O compositor e maestro Leonard Bernstein foi uma das figuras mais importantes da música clássica no século passado. Steven Spielberg decidiu refilmar Amor, Sublime Amor pois segundo ele, quando seu pai lhe presenteou com um disco da trilha sonora do filme (compota por Bernstein), ele se apaixonou imediatamente pelas canções. O compositor também é respeitosamente referenciado no ótimo Tár, sobre uma maestro fictícia que parece real. Infelizmente Bradley Cooper não conseguiu transmitir tamanha genialidade e sensibilidade através de seu novo filme.
O diretor e ator tinha uma tarefa difícil em suas mãos, afinal, ser protagonista do próprio filme não é para todo mundo, mas isso ele tira de letra, e já havia se provado no ótimo Nasce Uma Estrela. Em Maestro ele dá um passo ainda mais ambicioso, mas cinebiografias possuem seus desafios particulares, entre eles, escolher qual será o foco central da trama, dentre os inúmeros fatos da vida do personagem e das inúmeras características que um ser humano pode ter. E é aí onde reside o principal problema do filme, Bradley Cooper parece escolher algumas delas, mas não se aprofunda em nenhuma.
Bernstein era um homem bissexual, e o foco está na relação com sua esposa Felicia Montealegre (Carey Mulligan), no entanto o filme parece se perder na perspectiva, em sua maior parte o maestro é retratado compartilhando momentos em família, ele é pai três filhos, e apenas um desses filhos possui falas (tarefa que ficou para Maya Hawke, que faz o que pode com a personagem). Em alguns momentos Bernstein é retratado como um libertino que se entrega aos amores que passam por sua vida, mas assim como os filhos, os atores que interpretam os amantes quase não possuem falas. O mesmo acontece com a música, apesar de conter alguns momentos musicais extremamente bem realizados (destaque para a sequência em que Bradley Cooper canta e dança), em nenhum momento ouvimos a clássica trilha de West Side Story.
Esteticamente o filme é lindo, a fotografia de Matthew Libatique é deslumbrante (não entendi a mudança de preto e branco para colorido, mas tudo bem), e o trabalho de maquiagem é perfeito e fundamental para a trama, que acompanha o envelhecimento de seus personagens. Além disso, algumas cenas são bastante impressionantes, como o último concerto por exemplo. Mas a impressão que tive, é que Maestro é um filme feito para ganhar prêmios, uma grande e bela embalagem que não carrega muita coisa dentro, e infelizmente essa também é a essência da interpretação dos protagonistas, típicas “atuações de Oscar”.
Como eu disse antes, cinebiografias não são fáceis, recentemente escrevi sobre Priscilla, onde senti que faltou euforia para contar a história daquela adolescente que namorou e se casou com Elvis Presley, que ironicamente é o oposto de Maestro, que tem em excesso.
A crítica de Maestro faz parte da nossa cobertura especial da 47a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo