O Brasil ganhou um Oscar. E, como bons brasileiros, ao invés de estarmos apenas comemorando, estamos também brigando, fazendo memes e, claro, sendo silenciados na internet.
A noite do Oscar 2025 marcou um feito histórico para o cinema nacional: Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, levou a estatueta de Melhor Filme Internacional. Foi uma conquista que o Brasil esperava desde Central do Brasil e que quase veio com Cidade de Deus. Mas, dessa vez, era real. Subimos ao palco, ouvimos um discurso emocionado e, por um breve momento, o cinema brasileiro estava no topo.
Só que, quando os brasileiros foram às redes sociais para celebrar, veio a surpresa: as postagens sobre a vitória simplesmente sumiram do Instagram do Oscar para quem acessa do Brasil e da Europa. Isso mesmo. A Academia ocultou o próprio anúncio do nosso prêmio. Se você mora nos EUA, pode ver tudo. Se é brasileiro, parece que a gente ganhou, mas não pode ver ninguém falando disso. Um Oscar de Schrodinger: aconteceu, mas você só pode assistir se estiver no lugar certo.
A explicação para esse fenômeno misterioso? O engajamento brasileiro foi tão intenso – aquele mesmo que transforma qualquer coisa em trend – que aparentemente assustou a Academia. Nossa energia digital, que geralmente transforma um reality show em caso de polícia e faz dancinha virar revolução cultural, agora virou um problema para a maior premiação do cinema. O resultado? Um bloqueio para o Brasil, porque nada pode ser simples quando se trata de nós.
O prêmio e a piada
Se o sumiço das postagens já não fosse bizarro o suficiente, os brasileiros também tiveram que lidar com o apresentador do Oscar, Conan O’Brien, fazendo piada com Ainda Estou Aqui no monólogo de abertura. Com aquele humor autodepreciativo típico, ele soltou:
“Ainda Estou Aqui é sobre uma mulher lidando com o desaparecimento do marido. Minha esposa disse que é o filme mais feliz do ano.”
O público riu. Mas no Brasil, a piada pegou mal. Afinal, o filme não é só um drama sobre luto, mas uma história sobre a ditadura militar brasileira e o desaparecimento forçado de Rubens Paiva. O tipo de tragédia que, para muitos, ainda é uma ferida aberta. Resultado? Twitter pegando fogo, discussões acaloradas e brasileiros exigindo respeito.
Para completar, teve meme. Muitos memes. Do “liberem a publicação do Oscar para o Brasil” até teorias de conspiração dignas de um roteiro de Hollywood. Se o Oscar não quis que a gente falasse sobre nossa vitória, conseguiu o efeito contrário: agora estamos falando mais do que nunca.
Entre a glória e o apagamento
A ironia disso tudo é que, por décadas, o Brasil sonhou com esse momento. Filmes incríveis como O Pagador de Promessas, O Beijo da Mulher-Aranha e Central do Brasil chegaram perto, mas nunca levaram o Oscar para casa. Agora que conseguimos, o prêmio vem acompanhado de polêmicas, piadas e censura digital.
Mas quer saber? Isso é bem a nossa cara. Nada no Brasil acontece de maneira convencional. Se ganharmos a Copa do Mundo de novo, alguém vai derrubar o troféu. Se um brasileiro vencer o Nobel, pode ter certeza que no dia seguinte vai rolar um escândalo aleatório. Somos o país onde tudo vira um evento paralelo – e agora até o Oscar entrou nesse jogo.
No final, Ainda Estou Aqui não ganhou apenas uma estatueta. Ganhou um lugar na história do cinema brasileiro. O bloqueio das postagens? A piada do apresentador? Apenas mais capítulos na novela que é ser brasileiro. E, sinceramente, já estamos acostumados a transformar polêmicas em carnaval.
E aí, Oscar, ainda estão aí ou já sumiram de novo?