Dando uma pausa na discussão que vem tomando conta das últimas “Papo de Abstêmico” (bom, ninguém está lendo mesmo, mas estão aqui e aqui), decidi prestar uma singela homenagem a algumas musas do cinema. Perceba, como esse é um tema muito amplo, fiz um corte temático. Sei que muitos não concordarão com as ideias aqui apresentadas, mas… paciência. Ah, não poupei adjetivos, então espero que entendam a minha homenagem como uma demonstração do meu amor ao cinema e às mulheres, que não cabe em relativizações. Deixo a todas as mulheres, como sempre, minha imensa admiração e respeito nesse e em todos os dias. Temos algumas colaboradas realmente talentosas aqui no Cinema de Buteco. Adoraria ler uma discussão entre elas sobre os “musos” do cinema. Então, meninas, mãos à obra.
MUSAS
Como se adquire o título de musa? Me lembro de um texto do Inácio Araujo refletindo sobre as musas atuais do cinema nacional. Afirmava-se, no que também acredito, que para ser musa é necessário mais do que beleza. É preciso uma história no cinema, trabalho com grandes diretores e relevância. Nesse sentido, para mim, Marilyn Monroe é uma musa absoluta, e, por mais gostosa (e como era gostosa, senhor) que a Jayne Mansfield fosse, ela nunca poderá ser considerada uma. Pode-se defender o contrário, mas essa seleção, e toda sua reflexão tem um caráter estritamente pessoal.
Para mim, as grandes musas nesses mais de 115 anos de cinema se concentram em três décadas específicas; 40 e 50 em Hollywood e 60 na Europa. Existem razões para isso, é claro, como a força do star system, o surgimento de cinemas novos no velho continente, o papel feminino se modificando no mundo entre outros aspectos. Não estou interessado nessas análises, e sim na apreciação das belezas que proporcionaram. Acho que esses 30 anos representam o suprassumo da beleza feminina nas telas.
No início do cinema, anos 10 e 20 do século XX, as estrelas não são tão atraentes. Mary Pickford e as irmãs Gish não são precisamente bonitas. De maneira geral, os rostos são intercambiáveis, parecidos. A maquiagem faz o favor de tornar tudo ainda mais homogêneo. Mesmo as gostosas da época são fracas. Clara Bow e Theda Bara não sobreviveriam em uma época mais estética. Essa última, inclusive, era bem feinha.
A partir da década de 30, com o som, as interpretações ficam mais naturais, e as belezas mais particulares começam a aparecer. É o tempo, muito mais interessante das europeias em Hollywood, da sexualidade ambígua e das feias. Greta Garbo, Marlene Dietrich, Bette Davis e o começo da Katharine Hepburn pavimentam o caminho para as verdadeiras maravilhas que iriam aparecer nas décadas de 40 e 50. Das três décadas só consigo defender duas belas exceções, que vou citar mais tarde.
A partir da década de 70, com as mudanças ocorridas em Hollywood, o foco migra dos atores para os diretores, assim como já havia ocorrido na Europa. Isso gera uma melhora significativa nas produções (e como teve filme bom na época), mas os papéis mais humanos, um melhor desenvolvimento dos personagens, e tramas mais pessoais diminui o espaço para divas. A partir da década de 80 o cinema foi ficando cada vez mais débil mental, e, infelizmente, o papel renegado às mulheres seguiu essa tendência. Para entender um pouco mais sobre essa época leiam o livro “Easy Riders, Raging Bulls: Como a Geração Sexo-Drogas-e-Rock’n’Roll Salvou Hollywood” do Peter Biskind. Não é um livro sobre mulheres (embora seja repleto de sexo), mas mostra como o cinema americano se reergueu de maneira espetacular apenas para cair vertiginosamente logo em seguida. De repente volto a comentar sobre ele em futuras colunas.
Os últimos 30 anos continuaram o emburrecimento sistemático de Hollywood, e os filmes genéricos, com seus papéis genéricos resultaram em gostosas genéricas. O excesso de procedimentos e intervenções cirúrgicas fizeram o resto. Não espere ver uma nova era de musas; o mundo, o cinema, e mesmo as mulheres, mudaram. Se uma atriz medíocre como a Megan Fox dá chilique e não quer participar da terceira parte desnecessária da sua orgia Hasbro, não se acanhe, você pode encontrar facilmente outra atriz igualmente medíocre, talvez um pouco menos gostosa, como a Rosie Huntington-Whiteley para fazer o papel de porta deliciosa e indefesa que você tanto precisa. A única coisa certa é que em um futuro não muito distantes ambas estarão esquecida, e, pelo andar da carruagem, horrorosas como Barbies.
É uma pena realmente. Não me levem a mal, ainda há, como sempre houve, mulheres sensacionais (e sempre vou lembrar com carinho a primeira vez que vi a Angelina Jolie em “Sob o Luar de Mojave” e Charlize Theron em “Contrato de Risco”), mas o tempo das musas parece ter acabado… Não para nós, que louvamos agora 12 dessas verdadeiras maravilhas cinematográficas.
Louise Brooks |
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Da década de 20 do século XX abro uma exceção para a Louise Brooks. Sou louco com ela. Essa americana fez o caminho inverso do natural e, em 29, foi fazer filmes na Alemanha. Trabalhando com Pabst realizou duas obras-primas: “A Caixa de Pandora” e “Diário de uma Perdida”. Com seu corte de cabelo característico, foi modelo de beleza na época. Sexualmente liberal, teve casos breves com Chaplin e com a Greta Garbo (ah décadas de 20/30), além de ter posado nua para fotos artísticas. Recentemente tem influenciado (assim como a Audrey Hepburn) hypsters. Não deixe isso (malditos hypsters!) diminuir sua apreciação, ela continua sendo um exemplo de talento, além de foda e deliciosa. Lembrem-se crianças “Não existe Garbo. Não existe Dietrich. Existe apenas Louise Brooks“. |
Hedy Lamarr |
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Ok, serei sincero, a Hedy Lamarr está aqui por causa de um filme e um filme apenas. Não que ela tenha sida uma atriz de apenas um sucesso. Muito pelo contrário, trabalhou com vários dos diretores de alugueis preferidos dos estúdios e com os atores bacanas da época. Foi até mesmo Dalila em uma daquelas encarnações exageradas e grandiloquentes do Cecil B. DeMille. Estava bem gostosa nesse filme, aliás. Mas, para mim, a Hedy Lamarr é mesmo a atriz de “Êxtase” dirigido pelo Gustav Machatý em 1933. Como ela está sensual nesse filme! Para envergonhar essas atrizes cheias de caras e bocas que pipocam por aí. Se não viu, veja. É um belo filme, corajoso e bem filmado. E a Lamarr… Ah Lamarr.
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Rita Hayworth |
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Sinceramente? A Rita Hayworth nunca foi uma atriz genial. Uma das duas mais fracas entre as escolhidas. Talvez mesmo a mais fraca. Mas o seu trabalho em musicais, lábios, pernas e, principalmente, cabelos garantem uma lembrança aqui. Quem consegue se esquecer de Gilda? Você aí, adora “Um Sonho de Liberdade” e não foi atrás de Gilda? Vá. Não vai mudar sua vida. Pelo menos sua vida cinéfila, mas talvez os belos vestidos no belo corpo de Rita Hayworth possam povoar seus sonhos. Ah o tempo em que Hollywood fabricava estrelas…
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Liv Ullmann |
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Hoje em dia não acho a Liv Ullman linda como já achei, mas além da bela boca, olhos grandes e perspicazes, ela foi essencial em minha veia cinéfila, quando me encantei por Bergman aos 14 anos. Nesse sentido é importante lembrar da Bibi Andersson também. Ela está tão linda em “O Sétimo Selo”… Mas ainda prefiro a Ullman, talvez pela história, talvez pelos lindos lábios grossos. E que atriz… “Gritos e Sussuros”… uau. E tem uma característica que adoro em mulheres, envelhecer bem. Ainda está elegante até hoje. Musa.
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Lauren Bacall |
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A Lauren Bacall, além de deliciosa (que boca senhor, que boca), tem ainda outros atributos que garantem o seu lugar no panteão das musas. Foi casada com Bogart, continua ativa apesar dos quase 90 anos, tem um olhar que transpira Noir e uma voz que te faz largar todo o seu bom senso. A Bacall tem um rosto tão expressivo que já é uma narrativa em si. É possível criar uma história toda só de olhar para ela. E nessa história, ela te leva à ruína. Doce ruína.
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Catherine Deneuve |
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A Catherine Deneuve não é propriamente gostosa, mas tem uma beleza marcante, enigmática, com um olhar languido apaixonante. Ela é ao mesmo tempo extremamente sensual e também inocente. Essa dualidade que garantiu o seu sucesso em papeis com diretores tops na década de 60, como Polanski, Melville e Demy. O grande (grande, grande, grande) Buñuel percebeu claramente essa característica de Deneuve e por isso a escolheu para “A Bela da Tarde”. Ela funciona bem ali pois é tanto Séverine quanto a prostituta vespertina. Uma mulher linda, que dá vontade de casar. Envelheceu bem e continua trabalhando com diretores interessantes como Manoel de Oliveira, Ozon e Trier. Bela.
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Ingrid Bergman |
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Não que essa seleção precise de uma dose extra de talento. Na média, acredito que as atrizes são bem talentosas (sem trocadilho). Mas boas atuações nunca são demais, e Bergman foi uma das maiores da história. Com papéis memoráveis em filmes dirigidos por gente do naipe de Hitchcock, Lumet e Ingmar Bergman (não eram parentes), ela sempre impressionou com seu bom trabalho, o que garantiu diversos prêmios durante sua carreira. Sua beleza é menos óbvia do que de outras aqui. Mais contida, pode-se afirmar, mas não menos interessante. Com o rosto redondo, belas bochechas, olhos claros e muitas vezes tristes, apresentava um sorriso que nunca se excedia. O tom suave de sua fisionomia a transforma na perfeita namoradinha. Ah… dá vontade de apertar. |
Sophia Loren |
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Gostosa! Muito, muito, muito Gostosa. Com g maiúsculo mesmo. Sophia Loren representa tudo o que se espera de uma italiana: olhos claros e expressivos, lábios carnudos, cabelos naturais levemente cacheados e voluptuosidade absurda, com seios fartos e pernas torneadas. Dá água na boca só de pensar. Foi uma grande atriz também, realizando um belo trabalho com diretores como Ettore Scola e, principalmente, Vittorio De Sica, além da parceria inesquecível com Marcello Mastroianni (que teve um longo relacionamento com a Deneuve, já citada). É uma daquelas mulheres inesquecíveis ao primeiro olhar. Não entendo a fixação de algumas gerações com a Gina Lollobrigida. Com Sophia Loren não é preciso de mais nada.
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Grace Kelly |
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Grace Kelly era linda. Irritantemente linda. Daquelas que você perde horas olhando. Uma boneca de cera. Linda como uma princesa. Sua carreira foi curta por causa disso, largou o cinema para assumir a realeza em Mônaco. Foi uma das principais musas de Hitchcock (ele teve algumas outras que poderiam ser citadas aqui, como Tippi Hedren, Janet Leigh e, principalmente, a gostosa da Kim Novak), participando de filmaços como “Janela Indiscreta” e “Disque M para Matar”. Fez ainda o maravilhoso “Matar ou Morrer” (talvez um dia escreva sobre o papel das mulheres nos antigos faroestes). Os belos olhos, cabelos dourados e rosto desenhado da atriz são eternos. |
Brigitte Bardot |
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Ah, sou apaixonado com a Bardot. Ela não era nem de perto uma atriz talentosa, ou mesmo uma pessoa brilhante, além de ter envelhecido mal como poucas, mas trabalhou com Godard em um dos seus melhores filmes e Malle em mais de uma ocasião. E como era deliciosa. De-li-ci-o-sa. Desde a tenra idade, quando fez “Manina” com apenas 18 anos, até seu último filme “Se Don Juan Fosse Mulher”, com quase 40, nunca foi menos do que maravilhosa. Os lábios apetitosos, olhar sensual, seios lindos, um belo par de pernas e uma bunda cinematográfica garantiram seu lugar, praticamente inalcançável, de símbolo sexual no imaginário de cinéfilos em todo o mundo. Esquece os anos de dedicação aos direitos animais, quando ela embarangou de uma maneira que poucos poderiam prever. Sabemos, logo ao olhar para ela; Deus criou Bardot. Ainda bem.
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Elizabeth Taylor |
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Tudo bem, a Elizabeth Taylor envelheceu mal. Bem mal, aliás. Mas seu trabalho humanitário a partir dos anos 80 compensa, e muito, esse fato. Além disso, o talento extraordinário e a beleza paranormal da atriz a garantem em qualquer lista de musas. Os belos olhos violetas, o contraste magnífico entre a pele clara e o cabelo preto selvagem, o busto farto e corpo escultural a fazem objeto de desejo óbvio de qualquer homem. Além de tudo isso, ela conta com uma das biografias mais interessantes em Hollywood, com seu envolvimentos com álcool e drogas, inúmeros casamentos (8 no total, sendo dois seguidos com o Richard Burton) e o roubo do marido de uma amiga. Mas quem pode culpar o coitado do Eddie Fisher? Se você tivesse que escolher entre a Elizabeth Taylor e a Debbie Reynolds faria a mesma coisa, não?
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Claudia Cardinale |
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Minha musa absoluta do cinema de todos os tempos é mesmo a Claudia Cardinale. Que italiana maravilhosa. Com um olhar que convida claramente ao sexo, cabelos escuros e lindos, traços suaves e perfeitos além do corpo maravilhoso, com busto farto e voluptuosidade na medida certa, ela é o que mais próximo já vi da perfeição no cinema. É para chorar; morrer lembrando, como o Rémy de “Invasões Bárbaras”. Apesar de ter trabalhado com grandes diretores como Visconti e Fellini, e mais tarde com Herzog, é mesmo em Leone que ela se torna Mito. Por mais obcecado que eu seja com “8½”, tudo o que veio antes e depois se eclipsa diante de cada cena dela em “Era uma Vez no Oeste”. Tudo ali é memorável, de sua sedução/sujeição com Henry Fonda, o encantamento/desnorteamento com Charles Bronson à antológica cena de confronto com Jason Robards (que foi casado com uma musa lembrada aqui), na qual sua personagem afirma: “If you want to, you can lay me over the table and amuse yourself. And even call in your men. Well. No woman ever died from that. When you’re finished, all I’ll need will be a tub of boiling water, and I’ll be exactly what I was before – with just another filthy memory”. É ou não é para se apaixonar? Musa eterna. |
Bom, espero que tenham gostado, como eu, de lembrar algumas das musas do cinema. Com certeza vários nomes, por inúmeros motivos, foram deixados de fora, mas fiz a minha escolha pessoal. Outras opiniões são sempre bem vindas; defenda, com paixão, outros nomes nos comentários. E meninas, como já afirmei antes, não considerem a coluna machista, foi só uma forma de declarar meu amor ao cinema e às mulheres. Sugiro que façam o mesmo com os homens do cinema, lembrando de nomes como Paul Newman, Marlon Brando, Alain Delon e James Dean. Afinal, nada mais excitante do que o bom cinema… Até o próximo Papo de Abstêmico.
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