Review: “Flow” Quando a amizade e as diferenças são o instinto mais forte

“Flow”, animação premiada de Gints Zilbalodis no Globo de Ouro e Oscar, transforma silêncio em emoção em uma jornada de sobrevivência e amizade.

Flow, do diretor Gints Zilbalodis, já carrega um status de prestígio: vencedor do Globo de Ouro e do ao Oscar de Melhor Animação, o longa se destaca como um dos grandes nomes do ano, rivalizando com Robô Selvagem. Mas o que faz essa animação realmente especial não é só o reconhecimento da crítica — é a maneira como ela transforma silêncio em emoção.

A jornada começa com um gato solitário que vê seu mundo ser engolido por uma grande inundação. Em meio ao caos, ele encontra refúgio em um barco onde diferentes espécies tentam sobreviver. O instinto de cada um entra em jogo, mas o grande desafio não é só resistir ao desconhecido — é aprender a confiar no outro.

O que torna Flow único é sua escolha narrativa: zero diálogos. Aqui, a comunicação se dá pelos sons da natureza, pelos olhares dos personagens e pela trilha sonora, que guia o espectador por cada momento de tensão e acolhimento. A simplicidade da trama esconde camadas profundas, e a ausência de palavras torna tudo mais visceral — o público sente a história, em vez de apenas ouvi-la.

O elenco de personagens não é apenas um grupo de animais tentando sobreviver. Cada espécie traz suas próprias características e desafios, e o relacionamento entre eles carrega o verdadeiro peso do filme. Há disputas, alianças, e momentos de pura cumplicidade, todos desenhados com um ritmo que mantém a imersão do começo ao fim.

Visualmente, Flow também faz sua revolução. Fugindo do realismo digital que domina a animação, Zilbalodis mistura técnicas de 2D e 3D, criando um universo visual hipnótico que resgata o charme da animação tradicional. Esse estilo artístico não é só uma escolha estética — ele reforça a imersão, tornando a experiência ainda mais única.

Mas o que fica com o espectador quando os créditos sobem? Mais do que uma história de sobrevivência, Flow convida a refletir sobre conexões e pertencimento. A travessia desse gato não é só sobre escapar da tempestade — é sobre entender que, mesmo nas circunstâncias mais adversas, ninguém segue em frente sozinho.

Com prêmios de peso em festivais como Annecy e o European Film Awards, além do reconhecimento de associações de críticos de Los Angeles, Nova York e Boston, Flow chega ao Oscar com fôlego para surpreender.

No fim, a grande força dessa animação está naquilo que ela não diz. Em meio a um mundo onde todos falam o tempo todo, Flow prova que, às vezes, o silêncio é a linguagem mais poderosa de todas.