O calor na cidade era intenso, mas ele sabia que precisava enfrentar uma das filas intermináveis do banco. Mesmo ciente de que não era uma ideia brilhante, arriscou ligar para sua ex-namorada. O relacionamento deles estava frio, repleto de discussões, mas, estranhamente, ambos ainda recorriam um ao outro quando precisavam. Ela concordou em encontrá-lo próximo ao banco, talvez devido à viagem marcada para mais tarde.
Ele reconhecia isso. Não queria o fim do namoro, como poderia aceitar amar tanto alguém e não tentar estar com ela? O término partiu dela, após uma das muitas discussões. Mesmo após passeios agradáveis, sempre terminavam discutindo. Ela cansou disso, mesmo sabendo da dificuldade dele em reconhecer os próprios erros. A viagem dela indicava o possível fim definitivo de tudo entre eles. A verdade desse reencontro só seria revelada com o tempo. O medo que o assolava há noites indicava que ele fez o que podia. Os amigos se afastaram quando o relacionamento deles virou um campo de destruição.
Infelizmente para ele, ela parecia ter compreendido isso melhor. O lado mais forte no final de um relacionamento estava cobrando o preço da convivência diária nos últimos quatro anos. Poucas vezes perdia a compostura, afundando-se em choro que só cessava com álcool. Orgulhava-se de não ser um bêbado depressivo que se lamentava pela sorte de amar uma mulher que já superara o relacionamento. Sem ela, a vida dela tomara rumos desconhecidos para ele. Mesmo sem querer saber o que ela fazia, ele dificilmente confessaria toda a verdade. Fazia um mês que ele buscava ajuda terapêutica para se recompor. Parecia que tudo conspirava a favor dela, que não precisava depender do funcionamento de certas partes de seu corpo.
Eles se encontraram. Os olhares se fixaram enquanto caminhavam para um abraço apertado. Ele sentia falta do cheiro do cabelo dela, ela sentia falta do sorriso dele. Aparentemente, eram um casal jovem e apaixonado. As aparências enganam. Ele respirou fundo para evitar erros ou palavras que a incomodassem. Ela estava preocupada em não parecer a megera frígida de antes. Sorriram sem razão aparente. Talvez aquele passeio tenha ocorrido na hora certa, e ele arrepiou-se com a possibilidade. Completamente arrepiado, ficaram ombro a ombro, sem se beijarem enquanto falavam sobre as irritantes filas de banco e as restrições de uso de celulares.
— Eles acham que o celular vai virar uma arma letal? Que posso arremessar meu iPhone na cabeça do caixa e roubar o dinheiro todo, enquanto as ondas do celular detonam as armas dos guardas? – Ele debochava enquanto ela ria. Meses atrás, essa piada teria gerado uma guerra. Ficaram felizes por não estragar o momento.
Ele foi atendido, e ao saírem da agência, ela perguntou o que ele queria fazer. Essa pergunta já foi senha para loucuras sexuais, mas ele sugeriu apenas um passeio pela praça para tomar um açaí. Ela riu.
— Tenho uma ideia melhor.
E subiram a avenida, um caminho familiar. O calor estava forte, e ele imaginou ter desmaiado e estar sonhando. Logo percebeu que estavam indo para a casa dela.
— Renata? O que estamos…
— Simplesmente não fale. – Ela selou os lábios dele com um beijo provocante, mandando que ele fechasse os olhos e a boca e a deixasse guiá-lo. Obedeceu e ouviu o portão da casa dela abrindo e fechando logo atrás dele. Quando entraram, sentiu algo molhado percorrendo seu pescoço. Não sabia quanto tempo conseguiria manter os olhos e a boca fechados. A dúvida durou pouco, pois em seguida sentiu a boca dela novamente. Outro beijo, ainda mais provocante, e ele apertou as mãos na cintura dela. As roupas voaram com empolgação. Anos se passaram desde a última vez que se sentiram daquela forma. Ela o arrastou para o quarto, subiu em cima dele, e os beijos e carícias ficaram mais atrevidos, sem se preocuparem com o barulho. A única preocupação existia na cabeça dele, esforçando-se para não encerrar a brincadeira antes da hora.
Ela segurou no seu pau e deixou que ele deslizasse para dentro dela. Havia muito tempo desde a última vez que transaram, e a sensação era única, como se fosse a primeira. Gemidos intensos e uma mordida no ombro dele. Ele se perguntava por que corriam o risco de perder tudo para sempre. Poucas pessoas conseguem encontrar o sentido da vida, e ele sabia que a sua vida só tinha sentido quando estava com ela. Ela achava brega quando ele dizia que fazia amor, mas não havia outra forma de expressar. Sexo era sexo. E transar daquele jeito não acontecia com qualquer pessoa; era preciso mais do que desejo.
Os movimentos ficaram mais rápidos e agressivos, sem dor. Ele estava prestes a gozar e começou a meter com mais força. Ela gritava, os cabelos ondulados molhados. Ele a segurou pelo pescoço, e ela soube que ele queria gozar com os olhos abertos. Ele começou a gozar, contorcendo-se em caretas. Em seguida, ela lutou contra a vontade de fechar os olhos, excitando-o ainda mais. Estavam esgotados, e dormiriam por horas depois daquela transa. Se não fosse a última, se ela não precisasse pegar um ônibus para se afastar e aprender a ter uma vida independente. Ele não tinha maturidade para perceber o significado daquela tarde, e ela sentiu um pouco de tristeza por suas decisões e pelo que fez acontecer.
Os dois se olharam. Ele sonhador, ela com ternura. Aquela transa era a última vez deles, uma despedida que nunca se permitiram ter de verdade. Enquanto ele fazia planos para quando ela voltasse, ela pensava no que estava abrindo mão e sentia que talvez não fosse se arrepender. Os dois se amavam, se amaram e amariam, cada um à sua maneira, incompreendida e motivo de brigas absurdas. Dormiram abraçados.
Horas depois, ela já estava vestida com a camisa que ele lhe comprara no último Natal, dois anos atrás. Estava linda, e ele desejou ter uma máquina para registrar aquele momento. Estava triste por saber que o que tiveram foi apenas uma tarde e que no dia seguinte ela estaria longe. Ela se aproximou e deu um último beijo.
— Eu vou voltar, tá?
— Claro que vai. Você não pretende mudar de cidade, oras…
— Tchau, Thiago…
E então ela se levantou, abriu a porta do quarto e foi embora. Ele continuou deitado, olhando para o teto e pensando que, se existisse a chance de ser feliz com alguém, essa chance estava prestes a entrar em um ônibus e viajar para longe. Parte dele queria correr e impedi-la de embarcar, mas seria egoísmo demais privar o mundo dela. “Eu vou me arrepender tanto disso”, pensava enquanto acendia um cigarro, contando os dias para poder buscá-la na rodoviária. Não importava quanto tempo demorasse.