Em sua filmografia, o diretor grego Yorgos Lanthimos (O Lagosta, 2015) costuma explorar as relações humanas por meio de situações bizarras e surreais. Nessa perspectiva, seu mais recente projeto intitulado Pobres Criaturas é baseado no livro homônimo lançado em 1992, e traz uma versão feminina e inusitada de Frankenstein com Emma Stone (La La Land, 2016) no papel principal e como produtora executiva do longa.
Pobres Criaturas conta a história de Bella Baxter (Emma Stone), uma jovem suicida que é trazida de volta à vida pelo cientista e médico Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe, de O Homem do Norte, 2022). Dessa forma, Godwin a vê como um experimento e, para o processo de ressuscitação, ele transplanta em Bella o cérebro de um bebê. Por isso, ele contrata o estudante Max McCandles (Ramy Youssef, de Ramy, 2013-2022) para acompanhar a evolução de Bella e anotar todos os passos da moça durante seu crescimento.
É nítido como o comportamento de Bella é estranho no começo do filme. Ela é uma adulta que age como uma criança em desenvolvimento, aprendendo a falar e entender a vida em sociedade. Dessa maneira, à medida que ela se torna mais madura, sua vontade de sair de casa e conhecer lugares e países aumenta. E é nessa jornada de autoconhecimento e curiosidade que acompanhamos Bella explorar o mundo para muito além das janelas de sua casa. Nessas viagens, ela será acompanhada por Duncan Wedderburn, personagem estilo bon vivant interpretado por Mark Ruffalo (O Preço da Verdade, 2019).
Por falar nisso, os personagens são parte extremamente interessante dessa narrativa. Começando pela protagonista, a Bella de Emma Stone é representada com muita liberdade e ousadia. Em entrevistas para a promoção do filme, a atriz descreve Bella como a personagem mais honesta que ela já interpretou. A moça sempre fala o que está pensando, sem filtros ou restrições. Em todas as suas descobertas, sejam elas sobre sexo, comida, dança, filosofia, política, dinheiro, Bella sempre tem alguma opinião afiada e inteligente sobre o assunto. Certamente, nunca tinha visto Emma Stone em um papel assim. É uma de suas melhores performances e pode premiá-la com um segundo Oscar na categoria de Melhor Atriz.
Além dela, os coadjuvantes Mark Ruffalo e Willem Dafoe ganham espaço para se destacar. Duncan Wedderburn, de Ruffalo, consegue subverter a ideia de que apenas as mulheres são inseguras, pegajosas e carentes. O tempo todo ele busca validação, amor e carinho de Bella. E, em decorrência disso, muitas vezes age com mais imaturidade do que ela, que literalmente carrega em si o cérebro de uma criança. Por outro lado, o Dr. Godwin Baxter, de Dafoe, que a princípio via a protagonista apenas como objeto de estudo, adquire uma relação paternal com ela. Durante a infância, o médico teve seu corpo explorado e mutilado pelo pai, que também era cientista. Sua história de origem é triste e emocionante, e eu gostaria de ver um pouco mais dele durante o filme.
Outro aspecto positivo de Pobres Criaturas é o seu visual exagerado e vibrante. O diretor, em conjunto com sua equipe de fotografia e design de produção, criou um mundo fantástico e único. Em certos momentos, os elementos podem parecer exagerados e cartunescos, mas contribuem para o entendimento do ponto de vista de Bella Baxter. Entretanto, o diretor repete movimentos de câmera e tomadas que deixam algumas passagens um pouco cansativas e longas. É como se ele tivesse que explicar várias vezes o mesmo argumento, e tal recurso me pareceu desnecessário.
Pobres Criaturas está indicado a onze categorias no Oscar 2024, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Adaptado. Consequentemente, essa aclamação tem contribuído para impulsionar a bilheteria do filme, tanto nos EUA quanto globalmente. Até o momento, ele já arrecadou mais de US$ 50 milhões, e a sua estreia nos cinemas brasileiros será no dia 1º de fevereiro. Vale a pena conferir essa jornada intrigante de Yorgos Lanthimos e Emma Stone.