
Logo no início de 2h37, temos uma cena cheia de significados: um passeio por um colégio americano (cujo nome nunca é citado), em câmera lenta ao som de música clássica. A impressão é de uma ordem inabalável, que no fundo esconde pequenos conflitos latentes, que, ao longo da história irão vir á tona.
Na verdade não há nada que já não tenhamos visto em um filme de Gus Van Sant em se tratando de estética cinematográfica. Mas temos que concordar que o diretor estreante Murali K. Thalluri (que também cuida do roteiro e da montagem), se apropriou do que há de melhor desta estética realista, para compor uma história que em nada deixa a desejar quando comparada a um Elefante por exemplo.
O que temos é a rotina normal de uma escola americana, só interrompida quando o corpo de um aluno é encontrado em uma sala. Voltamos um pouco no tempo, e a partir daí passamos a conhecer a vida de alguns daqueles estudantes, que Muralli tratou de particularizar com aspectos bem característicos, que vão desde de estereótipos mais conhecidos (o jogador de futebol americano que luta contra o fato de ser gay, e sua namorada deslumbrada, gravidez indesejada, etc) até tipos bem atípicos (o adolescente londrino que nasceu com duas uretras !!!). Acompanhamos então seus momentos de crise sempre motivada por uma incapacidade de se adaptar àquele meio tão hostil para qualquer um que seja diferente.
O filme é cheio de momentos inspirados, como no plano sequência em que vários personagens são vistos ao mesmo tempo, compondo um único momento que é o do início das aulas; o diálogo onde um aluno defende seu direito de constituir uma família, mesmo que não nos moldes convencionais; os depoimentos gravados bem ao estilo “filme de fim de ano”, mas que servem como uma espécie de divã onde conhecemos de fato aqueles jovens. E, é claro, a sequência onde revela-se o que realmente aconteceu, uma cena forte e de grande impacto emocional.
Só o que fica é uma impressão de que quando se trata de filmes sobre a adolescência (sobretudo norteamericana) temos apenas dois caminhos apenas: o primeiro é aquele que retrata a descoberta da sexualidade, tipo American Pie; o outro é sobre adolescentes depressivos que não vêem sentido na vida, sempre prestes a cometer suicídio, caso de Confissões de Adolescente, Ken Park, e deste 2h37. Apesar da qualidade de alguns destes títulos, é sempre bom ter algo diferente, e que veja o jovem como uma pessoa capaz de lidar com seus problemas de forma madura e positiva, como no recente Juno, talvez único exemplar desse tipo (minha memória não anda muito boa). Mas é só uma observação, o que não faz com que 2h37 não seja uma experiência válida. Recomendo pra todos aqueles que não estejam em depressão….