Recentemente assisti a um vídeo do canal Fora do Padron sobre a crítica de cinema. Dias atrás, li outra discussão sobre o assunto na forma de um texto do colega Márcio Sallem. São dois links importantes que recomendo antes da leitura do seguinte artigo sobre a importância da nota na avaliação de um filme. Combinado?
O Cinema de Buteco usou durante muitos anos a opção de avaliar as obras usando caipirinhas. Aqui não tem essa de ser igual a todo mundo com suas estrelas. Estamos mais próximos da escola Omelete de ser, com seus ovos. Diferenciação é sempre um chamativo quando você busca conquistar o público, especialmente quando você tem consciência da sua capacidade de garantir determinado nível de qualidade e precisa encontrar outros atributos para ser lembrado.
Paramos de usar durante os últimos anos por problemas com o nosso departamento de programação e sempre recebia mensagens de leitores e amigos cobrando. Eu dizia que a nota não interessava, que o principal mesmo era ler a crítica para ajudar a formar a sua própria opinião. Só que isso é ignorar o óbvio de que as caipirinhas eram o indicativo de qualidade mais rápido que o portal podia oferecer sobre qualquer produção. Como não podemos manter o bom funcionamento de um negócio sem ouvir o público, tratamos de voltar com as nossas queridas caipirinhas.
Mas qual a importância real da nota?
Sinceramente? Nenhuma.
Muitas vezes acontece de determinado crítico dar cinco estrelas para muitos lançamentos, mas a leitura do seu texto não convence o público. Pessoalmente, eu só dou 5 caipirinhas para obras que realmente mexem comigo e que continuarão especiais com o passar dos anos. É um desejo antigo conseguir oferecer para os leitores um ranking com todos os filmes avaliados. Se um dia isso acontecer, vocês observarão que da minha parte, são poucos os que receberam nota máxima. Costumo dizer que 4 é o máximo que estou disposto a dar, por isso mantenho as avaliações com 3 ou 3,5.
Isso pode confundir o leitor mais apressado, que poderá fazer comparações injustas: “Nossa, mas deram 3 para Guerra Civil e 4 para Batman vs Superman? Perdeu a credibilidade!”
A nota costuma ser dada de forma arbitrária, na maioria dos veículos. Difícil entender a relação nota e texto. Para chegar a esse resultado deveria ser necessário criar critérios de avaliação dividido entre opinião pessoal e análise crítica imparcial. Mesmo narrativas bobas, como Esquadrão Suicida, ainda possuem valores que merecem uma atenção especial. Ou você vai dizer que não achou sensacional o trabalho de maquiagem no Croc? No entanto, é muito difícil encontrar uma fórmula lógica que consiga combinar esses fatores todos para chegarmos a um resultado satisfatório.
O público-alvo influencia na avaliação
Outra questão importante é saber que cinema é feito para ser consumido. É um produto como qualquer outro, e tem o seu público-alvo definido. Entendo quem diz que cinema bom é aquele que agrada a todos, que possui uma base sólida e todo um trabalho técnico inteligente da equipe. Só que isso não significa absolutamente nada quando você é um crítico de cinema branco de 40 anos e vai avaliar uma história de amor para adolescentes de 14 anos que estão na fase de procurar substitutos para a leitura da Capricho.
Você até pode ter todo o embasamento técnico para avaliar a obra, mas não foi para você que o filme foi produzido. Aí começa o chorume nas redes lamentando o fenômeno absurdo que foi a saga Crepúsculo ou é a trilogia Cinquenta Tons de Cinza. Saber diferenciar isso necessita mais do que bagagem cinematográfica e anos de estudo: precisa conhecer o mercado em que você está inserido. Por isso, a questão de colocar uma nota de 1 a 0 se torna subjetiva. Vamos criticar Cinquenta Tons de Cinza como determinado grupo e usaremos artilharia pesada, mas será que isso é o suficiente para dar um zero ou colocá-lo em listas de piores do ano? (Aliás, piores filmes do ano é sempre uma discussão injusta na qual os mais populares se lascam)
Afinal, usar ou não usar?
Usar nota para avaliar um filme é um assunto delicado e merece mais do que essa pequena reflexão pessoal. O importante mesmo é saber interpretar a crítica e o que o autor quis dizer. As notas são recursos para saciar a necessidade de curiosos que não pretendem ler o texto.
Uma dica é acompanhar sempre determinado autor. Com o passar do tempo, você ficará familiarizado com o seu estilo. “Conhecer” o crítico é fundamental para entender a sua forma de pensar e saber se o seu gosto se parece com o dele. Por essa razão que existem tantos blogueiros que se tornam referência – independente de sua aparente falta de originalidade, às vezes até pisando em valores fortes entre outros produtores (como não plagiar o coleguinha). Quem consome qualquer coisa na internet, faz muito por identificação com o profissional que está do outro lado ou algum outro interesse superficial, como beleza, humor etc.
Lembre-se sempre que uma nota alta não é garantia de que você está diante um clássico, mas que um texto bem escrito é muito mais valioso do que reduzir uma obra a uma avaliação. Para aqueles que PRECISAM disso, a boa notícia é que vamos retomar com as notas do autor e deixar espaço para os leitores também votarem.