O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica do filme Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros das Serpentes possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
A FRANQUIA JOGOS VORAZES ESTÁ DE VOLTA e mostra ser capaz de sobreviver muito bem sem a sua protagonista Jennifer Lawrence. Em Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (The Hunger Games: The Ballad of Songbirds & Snakes, Francis Lawrence, 2023) descobrimos o que acontece em um passado não tão distante dos eventos mostrados nas primeiras adaptações.
Para o público em geral pode surgir aquela pergunta: “mas era necessário mesmo ter um novo filme? O que é que muda nos outros?” E a verdade é que nunca é realmente necessário ver um novo filme ou adaptação. A gente vê porque deseja. Nesse caso, com o desejo, tudo pode ser “necessário”. Dito isso, conhecer o passado do vilão vivido por Donald Sutherland está longe de ser revolucionário, mas hey… entre isso ou Homem-Formiga 3, não tenho a menor dúvida do tipo de blockbuster a que prefiro assistir.
Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é certamente muito importante (e relevante) para os fãs da obra de Suzanne Collins, ansiosos por novidades desde 2015, ano em que a última parte de Jogos Vorazes estreou. Para essas pessoas, conhecer a origem do vilão é sempre um grande presente. De fato, são reveladoras as informações que acrescentam detalhes e camadas ao antagonista de Katniss Everdeen, mas não passam de curiosidades.
Contudo, mesmo sendo a repetição daquilo que a gente tanto questiona e reclama, se você deixar de lado a picuinha com o momento da indústria (o qual os fãs não tem tanta culpa assim), é bem possível se divertir bastante com a obra de Francis Lawrence, que se tornou o guardião das adaptações da obra de Collins. Aliás, também foi assim com David Yates em Harry Potter. O diretor assumiu as adaptações de J.K.Rowling a partir de A Ordem de Fênix e foi até o final.
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A narrativa se dedica a estabelecer o vilão Snow (Tom Blyth) como um jovem ambicioso que vive na linha tênue entre ser uma pessoa boa ou má. É como se sempre que as coisas caminham para o lado certo, ele é levado a cometer um ato capaz de questionar a sua essência. Parte disso, óbvio, se dá ao impacto do seu ambiente e das pessoas ao seu redor, como a maluca vivida por Viola Davis ou o ressentido criador dos Jogos Vorazes que ganha vida com Peter Dinklage. Ele tem em Lucy Gray (Rachel Zegler) a esperança de fugir de todo o sistema. Ela representa a sua redenção, mas como salvar uma alma já condenada e, inconscientemente, decidida?
Gosto especialmente do momento em que Tigris (Hunter Schafer) faz um comentário comparando Snow com o seu pai. Para ela, ambos são parecidos, exceto pelos olhos. O pai de Snow era um homem com um olhar consumido pelo ódio. Nos minutos finais do filme, quando Tigris e Snow se reencontram, ela repete a mesma frase, mas agora com um semblante triste, reconhecendo a transformação por qual passou o protagonista.
É sempre incrível quando assistimos a uma obra que retrata tão bem os momentos em que vivemos. A criação dos Jogos Vorazes é pensada como uma forma de entretenimento, punição, medo, sadismo e reflexo do nosso próprio comportamento. Queremos ter o prazer de ficar no conforto de uma posição de observador, enquanto outros sofrem. Há aqueles que tentam se rebelar, gritando o quanto é monstruoso fazer isso com as pessoas, mas a maioria simplesmente não se importa. Uma pena imaginar que mesmo entre os fãs, existe uma dificuldade em trazer a visão da ficção para a nossa realidade. Ou você acha que não existem bolsominions fãs de Jogos Vorazes?
Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é uma boa dica de entretenimento, principalmente para os fãs da franquia. Caso não seja o seu caso, não se preocupe. É dispensável ter visto os filmes anteriores e a narrativa funciona muito bem no desenvolvimento dos seus personagens.
PS: O filme não tem cenas pós-créditos.