Resenha: Eu Sou o Peregrino – Terry Hayes

“Apesar dos meus muitos casos com outras substâncias, a inteligência sempre foi minha droga preferida”.

Narrado em primeira pessoa pelo próprio Pelegrino, o romance de estreia de Terry Hayes é uma macronarrativa que se desdobra em diversas missões ao redor do mundo, nos trazendo a trama principal:  a busca do governo norte-americano pelo homem que ameaça atacar os Estados Unidos com uma espécie de vírus de varíola geneticamente modificado. O livro aborda o terrorismo biológico em um thriller ambicioso que faz bom uso de seus talentos, mas também falha em alguns momentos.

Eu sou o Peregrino começa de cara com a cena de um crime no quarto 89 do Eastside Inn: Um corpo imerso em ácido que foi encontrado em uma banheira de um hotel decadente.  A princípio, o que parece ser um “assassinato comum”, nos revela o quão arquitetado foi o plano. Após alguns capítulos em busca de alguma pista, somos transportados para o passado do Peregrino, entendendo como foi a sua iniciação neste universo da espionagem.

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A história segue os anos de formação e aposentadoria do Peregrino, que trabalha para uma divisão secreta do governo americano, em paralelo com os passos desde a infância de um terrorista muçulmano —o Sarraceno. É neste momento que passamos a entender que O Peregrino não é um espião qualquer. Ele não é da FBI e muito menos da CIA. Ele é uma espécie de agente de alto nível. Foi adotado muito pequeno e sempre se sentiu fora do eixo. Como se destacou muito, acabou entrando para o mundo da espionagem. Seus pais adotivos nunca perceberam, mas ele viajava o mundo todo para servir seu país.

“Há lugares dos quais me lembrarei a vida inteira — a Praça Vermelha com o vento quente sibilando, o quarto de minha mãe no lado errado da 8 Mile Road, os jardins intermináveis de um elegante lar adotivo, um homem esperando para me matar em um conjunto de ruínas conhecido como o Teatro da Morte. ”

Aposentado ainda jovem, o agente acaba se deparando com um caso inusitado. Ao tentar abandonar a sua rotina, O Peregrino escreve um livro, relatando suas aventuras, os casos mais tensos e como fez para resolve-los. Essa foi a forma escolhida para libertar as memórias mais sombrias. Ao lado de seu amigo e investigador, Ben Bradley, Peregrino se vê diante de um caso de assassinato brutal, ocorrido em um quarto de um hotel vagabundo localizado nas proximidade do Word Trade Center, onde há um ano (de acordo com o tempo do livro) as Torres Gêmeas foram vítimas do ataque terrorista da Al Qaeda.

“Sarraceno significa árabe ou — em uma acepção muito mais antiga da palavra — um muçulmano que lutou contra os cristãos. Volte ainda mais no tempo e descobrirá que já significou nômade. ”

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O mais interessante deste assassinato, é que o assassino foi um leitor voraz do livro lançado pelo Pelegrino no passado, seguindo à risca o que não fazer para não ser pego. É dessa forma que o ex-agente percebe que precisa voltar a ativa, e o que parecia mais um simples caso de homicídio, se torna algo muito maior. Muito tempo atrás, longe dali, na Arábia Saudita, um homem é decapitado por traição ao governo, que, segundo ele, era submetido aos desejos e culturas ocidentais. Quem assiste ao “espetáculo” é o seu filho de apenas quatorze anos. Apenas mais uma decapitação em praça pública — ato comum no país —, mas que acaba desencadeando uma série de consequências. Ao mesmo tempo que O Peregrino está ocupado com o pequeno caso no hotel, ele é convocado para ir até a Turquia para solucionar um caso de bioterrorismo. Além de desvendar esta trama, ele acaba descobrindo mais um caso de homicídio.

“Edmund Burke disse que o problema com a guerra é que normalmente ela destrói as próprias coisas pelas quais se está lutando — justiça, decência, humanidade —, e não pude deixar de pensar em quantas vezes eu violara os mais caros valores de nossa nação a fim de protegê-los”.

 

  • Pontos negativos:

Nessas quase 700 páginas, o Peregrino depende principalmente da sorte para conseguir solucionar os grandes problemas que surgem ao longo da narrativa. Outra falha que me incomodou bastante durante a leitura foi a falta de conhecimento do autor em tecnologia, fazendo com que os recursos utilizados pelo espião fossem um tanto que simples.

Um outro artificio que me incomodou bastante durante a leitura foi o excesso de flashbacks, que acabam sendo um tanto cansativos. Mas o pior de tudo é sem dúvida a xenofobia em relação ao Oriente Médio.

  • Pontos positivos:

Se engana quem imagina que Eu Sou o Peregrino seja um livro de ação. Muito pelo contrário! A obra de  Terry Hayes é um suspense com espionagem e terrorismo que foge da necessidade de apresentar um par romântico para o protagonista e substitui os momentos de perseguição e explosões por momentos inteligentes. Enquanto o autor vacila no quesito tecnológico, ele é excelente ao tratar da geografia em sua obra. Ao apresentar países como a a Arábia Saudita, o Líbano, o Afeganistão, o Bahrein e a Turquia, percebemos o quão grande é o seu conhecimento, nos levando a viagens incríveis dentro da obra.

Outra questão muito interessante é que Terry trabalha a ausência de uma linearidade de forma bastante original, construindo um ritmo diferente do que estamos acostumados nos livros de espionagem.

Sobre o autor:

Terry Hayes   nasceu no Reino Unido e mudou-se para a Austrália ainda criança. Jornalista, trabalhou como correspondente nos Estados Unidos e regressou a Sydney para atuar como repórter investigativo, correspondente político e colunista.

Roteirista premiado, construiu uma brilhante carreira no cinema e na televisão, com mais de vinte premiações e indicações ao Emmy. Assinou com George Miller o roteiro de Mad Max 2: A Caçada Continua. Foi roteirista e coprodutor de Terror a Bordo e Mad Max 3: Além da cúpula do trovão, e roteirista de O Troco, Do Inferno e Limite Vertical.

 

Ficha Técnica:

 livroLivro: Eu sou o Peregrino

Título Original: I Am Pilgrim

Autor: Terry Hayes

Editora: Intrínseca

Páginas: 685

ISBN: 9788580578782