O FILME SE CONFUNDE COM SEU PROTAGONISTA. É impossível ver Juventude Transviada sem ter vontade de consolar James Dean, o protagonista Jim Stark. O ator encarna com maestria uma nova figura que surgia na configuração das famílias modernas: o adolescente – e o adolescente que estava realmente fora da configuração criança-adulto-idoso.
Na primeira cena, a câmera, colocada no chão, focaliza Jim bêbado, cambaleando pela rua, até achar um macaquinho de pelúcia jogado no lixo. Deitado no chão, ele cuida do brinquedo como se tivesse vida e necessitasse de carinho. A sequência termina com Dean deitado em posição fetal, abraçado ao macaco de brinquedo. Lindo e tocante. Dá vontade de colocar o personagem/ator no colo.
Na cena seguinte, numa delegacia, somos apresentados ao trio principal e suas histórias de vida. Jim (Dean) é um adolescente perdido que tem pais superprotetores e, ao mesmo tempo, alheios, mais preocupados com a opinião dos vizinhos do que com os problemas do filho. Ele foi detido por baderna, após uma bebedeira numa festa. John (Sal Mineo) está lá porque atirou em cachorrinhos. Sua crueldade vem da necessidade extrema de atenção, já que seus pais são separados e ambos viajaram; ele vive sozinho com a empregada da casa. Judy (Natalie Wood) foi detida por uma espécie de “vadiagem” – é confundida com uma prostituta, após fugir de casa. Sua relação com os pais é difícil porque ela não é mais uma criança, mas ainda não pode ser considerada uma mulher.
Nicholas Ray constrói uma narrativa sólida e muito bem amarrada, com algumas inversões bem interesantes: os pais dos três protagonistas não são bons exemplares de figuras paternas. Quem oferece “colo” ao trio é o policial responsável pela sessão de menores na delegacia. A escola é um ambiente de tortura, e não de integração e apoio aos anseios dos jovens. Em paralelo, Jim luta para sobreviver em meio ao turbilhão de brigas em sua casa: “Eu quero fazer alguma coisa direito”, ele implora ao pai.
A cena mais famosa do longa é a disputa entre Jim e Buzz (Corey Allen), em que carros roubados são postos para correr e o motorista que saltar por último, antes que o veículo cai num penhasco, é o vencedor. Judy, namorada de Buzz, é quem dá a largada para a disputa, que vai desencadear os principais conflitos da história.
Dean é um ator de poucos filmes, com destaque para Juventude Transviada, Vidas amargas e Assim caminha a humanidade. Morreu com apenas 24 anos, de acidente de carro. Seu jeito frágil e sua entrega aos personagens fez com que fosse considerado uma das grandes promessas do cinema. Tinha personalidade forte e passou para a eternidade como um rebelde sem causa, assim como seu personagem Jim Spark. É um mito do cinema que, em seu auge, foi alçado à mesma estrela de Marlon Brando.
Rebel without a cause – 1955
Direção: Nicholas Ray
Roteiro: Nicholas Ray, Irving Shulman, Stewart Stern
Elenco: James Dean, Natalie Wood, Sal Mineo
Indicação ao Oscar: Nicholas Ray (roteiro), Sal Mineo (ator coadjuvante), Natalie Wood (atriz coadjuvante)
Faz parte dos 1000 filmes para ver antes de morrer.