“Laura gostava de chuva… a garoa era reconfortante. Sua vida era perfeita como um lago de águas calmas: ela era uma editora consagrada, tinha um marido amoroso e uma filha carinhosa e esperta. Mas quando Edgar apareceu em seu escritório com um semblante misterioso e o manuscrito de uma história ruim, ela sentiu que uma tempestade estava prestes a começar. Algo nele era tão desconcertante que Laura não conseguiu dispensar aquele arremedo de escritor.
Edgar estava no olho do furacão. Era um cara viajado, interessante, falava vários idiomas, mas não estava preparado para ser pai nem para a aspereza de um casamento sem afinidades. Ele nunca se sentiu atraído pela trivialidade de uma vida cotidiana, mas tampouco lhe interessava a ideia de ser trocado, de ver sua mulher se apaixonar por um exemplar corriqueiro de terno e gravata, e testemunhar a aproximação entre sua filha e um pai que não era ele. Decidiu que não aceitaria isso de mãos atadas. […]”
O texto acima, pode ser lido integralmente na última capa do livro “Depois da chuva”, escrito por Maria Clara Mattos. Decidi começar com ele, porque eu realmente não tive coragem de resumir a história dos personagens principais desse livro tão bem escrito.
Logo na apresentação, escrita por Joaquim Ferreira dos Santos, já é possível ler sobre rótulos literários. Um primoroso texto, que ajuda o leitor entender um pouco mais sobre o que está por vir. A autora coloca o leitor diante de personagens que possuem olhares sensíveis para coisas simples, como, por exemplo, ficar olhando os pingos da chuva batendo no chão (isso é muito bom! Experimente! E enquanto olha, preste atenção no barulhinho que a chuva faz.). Quando a autora fala sobre a dor de Laura, eu parecia sentir aquela dor ao mesmo tempo em que me identificava com a personagem:
“[…] E a dor faz um barulho danado no silêncio. […]”
Não se pode deixar de notar, que Laura tem consciência de que apesar do desejo avassalador que sente por Edgar, seu desejo e seu amor por Marcos, (seu marido), ainda está presente. Imagino, que a dificuldade dela em lidar com a situação seja exatamente essa. Até mesmo no trecho em que Laura se abre com o Marcos sobre sua paixão com Edgar, há muita sensibilidade. Uma sensibilidade não peculiar em rompimentos.
Estava esperando por um melodrama, barraquinho, ou qualquer uma dessas situações que sempre ocorrem quando um relacionamento é rompido. Confesso que quando li, lembrei de um rompimento recente de um amigo comigo. Foi assim como o rompimento da Laura e do Marcos. Doloroso, triste, mas também sincero e sensível. E então, quando achei que o romance já havia me envolvido completamente, a autora fez a gentileza de temperar a história com fantasia. Fiquei no ônibus com uma cara de: “WTF?”, enquanto lia essa reviravolta literária.
Eu estava ali, maravilhada com aquela Rio de Janeiro real. A banca de revista, a loja de departamentos, trânsito ruim, as chuvas torrenciais… eu fui capaz de visualizar tudo isso! Sem toda aquela pompa que jornais e revistas atribuem à cidade! Depois de tudo isso descrito de maneira envolvente, realista e cativante, fui “obrigada” a acordar para a vida e começar a entender o que estava acontecendo. Foi realmente incrível!
As separações que ocorrem dentro dos capítulos, não são feitas por asteriscos ou simplesmente por espaços. São pingos de chuva. MUI-TO-FO-FO! As imagens distribuídas no livro (não sei se aleatoriamente ou se associadas ao texto) são lindas! Guarda-chuvas abertos, chuva caindo no telhado, na janela… simplesmente LINDO!
Esse livro entrou para a minha lista de paixões literárias platônicas. Ela (a lista) é grande, não vou negar! E fiquei muito feliz, por ele ter superado todas as minhas expectativas! Ah! Uma última fofura: o apelido de Maria Clara Mattos é Macaia, e isso é dito logo na apresentação do livro. Pensei em perguntar a ela o motivo do apelido, mas prefiro imaginar os primos e irmãos tentando falar o nome todo e sair Macaia, com aquelas vozes fofas de crianças.
“[…] Às vezes a vida pede vista grossa e alegria compulsória. […]”
Ficha Técnica
Título| Depois da chuva
Autor| Maria Clara Mattos
Editora| Gutenberg
Nº de Páginas| 176
Gênero| Ficção brasileira
ISBN| 978-85-8235-363-9
Colaboração| Kércya Verício e Ludymilla Duarte Borges