Review Maria Callas: Angelina Jolie se esforça em cinebiografia da grande diva da ópera [48ª Mostra Internacional de SP]

O diretor chileno Pablo Larraín criou uma assinatura muito particular em sua filmografia, o olhar poético e analítico sobre mitos femininos, que começou com “Jackie” Kennedy (ainda não Onassis), depois veio Diana “Spencer”, e agora decidiu finalizar essa trilogia contando os últimos dias de vida da maior diva da ópera, Maria Callas.

Mas engane-se quem pensa que o diretor restrinja sua assinatura apenas quando conta histórias de figuras femininas, apesar de possuir uma carreira bem diversificada, que vai de estudo geracional (Ema) a dramas sobre ditadura (No), seu filme que mais se assemelha com o atual seria “Neruda”, cinebiografia sobre o famoso poeta chileno. Em ambos, personagens ficcionais são fundamentais, pois eles são o ponto de partida da história.

Angelina Jolie dá vida a protagonista, e chega a ser irônica a frase, uma vez que Maria não vive, apenas sobrevive melancolicamente aos seus últimos dias em um grande apartamento em Paris, acompanhada somente de seus empregados, vividos pelos atores italianos Pierfrancesco Favino e Alba Rohrwacher. A atriz se esforça bastante, mas não convence, nos poucos momentos em que é possível se conectar totalmente com a história, a personagem é vivida por Christiana Aloneftis, que interpreta a cantora na juventude, aliás, a melhor coisa do filme, ela tem uma com uma cena específica que é emocionante por ser bonita e brutal ao mesmo tempo.

Pablo Larraín não é qualquer diretor, o cara sabe fazer cinema, suas cinebiografias nunca são obras genéricas wikipedia, mas sim viagens que representam o estado de espírito de seus biografados, sem deixar o realismo e o mito de lado. Ele faz isso aqui também, com o requinte visual que já lhe é habitual, mas infelizmente o roteiro e a escalação dos atores não favorecem. Ao contrário de Natalie Portman e Kristen Stewart, Angelina Jolie não consegue desaparecer como Maria, mas nem é só sua escalação que é equivocada, a jovem atriz Alba Rohrwacher (que eu adoro), também não convence como uma senhora mais velha.

Existe uma grande diferença entre filme ruim e filme chato, Pablo Larraín nunca fez (e acho que nunca fará) um filme ruim. Agora, um filme chato? Talvez, mas ainda assim extremamente bonito e interessante.

“Maria Callas” esteve em cartaz na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e em breve estreará nos cinemas de todo o Brasil.