão capazes de ignorar o fato de A Dama de Ferro ser fraco e deixar muito a desejar, especialmente se comparado com o já fraco O Discurso do Rei, que pelo menos tinha um elenco inspirado acompanhando Firth. Só o talento de uma atriz não é o bastante para evitar um desastre.

 

Nota: