A árvore de Natal conversava comigo todos os dias antes que eu fosse dormir. Ela me aconselhava sobre a vida e dizia o que eu deveria fazer no dia seguinte.
Desde que a minha esposa me deixou por um jogador de futebol do Vila Nova, a árvore de Natal danou a falar comigo até de dia. Insistia que eu deveria tentar recuperar a minha esposa, que a gente tinha planos de ter nossos filhos.
A árvore de Natal dizia que o tal jogador de futebol era má influência. “Seria melhor se jogasse no América”, ela resmungava enquanto eu cortava o pão. “Imagina só se é certo deixar um marido por causa de sexo”, ela insistia enquanto eu me despia para tomar banho.
Durante muito tempo não me importei de ter sido abandonado na véspera do Natal pela minha esposa. Sério. E eu também nem gostava de futebol. Minha esposa me bloqueou no Facebook. Tirou todas as marcações que estavam em nossas fotos no Instagram. Ela até desativou o Twitter.
Sentia que a vida era mais leve, mas a árvore de Natal continuava reclamando. Aprontava o maior escândalo se eu tentasse desmontá-la. Acabei cedendo e era necessário explicar para os amigos porque eu ainda tinha uma árvore de Natal em março. Ou julho. Ou setembro.
A partir de outubro foi mais fácil mentir que estava me antecipando. Nenhum deles acreditava em mim quando eu explicava que a árvore falava e exigia permanecer montada. E eu tentei várias vezes. Era sempre a mesma história. A árvore ficava em silêncio e meus amigos riam de mim, como se eu fosse louco.
Demorou quase um ano para alguém perceber que minha esposa não morava mais comigo. Isso é para você ver o tanto que as pessoas se preocupam em saber da minha vida. Falei a história toda e de como a árvore de Natal conversava comigo todos os dias para me dizer o que fazer.
O único amigo que me levou a sério e ouviu toda a história, disse que quase acreditou em mim se não fosse por um detalhe. “Até acho que sua árvore de Natal é meio esquisita mesmo, mas mulher nenhuma trocaria o marido por um jogador de futebol do Vila Nova. Que história furada!”