review culpa e desejo

Review Culpa e Desejo: Filme PERFEITO para ver ao lado da sua madrasta (ou não)

O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica do filme Culpa e Desejo possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação. 

poster culpa e desejoO MAIOR MÉRITO DA ARTE É CAUSAR EMOÇÕES NO SEU ESPECTADOR, sejam elas positivas ou negativas. Quando se fala de temas polêmicos, como por exemplo o relacionamento de uma mulher adulta com um adolescente, é muito comum identificar opiniões negativas. Não pela obra em si, mas pela “audácia” de falar de um tabu com tamanha sem-vergonhice. 

Pessoalmente, quanto mais fodido da cabeça for o roteiro, quanto maior for seu potencial de causar incômodo e desconforto na audiência, mais me sinto envolvido e atraído para descobrir até onde os realizadores conseguem ir. Em Culpa e Desejo (L’Été Dernier, Catherine Breillat, 2023), a trama ultrapassa deliciosamente as barreiras morais da tradicional família brasileira, o que é o suficiente para reconhecer o valor do longa francês. 

A própria tradução é consciente do tabu abordado no filme e opta por um caminho menos sutil que o título original. Em uma tradução literal, L’Été Dernier seria algo próximo de “No Verão Passado”. Um título discreto, mas misterioso o suficiente para incluir os sentimentos emocionais de “medo” e “culpa” sem fazer alarde ou se preocupar em não preparar seu público o mínimo possível. 

Para uma sociedade machista, é bem possível que Culpa e Desejo desperte sentimentos negativos. Como se fosse tudo bem um homem se envolver com uma adolescente, mas o contrário seria absurdo. Mas veja bem. A figura do adolescente seria exaltada, já que teria na mulher mais velha, o seu Mestre Yoda sexual. Porém, essa mesma mulher seria massacrada por homens e mulheres sedentos por encarnar seus respectivos moralismos em ofensas rasas. 

Remake do dinamarquês Rainha de Copas (Dronningen, May el-Toukhy, 2019), Culpa e Desejo coloca o espectador em uma posição desconfortável e se diverte com a situação. Com uma bela introdução de personagens para contextualizar o ambiente e os conflitos inerentes à família, Breillat não tem pudor ou falso moralismo enquanto trabalha a frustração da protagonista vivida por Léa Drucker. Esse cuidado inicial é fundamental para conectar o público com os seus dramas. Para o bem ou mal, descobrimos suas motivações para ceder ao proibido. 

O proibido tem nome e corpo: o enteado de 17 anos, cuja relação com o pai é bastante conturbada. Samuel Kircher interpreta o jovem e faz um belo trabalho. Théo é um adolescente pretensioso, daqueles que se sentem invencíveis e capazes de qualquer coisa. (Você se identifica? Pois é. Quem não foi assim na adolescência?). Seu comportamento rebelde é revelador, já que esconde uma necessidade de “tomar” do pai ao mesmo tempo em que deseja se “tornar” o próprio pai. Seu comportamento vai ficando cada vez mais provocativo e toda a tensão com a madrasta culmina em uma explosiva relação. 

É importante observar que o longa não condena a sua protagonista, como se ela fosse uma abusadora de menores. Breillat nos torna cúmplices do único crime que Anne realmente comete: se envolver perdidamente com a única pessoa a qual ela não deveria. Anne não sente culpa de atender seus desejos íntimos, independente disso significar trair o seu marido com o filho dele. Seu remorso real é de ter deixado a relação ser mais que uma válvula de escape para o prazer de ambos, pois logo se vê sofrendo riscos de ser denunciada criminalmente após ser chantageada por Théo. 

Culpa e Desejo é um filme “proibido” para a grande maioria das pessoas, que certamente ficaria horrorizada com as longas cenas de sexo entre os atores. Para aqueles com valores menos inflexíveis ou com capacidade de abraçar a arte pela sua natureza de causar desconforto quebrando tabus, é um dos melhores filmes de 2023 e você não deveria perder a chance de explorar seus próprios sentimentos e emoções à respeito da obra. 

PS: Será que vale incluir Culpa e Desejo na lista do Cinema de Buteco com os melhores filmes de romance de 2023?