Review Monster: Kore-eda se mostra (de novo) um dos grandes cineastas da atualidade

poster monsterO cineasta japonês Hirokazu Kore-eda sabe conduzir dramas como poucos. Sua filmografia é formada por títulos sensíveis que abordam relações familiares e, principalmente, o mundo visto pelos olhos das crianças, que sofrem com as ações dos adultos. Eu conheci o universo do cineasta com Ninguém Pode Saber (Dare mo shiranai, 2004), drama dilacerante que mostra o dia a dia de Akira (Yûya Yagira), um garoto de 13 anos que cuida sozinho dos irmãos mais novos. Fiquei impactada com a maneira que o diretor faz uso do cinema para criticar a sociedade sem cair na armadilha de fazer “filme para chorar”. As lágrimas que surgem no rosto de quem se permite conhecer o universo de Kore-eda são genuínas. Assunto de Família (Manbiki kazoku, 2018, disponível no streaming TeleCine) ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes com a história de uma família que sobrevive de furtos e se depara com uma garotinha desamparada. O que acontece depois demanda muita empatia para ser compreendido e Kore-eda mostra, mais uma vez, que há muito por debaixo da superfície. Em Monster (Kaibutsu), que chega aos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira, 30 de novembro, a preocupação de uma mãe com o que se passa no ambiente escolar onde seu filho está inserido é o ponto de partida para uma história que, aos poucos, revela problemas da sociedade tão enraizados que, muitas vezes, são negligenciados.

Saori (Sakura Ando) é uma viúva que se esforça para dar a melhor educação possível para o filho, Minato (Soya Kurokawa). Ela percebe uma mudança de comportamento do garoto, além de machucados, e tudo leva a crer que isso venha da postura questionável de um professor. Preocupada, a mãe se reúne com a direção da escola e tenta, a todo custo, encontrar uma solução para o problema, mas as coisas tendem a piorar.

Aos poucos, as reuniões entre Saori e a direção da escola se tornam mais tensas, parece que o corpo docente esconde algo da mãe preocupada, a diretora e os professores parecem seguir uma cartilha e têm um discurso robótico. Saori chega a Yori (Hinata Hiiragi), colega de classe de Minato. O garoto sofre bullying na escola e parece não se importar com isso, sua preocupação é outra.

O roteiro sensacional de Yûji Sakamoto carrega o espectador e o apresenta a diversas camadas dessa história através de diferentes pontos de vista. Porque, enquanto Saori busca uma solução para o problema do filho, o professor também tem a sua visão da história, que é outra, e o mesmo acontece com a diretora da instituição. 

O elenco poderoso dá vida ao filme, mas é a ingenuidade de Yori, somada ao seu sorriso cativante, o que nos faz querer dar o mundo ao garoto. Aos 12 anos, o ator ilumina a narrativa de Monster e traz ao espectador o entendimento de que a crueldade do mundo não poupa ninguém. Os maus-tratos supostamente sofridos por Minato são apenas a ponta do iceberg que a nossa sociedade carrega.

O filme faz muito mais do que entreter o público por 126 minutos. Ele nos faz refletir, emociona e se impõe como obra que tira o espectador da zona de conforto, abrindo os nossos olhos para aquilo que, muitas vezes, preferimos virar o rosto. A falha de uma sociedade deve ser atribuída a cada indivíduo que a compõe.

Depois da exibição no Festival do Rio e de levar o prêmio de Melhor Roteiro, no Festival de Cannes, Monster chega aos cinemas com distribuição da Imovision.