As Mulheres, O Cinema e Algumas Histórias de Amor

Empolguei-me depois de relembrar as minhas musas do cinema durante a gravação de uma edição do Podcast do Cinema em Cena (que teve participação da nossa Ana Andrade) e percebi que a relação com a sétima arte é realmente bem parecida com um romance, inclusive tudo que vivi em relação ao cinema foi por causa de uma mulher: a minha avó. Ela era uma frequentadora assídua dos cinemas da capital mineira e tinha o hábito de levar a minha mãe como companhia, enquanto minha tia recebia a missão de cuidar de mim, na época com pouco mais de um ano. Alguns verões se passaram e em 1992, aos sete anos, ela me levou ao cinema pela primeira vez.

Assisti Batman – O Retorno, de Tim Burton. Foi uma estreia atípica para uma criança, embora eu sempre fizesse questão de dizer que o Batman era meu personagem favorito e todas essas coisas. Foi a primeira experiência e no auge de minha inocência, mal reparei naquela fantasia colante e nas atitudes sedutoras da Mulher-Gato interpretada por Michelle Pfeiffer. De qualquer maneira, foi por influência de minha avó e das visitas religiosas ao cinema (que se tornaram um hábito que duraria de 1996 até 2002 – ela se revoltou comigo quando eu resolvi que queria ir sozinho e depois nunca mais me levou) que tenho essa paixão pelos filmes, sendo assim, não há outra mulher mais importante no meio de toda essa relação que desenvolvi com o cinema.

O tempo passou e aos 12 anos de idade, ainda um fã alucinado do Homem-Morcego (algo que nunca será superado), tomei conhecimento de que o próximo filme do personagem teria o Sr. Frio, Hera Venenosa e Bane como vilões, além da participação de Alicia Silverstone como Batgirl. Silverstone havia virado uma das minhas atrizes favoritas na época e culpa disso era o clipe de “Crazy”, do Aerosmith. Mas quem estava arrebatando o meu coração era mesmo a Uma Thurman. Quem é essa mulher? Eu me perguntava enquanto tudo que eu tinha de informações sobre ela era uma edição antiga de uma Playboy com algumas fotos dela na praia. Foi meu primeiro amor cinematográfico e como acontece na vida real, ela não correspondeu e destruiu meu coração depois de tratar o Bane como um cachorro babão e ser parte de Batman e Robin, de Joel Schumacher, um dos piores filmes produzidos na década de 90. Nem mesmo descobrir que ela estava em Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, reacendeu o amor.

vai dizer que tem como não se apaixonar?

Superei a primeira decepção com um novo amor (exatamente como na vida real) e conheci uma saga chamada Star Wars em 1998. Comprava todas as revistas para me informar sobre o filme e foi então que, no meio de toda a empolgação com a coisa Jedi e as tranças super legais, descobri a presença de uma certa Natalie Portman. Me lembrava dela por sua atuação no fenomenal O Profissional, de Luc Besson. Agora ela seria uma rainha de um planeta distante e o interesse amoroso de Anakin Skywalker. Ela nunca foi uma atriz sensacional, mas o charme e a aparente inocência que ela transmitia com seus olhares foram um golpe fatal para um jovem bobinho. Nos anos vindouros, Portman viria a raspar a cabeça em V de Vingança, de James McTeigue; flertar com Jude Law e Clive Owen em Closer, de Mike Nicholls; e ganhar um Oscar por Cisne Negro, de Darren Aronofsky.

Mas ainda assim, por maior que fosse minha admiração pelo trabalho de Portman (e a forma como nenhuma outra atriz chamava a minha atenção), parecia tudo muito censura 12 anos e sem graça. As coisas logo mudaram quando “conheci” Angelina Jolie em 60 Segundos, de Dominic Sena. Era o tipo de relação que faltava na minha vida e o olhar e os lábios da atriz me atormentaram durante anos. A vídeo da canção “Painted on My Heart”, do The Cult, deixava evidente o poder daqueles olhos no personagem de Nicolas Cage. Imagine como aquilo não afetou um garoto empolgado e que vivia rejeitado por todas as garotas da escola (é bem clássico se apaixonar pelas meninas impossíveis, o que renderia um comentário ainda maior, mas o foco é o cinema)? Angelina Jolie lançaria o polêmico Pecado Original, de Michael Cristofer, em 2001 e numa época em que ela era a mulher mais importante da minha relação com o cinema, claro que as expectativas para descobrir as curvas da atriz eram imensas (vale ressaltar que tive que despistar a minha avó e fui sozinho ao cinema). Eu não me decepcionei, mas logo meus hormônios deixaram de influenciar minhas preferências cinematográficas e eu seria capaz de diferenciar o tipo de admiração que eu sentia pelas grandes personalidades do cinema.

 

Depois do meu primeiro beijo, primeira namorada, primeira transa etc, as mulheres ganharam um papel ainda mais importante na minha vida e o amor e o respeito acabaram se multiplicando. Felizmente nenhuma namorada implicava com o fato de eu dizer que havia sonhado que a Angelina Jolie roubava o meu carro da garagem ou que fui assassinado por uma loira com um picador de gelo e que a Jodie Foster iria investigar o crime. Na verdade, isso era motivo de piada para elas e eu vivia naquele eterno conflito em tentar descobrir se elas riam de mim ou comigo. Criei uma paixão arrebatadora com o filme Tudo Acontece em Elizabethtown, de Cameron Crowe, e parte disso era por conta da personagem de Kristen Dunst e a maneira como ela me fazia lembrar dessa garota que eu namorava e morava em outra cidade. Sou incapaz de não me deixar levar por belas histórias de amor, ainda mais quando são protagonizadas por belas e talentosas atrizes.

Felizmente eu mantive toda a relação controlada e nunca apareci com o rosto de nenhuma atriz tatuado no meu corpo (existe um sujeito norte-americano que tem mais de 80 tattoos da Julia Roberts espalhadas pelo corpo) e isso evitava brigas com as respectivas namoradas, que entendiam bem aquilo tudo. Até que a Scarlett Johansson apareceu na minha vida e arruinou meu namoro ainda mais do que quase havia acontecido depois que conheci a Jessica Biel em O Massacre da Serra Elétrica, de Marcus Nispel.

 

Em 2006, já com 21 anos nas costas, eu me senti como se estivesse assistindo ao romance de Liv Tyler (outra atriz que virou musa depois de interpretar Arwen na trilogia de O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson) com Alicia Silverstone em “Crazy” pela primeira vez. Quem era aquela mulher? Comecei com O Grande Truque, de Christopher Nolan, e logo passei a acompanhar a sua carreira com um incrível e entusiasmado interesse. Minha ex-namorada não gostava muito, embora afirmasse que não deixaria de tirar uma casquinha de Johansson se tivesse a chance.

Definitivamente, todos temos consciência de que existem atrizes muito mais significativas para serem mencionadas durante uma homenagem ao dia das mulheres, mas qual a graça de repetir os mesmos nomes e histórias que todos os cinéfilos estão acostumados a ouvir? Ou será que alguém não se recorda de Margo, personagem de Bette Davis, no incrível A Malvada, de Joseph L. Mankiewicz? Precisamos mesmo falar de Meryl Streep, uma das maiores atrizes de Hollywood em atividade atualmente? E dos novos talentos encabeçados por Marion Cotillard (A Origem), Michelle Williams (Namorados Para Sempre), Carey Mulligan (Drive) e Rooney Mara (Millennium – Os Homens Que Não Amavam as Mulheres)? Sempre teremos muitas atrizes para representar bem a imagem feminina no cinema e nos fazer sentir as mais variadas sensações.

Ainda que esta não seja uma lista muito convencional e que trate de uma homenagem muito pessoal, o fato é que as mulheres enfeitiçam homens com uma facilidade assustadora. Seja no cinema ou ao vivo, elas conseguem nos deixar na palma de suas mãos e relembrar os meus primeiros amores cinematográficos só tornou isso ainda mais claro. Eu fui “apaixonado” por todas as atrizes que mencionei e serei grato por elas terem participado da minha iniciação no cinema (claro que gostaria de ter trocado uma ou outra por algum nome de maior expressão, mas a gente não escolhe por quem vamos nos apaixonar), da mesma forma que serei eternamente grato para a pessoa que deu o pontapé neste vício ao me colocar na sala de cinema do BH Shopping para conferir Batman – O Retorno. Claro que tinha que ser uma mulher por trás dos pequenos atos que acabam definindo escolhas para uma vida inteira. Muito obrigado.

Feliz dia da mulher para todas as moças lindas da equipe do Cinema de Buteco e também, claro, para as nossas queridas leitoras. Sem vocês, pelo menos para a maioria dos homens, o mundo não teria um décimo da graça que tem. Espero que um dia vocês ensinem aos homens como fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo.