
Para começar devo deixar bem claro minha total parcialidade nesse texto, pois infelizmente não tem como deixar meu instinto de fã de lado para escrevê-lo. Danny Boyle é ídolo, é mestre, um dos reis da cultura pop e junkie, ele não faz apenas filme, faz hit. As pessoas comentam dos filmes do Danny por no mínimo um ano. E 127 Horas de forma alguma foge à regra. O filme é brilhante do começo ao fim e chega a ser transcendental em algumas cenas. Danny Boyle acertou mais uma vez e temos aí um filme pra dar o que falar durante todo o ano.
A história escolhida dessa vez pelo diretor foi a de Aron Ralston, alpinista e praticante de esportes radicais que em 2003 ficou preso pelo braço à um rochedo durante 5 dias e usou de meios nada ortodoxos para garantir um desfecho feliz (já está em todo o canto na internet, mais eu faço questão de não mencionar aqui, já que não quero ninguém me odiando. Pra mim, se não tá no trailer é spoiler). O filme junto com “Enterrado Vivo” faz coro à tendência de “cine-claustrofobia” que rolou ano passado, e que sem dúvidas veremos satirizadas em muitos filmes de comédia esse ano.

Porém o que dá gosto de ver no filme não é o seu roteiro (apesar de ser incrível), mas sim a direção da obra. Danny se supera a cada dia. O diretor novamente nos presenteia com sua incrível fotografia, e dessa vez utiliza-se de instrumentos vinculados no meio esportístico para deixá-la ainda mais incrível. A câmera muda o tempo todo: hora temos as incríveis paisagens que praticamente se casaram com a câmera, hora temos a própria câmera do personagem que documenta toda sua trajetória (e, diga-se de passagem, estava super bem equipado), hora temos as lembranças do personagem e a ótima câmera desfocada, e em alguma horas, acredite se quiser, temos até efeitos computadorizados de fast motion.
Aí, como se não bastasse tudo isso, Danny ainda chama o James Franco pra protagonizar o longa. Sério, o cara está incrível em todas as cenas do filme! James dá humor, dá uma dose extrema de drama, dá suor, dá raça pro personagem e, segundo o Danny Boyle, não poderia ter achado ninguém melhor para o papel. Danny diz isso por que o Aron, segundo ele, é tudo isso: esse misto de humor com muita emoção, e, acredito eu, que depois da experiência vivida deve estar transparecendo isso muito mais.
Não poderia faltar também o grande destaque para a trilha de A.R. Rahman (Quem Quer Ser Um Milionário) que ora nos presenteia com lindas composições próprias e ora com incríveis músicas de artistas super conceituados, como canções originais de Édith Piaf, Chopin, a música do Scooby Doo e acredite se quiser até Sigur Rós (incrível não?). Mas o destaque fica mesmo pela canção “If I Rise” composta por Rahman e pela fantástica Dido, e executada na linda cena da premonição que ele tem com o seu futuro filho (é para encher de água os olhos), isso momentos antes da cena decisiva do filme. Porém pra mim a melhor música é “Never Hear Surf Music Again” da banda Free Blood tocada assim que abre o filme. A música misturada as incríveis imagens selecionadas por Danny Boyle (que fazem todo o sentido se pararmos pra analisar o filme), dão um gostinho de “quero muito ver esse filme”. Enfim, a trilha sonora dá um texto à parte só sobre ela.

Acho que já deu pra sentir que o filme é incrível mesmo né? Tanto nas ótimas e bem humoradas gravações na câmera do personagem, como na entrega do drama na cena crucial do filme, James está impecável, e Danny não fica pra trás e está igualmente incrível. Para acompanhá-lo em cena Danny Boyle escolheu Clémence Poésy (Gossip Girl) e Kate Mara (Nip/Tuk, a atriz com o rosto mais retrô “anos 70” de toda hollywood), como vemos… Cultura pop latente.
O filme já é bom o tempo todo, mas reserva as emoções mais fortes para o final. Mas não se preocupe que se você for igual à maioria das pessoas de estômago fraco que viram o filme, pode sair nessa cena que não perde muita coisa, a não ser a própria cena (que você já não queria ver mesmo). Mas se quiser ouvir Sigur Rós, aguarde até os instantes alegres do final, onde todos nós vibramos com Aron, e acredite: é possível se inspirar vida. São 5 caipirinhas, claro!
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Danny Boyle
e Simon Beaufoy
Elenco: James Franco
Clémence Poésy
Kate Mara
Amber Tamblyn
e Treat Williams
Ano: 2010
Duração: 1h e 32 min