Em um mundo onde a indústria da beleza vende juventude eterna como se fosse um programa de milhagem, Brooke Shields está fazendo algo praticamente revolucionário: admitindo que o tempo passa e que tudo bem.
A atriz e ex-modelo de 59 anos lançou seu novo livro, “Brooke Shields Is Not Allowed to Get Old”, e aproveitou a turnê de divulgação para jogar na cara da sociedade uma verdade inconveniente: Hollywood trata mulheres acima dos 40 como leite fora da geladeira – com data de validade e tudo.
Durante uma aparição no Good Morning America, Shields falou sobre o crime hediondo de envelhecer aos olhos do público. “É importante entender de onde viemos, mas também é ótimo dizer: ‘Eu posso não saber exatamente para onde estou indo, mas estou aqui’”, disse, o que basicamente significa ‘Aceitem que do alto dos meus quase 60 anos, eu sigo plena enquanto vocês esperneiam’.
O Tribunal da Internet e a Nostalgia Masculina Seletiva
Claro, ser uma mulher com rugas e opinião tem seu preço. Shields contou que, durante uma live no Instagram, recebeu um comentário carinhoso de um seguidor:
“Gostaria que você ainda parecesse como antes.”
Sim, porque a gente sabe que esse mesmo cara provavelmente parece um pacote de miojo amassado e nunca se perguntou se ele ainda está apresentável para o mundo.
Outro usuário perguntou: “E sua mãe?”, ao que Shields, com a classe de quem já ouviu muita besteira na vida, respondeu:
“Ela está morta.”
E não é essa a melhor resposta para qualquer tentativa de reduzir uma mulher ao seu passado? Sim, querido, o tempo passou. Sim, as pessoas mudam. Sim, sua mãe também envelheceu e, acredite, ela gostaria que você superasse essa obsessão com juventude eterna.
O Terror da Indústria da Beleza: Mulheres Que Param de Correr Atrás da Juventude
Além de um livro, Shields também lançou uma marca de cuidados capilares voltada para mulheres acima dos 40. Por quê? Porque, pasmem, o cabelo também envelhece e ninguém tinha parado para pensar nisso antes.
Ela explicou que muitas mulheres relatam que os fios ficaram mais finos e quebradiços com o passar do tempo. O que é interessante, porque quando os homens ficam calvos aos 30, o mercado só lhes oferece duas opções: aceitar ou implorar por um implante capilar que custa o equivalente a um carro popular.
Ainda assim, Shields deixa claro que não é contra intervenções estéticas – desde que sejam feitas por vontade própria, e não porque alguém na internet acha que ela precisa parecer como em A Lagoa Azul para continuar existindo. “Tenho medo de não parecer eu mesma. As vezes que fiz Botox, fiquei com um olho de Spock e pensei: ‘Essa não sou eu’”, disse.
Hollywood, o Machismo e a Obsessão Pelo “Novo em Folha”
Se A Substância, aquele body horror feminista que chocou Cannes, nos ensinou alguma coisa, é que a indústria do entretenimento adora transformar mulheres em produtos descartáveis. No filme, Demi Moore vive uma atriz veterana que injeta uma substância milagrosa para recuperar sua juventude e, adivinhem só? Ela literalmente começa a se dividir em versões mais jovens de si mesma, enquanto a original é jogada fora como um iPhone velho.
Agora, troque a ficção pela realidade e veja Brooke Shields encarando um sistema que basicamente faz o mesmo, mas sem efeitos especiais. Quando homens de Hollywood envelhecem, viram “lendas”, “galãs maduros”, “atores versáteis”. Quando mulheres envelhecem? Bom, elas ganham comentários online pedindo para voltarem a parecer como eram aos 20.
A diferença é que Brooke não está interessada em virar um clone rejuvenescido para agradar ninguém. Se alguém quer uma “versão mais jovem” dela, azar. O estoque acabou.
Então, em resumo, Brooke Shields segue plena, realista e debochada, enquanto a indústria do entretenimento e uma parcela da audiência masculina lidam com o insuportável fato de que mulheres continuam existindo depois dos 40 – e pior, sem pedir desculpas por isso.