Resenha: O Rei de Amarelo – Robert W. Chambers

Ao desenrolar o novelo fantástico das influências de H.P. Lovecraft, com o intuito de apostilar toda a Mitologia de Cthulhu, estudiosos redescobriram um autor há muito esquecido pela História. Um escritor que enriqueceu publicando romances “água com açúcar”, mas emplacou o clássico do terror cósmico O Rei de Amarelo, considerado, por muitos, a principal obra de fantasia americana do período compreendido entre Edgar Allan Poe e Lovecraft: Robert W. Chambers.

Nascido em 1865, Chambers foi um pintor e ilustrador, que estudou arte em Paris, e utilizou suas experiências como cenário de seus contos. Além de ter sua criação relacionada ao Mito de Cthulhu, outros escritores, como Neil Gaiman e Stephen King, já declararam terem sido influenciados por seu trabalho. Mais recentemente, a série True Detective, exibida pela HBO, ressuscitou o interesse do público brasileiro e os contos de O Rei de Amarelo foi lançado no país por duas editoras: a Intrínseca e a Arte & Letra.

Interessante observar a divergência de conceito entre as duas publicações brasileiras. A Editora Intrínseca incluiu em seu volume todos os dez contos constantes da versão original de Chambers: os quatro primeiros, focados no terror e na fantasia, relacionados à obra maldita O Rei de Amarelo; dois contos de transição entre o fictício e o real; e outros quatro mais realistas, conhecido por Quarteto das Ruas, que narram a vida boêmia de estudantes de arte na Paris da Belle Époque. A Editora Arte & Letra, por sua vez, focou apenas nos quatro de terror em O Símbolo Amarelo e Outros Contos.

“As leis que proibiam o suicídio e puniam qualquer tentativa de autodestruição foram abolidas. O governo achou apropriado reconhecer o direito do homem de acabar com a própria existência que pode ser insuportável devido ao sofrimento físico e mental.”

O Rei de Amarelo, a peça, é uma obra que afeta tragicamente a vida de todos que a lêem. Os leitores são expostos a páginas, de beleza e horror, insuportáveis à mente humana. O Rei de Amarelo, o conjunto dos quatro primeiros contos de Chambers, narra, sob uma atmosfera sinistra, histórias de personagens que têm suas existências transformadas pelo contato com o perturbador segundo ato do livro. Referências da peça fictícia, como Camilla, Cassilda, Hastur, Carcosa, Hali, a Máscara Pálida, o Emblema Amarelo e o Fantasma da Verdade, além de links entre os próprios contos, criam um rico e mórbido universo, formando um único, e sólido, romance.

Os contos O Reparador de Reputações, A Máscara, No Pátio do Dragão e O Emblema Amarelo são verdadeiras obras-primas da literatura de gênero, seja qual for o rótulo imposto a eles. Chambers bebeu do decadentismo francês, de Baudelaire e Oscar Wilde, pinçou referências em Ambrose Bierce, e criou o que é, sem dúvidas, um dos ambientes mais arrepiantes da literatura. Ainda que nada acontecesse em termos de ação, só o clima já manteria o horror de O Rei de Amarelo vivo por séculos, atormentando e enlouquecendo, como um pesadelo coletivo, conforme observou o crítico norte-americano Robert M. Price.

“A caixa na qual estava deitado parecia se encontrar em uma carruagem acolchoada que me fazia balançar sobre um calçamento de pedra. Após algum tempo, fiquei impaciente e tentei me mexer, mas a caixa era estreita demais. Minhas mãos estavam cruzadas no peito, então não podia erguê-las para me ajudar. Escutei e tentei gritar. Minha voz sumira.”

 

Título: O Rei de Amarelo

Título Original: The King in Yellow

Autor: Robert W. Chambers

Tradutor: Edmundo Barreiros

Editora: Intrínseca

Número de páginas: 256

Gênero: Terror Cósmico